Telegram entrega dados de usuários à Justiça da Índia. E a privacidade?.

Defender a privacidade dos usuários é uma posição que vai além do discurso. É estrutural. Vide este caso do Telegram na Índia, onde o aplicativo entregou à Justiça os dados de administradores de canais suspeitos de pirataria — nomes, números de telefone e endereços IP. O processo foi movido por uma professora, Neetu Singh, que teve seus materiais de estudo, que ela vende, pirateados e revendidos em canais do Telegram.

O caso ilustra bem desafios e falhas de privacidade no modelo do Telegram, algo que Pavel Durov, CEO do Telegram, costuma ignorar quando argumenta que o Telegram seria o aplicativo de mensagens mais privado do mercado.

Quando a Justiça de um país faz uma demanda, a empresa detentora do aplicativo não pode se negar a cumprir a ordem. A única saída que ela tem para não atender à exigência é não possuir os dados pedidos.

Que é o que o Signal faz. Em duas ocasiões, a Justiça dos Estados Unidos solicitou dados de usuários do Signal. Em ambas, ficou sem porque o Signal não coleta dados dos usuários. Da última vez, em abril de 2021:

É impossível entregar dados a que nunca tivemos acesso. O Signal não tem acesso às suas mensagens; sua lista de conversas; seus grupos; seus contatos; suas figurinhas; seu nome ou avatar; nem mesmo aos GIFs que você pesquisa. Por isso, nossa resposta a essa intimação parecerá familiar. É o mesmo conjunto de “Informações da Conta e do Assinante” que entregamos em 2016 [no outro caso do tipo]: registro do dia e horário em formato Unix de quando cada conta foi criada e a data em que elas se conectaram pela última vez ao serviço do Signal.

Via TechCrunch (em inglês).

Você recebe muito spam no WhatsApp?.

A Rest of World publicou uma matéria detalhando a epidemia de spam no WhatsApp na Índia, maior mercado do aplicativo — são 550 milhões de usuários no país asiático. Usuários de lá relataram o recebimento de até dez mensagens não solicitadas por dia.

Fiquei intrigado. Já recebi/recebo mensagens do tipo — transacionais de empresas como Magazine Luiza e Mercado Livre e contatos não automatizados de funcionários de lojas e vendedores de planos de internet —, porém são raras. Sou sortudo ou é questão de tempo?

Ao que tudo indica, esse movimento na Índia está ligado à abertura da API na nuvem do WhatsApp e à necessidade da Meta de gerar mais receita com o WhatsApp, um aplicativo com bilhões de usuários e que, ao contrário dos outros do conglomerado, não veicula anúncios. E… bem, a Meta está ávida por dinheiro. Via Rest of World (em inglês).

Na Índia, WhatsApp ganha primeira loja integral dentro do app

A Meta anunciou nesta segunda (29) a primeira loja integral dentro do WhatsApp, lançada na Índia em parceria com a JioMart.

A loja está atrelada ao número de WhatsApp da JioMart. Após enviar um “Oi”, o usuário pode navegar pelo catálogo de produtos, colocar os desejados num carrinho de compras, indicar o endereço para entrega e fazer o pagamento — tudo isso sem sair do WhatsApp. Veja o vídeo acima.

Parece mais um (grande) passo para posicionar o WhatsApp como “super app”, ou como o “WeChat do resto do mundo”. Para acompanhar com atenção. Via Meta, @zuck/Facebook (ambos em inglês)

Google suspende sucessor do SMS na Índia por excesso de spam.

Há anos o Google e as operadoras tentam emplacar o RCS, sucessor do SMS com recursos ricos, como grupos, multimídia e criptografia de ponta a ponta.

Na última Google I/O, o Google deu um puxão de orelha na Apple, que se recusa a adotar o RCS, e se gabou de já ter 500 milhões de pessoas usando o RCS no Android.

Esse alcance sofreu um abalo. Na Índia, o Google teve que desativar temporariamente o RCS devido à onda de spam por mensagens, liderada por grandes bancos e financeiras do país.

Em nota ao TechCrunch, o Google reconheceu que “algumas empresas estão infringindo as nossas políticas antispam para enviar mensagens promocionais a usuários na Índia” e que “trabalha com a indústria para melhorar a experiência dos usuários”. Via TechCrunch (em inglês).

WhatsApp vai à Justiça na Índia contra lei que obriga a quebra da criptografia.

Países processando a big tech é algo corriqueiro, mas o contrário não é todo dia que acontece. Na Índia, o WhatsApp foi à suprema corte para pedir que uma nova lei seja declarada inconstitucional. A lei exige que aplicativos identifiquem os remetentes de mensagens relacionadas a crimes a pedido das autoridades. Para cumpri-la, seria preciso quebrar a criptografia de ponta a ponta do aplicativo. Via Reuters (em inglês).

