O problema dos bilionários no espaço / É possível ganhar dinheiro só usando TikTok e Kwai?

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No programa de hoje, Jacqueline Lafloufa e Rodrigo Ghedin falam da corrida espacial dos bilionários. Nesta semana, Jeff Bezos, homem mais rico do mundo e fundador da Amazon, subiu à Linha de Kárman a bordo de seu foguete fálico e deixou os outros seres humanos, na Terra, em polvorosa. Ghedin questionou o saldo dessas viagens e se viu alvo de ataques de trolls ignorantes no Twitter (clique por sua conta e risco). Este bloco é parcialmente baseado em alguns “debates” que rolaram ali.

No segundo bloco, o assunto foi TikTok e Kwai, duas redes chinesas de vídeos curtos que, nos últimos meses, tem literalmente comprado novos usuários: elas prometem dinheiro de verdade para quem entra, convida amigos e desempenha “tarefas”, do tipo passar horas consumindo vídeos. Só que a promessa é maior que o resultado de fato, e parece que, no fim das contas, as pessoas investem tempo e esforço a troco de uma mixaria. Este papo foi pautado por duas matérias: do Núcleo Jornalismo e do Canaltech.

Nas indicações culturais, Ghedin indicou o livro Armas, germes e aço [Amazon, Magalu, editora]1, de Jared Diamond, publicado no Brasil pela editora Record, e Jacque, a série Atypical [Netflix], de Robia Rashid.

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Qual o problema em comprar na Amazon?.

Um leitor perguntou porque o Manual do Usuário dissuade seus leitores de comprarem na Amazon. Ótima pergunta para este Prime Day, a “Black Friday” exclusiva da Amazon.

Em resumo, é porque a Amazon é uma empresa monopolista que usa de táticas questionáveis e desleais para vender mais barato. Há algum tempo atrás, a Editora Elefante publicou um relato ilustrativo do poder de destruição da empresa de Jeff Bezos.

Nos Estados Unidos, seu país de origem, a Amazon está sendo investigada por monopólio em Washington D.C. Segundo o procurador-geral responsável pela denúncia, Karl Racine, a Amazon abusa do seu poder para elevar os preços em todo o mercado, impedindo fornecedores e rivais de cobrarem menos, e instrumentaliza o Prime para parecer que é (e ser!) mais barata que outras varejistas online. “O Prime, em outras palavras, é basicamente um esquema de lavagem de dinheiro”, diz Matt Stoller em sua didática explicação do caso.

Por fim, mas não menos importante, a Amazon fez a pessoa mais rica do planeta. Neste momento, segundo a revista Forbes, a fortuna de Jeff Bezos é avaliada em US$ 200,5 bilhões, ou pouco mais de R$ 1 trilhão. Não há justificativa no universo para tamanha concentração de riqueza e sobram motivos para contestar esse desvirtuamento e os efeitos nefastos que ele causa ao restante da humanidade.

Regra geral, sou contra bilionários e seus negócios. Nem sempre dá para escapar do que eles oferecem, como os descontos do Prime Day. Tudo bem se quiser aproveitá-los — não se culpe por isso, estamos em crise, o dinheiro está curto e há problemas mais imediatos que boicotar uma big tech. Por outro lado, sempre que for possível, dê preferência a negócios locais, pequenos e independentes. É isso o que defendemos aqui.

Jeff Bezos vai ao espaço

Jeff Bezos, fundador da Amazon, vai ao espaço a bordo da nave New Shepard da sua empresa, a Blue Origin, em 20 de julho próximo. Seu irmão, Mark, também vai, e o ganhador de um leilão para a terceira vaga — no momento, o lance mais alto é de US$ 2,8 milhões. Bezos deixará a presidência executiva da Amazon dias antes, em 5 de julho. Típico bilionário recém-aposentado. Via @jeffbezos/Instagram (em inglês), The Independent (em inglês).

A internet de hoje não foi feita para conversar

Nas últimas décadas, houve um movimento de trocar cartas com pessoas aleatórias no mundo. Muito antes de existir o PayPal, a plataforma de pagamento, existia o penpal (“amigo de caneta”, em tradução livre). Alguém fazia a intermediação (escolas de inglês, por exemplo) e você saía escrevendo e recebendo cartas de um sujeito em outro país, talvez do outro lado do mundo. Era uma forma ótima de treinar o inglês (por isso as escolas de inglês entravam na jogada). Eu tive uma penpal italiana chamada Anna. Troquei três cartas com ela até que um dia o diálogo terminou, mas a lembrança continua forte.

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Desculpe, Cora Rónai, mas você está errada quanto à privacidade na internet

Em sua coluna no jornal O Globo da última segunda-feira (11), Cora Rónai escreveu que “não há privacidade onde existe internet”. A declaração é problemática, pois uma falácia. Para muita gente — no Brasil, em 2015 já era mais da metade da população —, a internet está em todos os lugares. Se a lógica do texto valesse, não teríamos privacidade em lugar algum. E se não houvesse privacidade, estaríamos tacando pedras uns nos outros e fazendo valer, nas ruas, a Lei de Talião. Ou seja, a sociedade já teria colapsado.

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O homem mais rico do mundo e os dois pesos da privacidade

Em 14 de junho de 2011, a capa do jornal Folha de S.Paulo estampava uma série de quatro fotos tiradas na Cracolândia, quando as gestões recentes da Prefeitura ainda não tinham resolvido definitivamente o problema (essa frase contém ironia e, se você não entendeu, sugiro ler jornal). Nelas, um homem de meia idade, cabeça cheia de cabelos brancos e terno e gravata passeia pela região, no centro de São Paulo, compra uma pedra, fuma no cachimbo e vai embora. Embaixo das fotos, a legenda lia: “O gravata da Cracolândia”.

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