O WhatsApp está certo nessa. Não se abre exceção em criptografia — se sim, deixa de ser criptografia. Imagine algo assim no Brasil de 2021, cujo governo persegue colunistas de jornais e, no caso de um deles, parentes recebem ligações anônimas (!) “sugerindo” um pedido de desculpas público.

Na Índia, o governo de Narendra Modi está em choque com a big tech. Dias atrás, a polícia fez uma batida no escritório local do Twitter depois que a rede social rotulou posts do porta-voz do partido governista como “mídia manipulada”. Via Gizmodo Brasil.

Argentina e Índia suspendem efeitos da nova política de privacidade do WhatsApp.

Mais países se manifestaram contra a nova política de privacidade do WhatsApp. Na segunda (17), a Argentina ordenou que o Facebook suspendesse as mudanças em seu app a fim de evitar “uma situação de abuso de posição dominante”. A suspensão durará por pelo menos seis meses. Via Folha de S.Paulo, Argentina.gob.ar (em espanhol).

Na terça (18), a Índia deu ao Facebook/WhatsApp sete dias para apresentar uma resposta “satisfatória” a respeito das mudanças na política de privacidade, e ameaçou tomar medidas legais caso a demanda não seja atendida. Lá, pesa muito o fato de que os novos termos não serão aplicados na União Europeia.

A Índia é o maior mercado do WhatsApp, com 450 milhões de usuários, e tem um histórico de medidas drásticas — em junho de 2020, o país baniu dezenas de aplicativos chineses, incluindo alguns muito populares como TikTok e WeChat. Via TechCrunch (em inglês).

No Brasil, vale lembrar, os efeitos do não aceite da nova política de privacidade do WhatsApp foram suspensos por 90 dias a pedido do Cade, Ministério Público Federal e Senacon.

Oyo demite e praticamente fecha as portas no Brasil.

A Oyo, startup indiana do setor de hotelaria, praticamente extinguiu sua operação latino-americana, que contemplava Brasil e México. Sobrará uma estrutura jurídica e de recursos humanos mínima, e o gerenciamento das duas operações do bloco passa a ser feito direto da Índia. A Oyo levantou US$ 3,2 bilhões em 17 rodadas de investimentos; boa parte desse dinheiro veio do SoftBank. A pandemia de COVID-19 é citada como principal causa, mas especula-se que o fracasso do IPO do WeWork tenha feito o SoftBank rever algumas práticas das suas startups investidas. Via Neofeed.

O que já sabemos sobre o Android Go

Nota do editor: Cesar Cardoso toca o Pinguins Móveis por e-mail, uma newsletter semanal que acompanha as idas e vindas do Linux e alguns derivados, como o o Android, em eletrônicos de consumo. Em uma edição recente, ele fez um ótimo “perguntas e respostas” do Android Go, a versão mais leve do Android destinada a mercados emergentes. Leia-o abaixo e não deixe de assinar (gratuitamente!) a newsletter do Cesar. Continue lendo “O que já sabemos sobre o Android Go”

Google usa inteligência artificial para combater mensagens de “bom dia” do WhatsApp.

Há muitas similaridades entre Brasil e Índia quando o assunto são hábitos em tecnologia. Um deles é a preferência pelo WhatsApp. Outra, o modo de uso do app.

Segundo o Wall Street Journal, o Google desenvolveu um algoritmo com base em inteligência artificial e um grande banco de imagens para usar no app Files Go a fim de detectar e apagar automaticamente as famosas mensagens de “bom dia”. Segundo a empresa, elas contribuem para a escassez de espaço nas memória dos celulares indianos.

Em entrevista ao jornal, Josh Woodward, gerente de produtos do Google, disse que “Tentamos desconstruir o que é o DNA de uma boa mensagem de ‘bom dia’ por meses. Deu muito trabalho para acertarmos”.

Uma pesquisa da Western Digital apontou que cerca de 33% dos smartphones em uso na Índia ficam sem espaço de memória diariamente. Nos Estados Unidos, esse percentual cai para 10%. Na Índia, smartphones com 8 GB de memória — consequentemente, muito baratos — são muito populares, o que motivou o Google a investir na criação de uma variante adaptada a hardware fraco do Android, chamada Android Go, e uma suíte de apps “Go”, mais leves e com menos recursos.

O Files Go está disponível no Brasil também. Para dicas de como lidar com a falta de memória no smartphone, dê uma lida nesta matéria.

Notícia atualizada em 5/2/2019 com um link patrocinado do EmotionCard.

Em defesa da neutralidade da rede, Índia bane Free Basics do Facebook. O que fará o Brasil?

O Facebook sofreu uma grande derrota política e com implicações potencialmente sérias para seu crescimento na Índia. A Autoridade Reguladora de Telecomunicações da Índia (TRAI, na sigla em inglês), publicou ontem (8/2) regras que proíbem os provedores de Internet do país de cobrarem preços diferentes para o acesso a sites e serviços no país. Em outras palavras, a Índia garantiu a neutralidade da rede, barrando a grande investida do Facebook por lá através do programa Free Basics, parte da iniciativa Internet.org. Continue lendo “Em defesa da neutralidade da rede, Índia bane Free Basics do Facebook. O que fará o Brasil?”

Na Índia, usuários do YouTube poderão baixar e rodar vídeos offline

Em meio aos anúncios do Android One, um em especial chamou a atenção: a versão especial (ou no mínimo diferente) do YouTube que será lançada lá, capaz de baixar e rodar vídeos offline.

Ainda não está claro como isso funcionará na prática, mas pelos relatos de BBC e Android Central, será preciso assistir ao vídeo uma vez para baixá-lo e, depois disso, sob demanda, deixá-lo salvo na memória do smartphone. Ao Android Central, Ceasar Sengupta, executivo do Android, disse:

O YouTube é popular aqui [na Índia]. Você vê alguns vídeos várias vezes. Não será incrível se você pudesse continuar vendo eles sem ter que pagar pelo tráfego de dados, e levar os vídeos aonde você for? Nas próximas semanas, boa parte do YouTube estará disponível offline na Índia. Isso é importante, e nossos usuário ficarão muito satisfeitos. Você pode baixar o vídeo uma vez, salvá-lo em seu smartphone e revê-lo quantas vezes quiser.

A justificativa para essa permissão é a instabilidade no fornecimento de banda larga móvel. E… bom, não é só a Índia que tem esse problema, se é que você me entende.

O Google é bem rígido com o ato de baixar vídeos do YouTube. Quando a Microsoft lançou um cliente completo do YouTube para Windows Phone, recebeu uma intimada do Google para removê-lo da loja de apps devido a, entre outras coisas, a capacidade de baixar videos. Os termos de uso do YouTube são bem claros nesse sentido (grifo meu):

O Conteúdo é oferecido a Você NO ESTADO EM QUE SE ENCONTRA. Você pode acessar o Conteúdo para sua informação e uso pessoal exclusivamente dentro da funcionalidade fornecida pelo Serviço e, conforme permitido nestes Termos de Serviço. Você não poderá baixar qualquer conteúdo, a menos que você veja um “download” ou por um link similar exibido pelo YouTube no Serviço para esse Conteúdo.

Ou seja, download do YouTube, só com a bênção do Google — ainda que isso não impeça a proliferação de apps e mecanismos de download, como o TubeMate.

A capacidade de baixar vídeos do YouTube seria algo muito bem-vindo no Brasil. O tanto de vídeos que são mostrados e compartilhados via WhatsApp dá uma boa dimensão de como gostamos desse formato que, em geral, é incompatível com as condições estruturais e financeiras da maioria da população que usa conexões móveis. Quem sabe no futuro?

Atualização (8h40): pelo Twitter, o Rafa lembrou deste post no blog oficial do YouTube. Nele, o Google promete para novembro (do ano passado!) um recurso que permitiria aos usuários baixar vídeos para consumo offline. Esse download não seria eterno, o post fala em “um curto período”, mas já quebraria um galhão durante viagens curtas ou na ida/volta do trabalho. Não parece ser o mesmo caso de uso anunciado na Índia, mas aumenta as esperanças de que algo assim seja lançado globalmente.

Com o Android One, Google quer levar os smartphones a toda a humanidade

Na madrugada de domingo para segunda, o Google revelou mais detalhes da iniciativa Android One, na Índia. O projeto para levar smartphones ao resto da humanidade, embora não alcance os menores valores do mercado, parece bem fechado e promissor.

Funciona assim: o Google testa, certifica e em alguns casos até subsidia componentes de qualidade para a construção de um smartphone e oferece esse “menu” a fabricantes locais — no caso da Índia, país de estreia do programa, Micromax, Karbonn e Spice. Essas montam os aparelhos e se comprometem a não estragar a experiência Android com skins e software extra. O Google ainda se responsabiliza por manter o software atualizado e, através de acordos com operadoras locais, a garantir tráfego livre para atualizações do sistema e download de apps da Play Store (até 200 MB/mês, durante seis meses). Continue lendo “Com o Android One, Google quer levar os smartphones a toda a humanidade”