Este episódio é uma continuação do episódio anterior e o prelúdio para o próximo episódio.
Continue lendo “O papel da big tech nas eleições brasileiras de 2022, parte 2”
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Começou, nos Estados Unidos, o julgamento antitruste mais importante desde o da Microsoft, no final dos anos 1990.
O Departamento de Justiça (DoJ) acusa o Google de práticas abusivas para estabelecer e manter o monopólio do seu buscador web. (Um bom resumo no The Verge, em inglês.) O julgamento deve durar 10 semanas.
O foco do DoJ está nos acordos que o Google mantém, desde pelo menos 2010, com empresas como Apple, Mozilla e fabricantes de celulares Android, a fim de garantir que seu buscador seja a opção padrão em navegadores web.
É um caso difícil. A lei antitruste norte-americana prioriza o não prejuízo ao consumidor, em especial o financeiro. E o Google é, para esse público, gratuito.
Além disso, em pendengas recentes que chegaram aos tribunais norte-americanos envolvendo big techs, como o caso Apple vs. Epic Games (de Fortnite) e a compra da Activision Blizzard pela Microsoft, as grandes saíram vitoriosas.
Ainda que não dê em nada, o caso importa por colocar o Google sob os holofotes e na defensiva, o que ajuda a desnudar detalhes suculentos de como a empresa age de má-fé.
O DoJ trouxe conversas internas do Google em que executivos orientam e são orientados a evitarem termos que sugiram o monopólio nas buscas online. Em outra conversa, foi solicitado que o histórico de mensagens fosse desativado para tratarem do assunto.
Atitudes normais de negócios, nada suspeito… né.
Por coincidência, o Wall Street Journal divulgou, na mesma semana em que teve início o julgamento do Google, documentos internos da ExxonMobil, a petroleira norte-americana que descobriu e negou, por décadas, a emergência climática decorrente, em grande parte, da queima de combustíveis fósseis.
Neles, Rex Tillerson, ex-CEO que em 2006 que reconheceu o papel da empresa e das petroleiras no aquecimento, parece outra pessoa, muito diferente da sua persona pública. Ele conspira para desacreditar e atrasar pesquisas contrárias aos interesses da Exxon.
E ainda tem gente que acha que corrupção é uma mazela exclusiva do setor público…
A empresa de publicidade Google começou a liberar um novo método de monitoramento/espionagem dos usuários do seu navegador, o Chrome.
Ao abrir a última versão do Chrome, os usuários serão, em algum momento, impactados por uma mensagem intitulada “Ative um recurso de privacidade de anúncios” (veja o print, em inglês, no Ars Technica).
O Google diz que está “lançando novos recursos de privacidade que lhe dão mais escolhas para os anúncios que você vê”. Na prática, o Google está incorporando, direto no navegador (Chrome), um sistema de espionagem massiva dos usuários.
Na novilíngua do Google, a violação da sua privacidade não é uma escolha. O que está em jogo é o modo como você deseja ceder todos os dados possíveis para segmentar anúncios.
Essa falsa escolha é uma resposta desesperada de um Google acuado pela concorrência.
Desde 2020, outros navegadores, como Safari da Apple e Firefox da Mozilla, baniram os cookies de terceiros, método preferido há anos por empresas de publicidade — como o Google — para espionar as pessoas para fins publicitários.
O Google, a fim de manter seu verniz de “privacidade”, prometeu que também aposentaria os cookies de terceiros, mas só fará isso depois que estabelecer outro método eficaz de espionagem.
Já tentou duas vezes, com o FLoC e a API de tópicos. Ambas fracassaram por falta de apoio — exceto anunciantes e empresas de publicidade, ninguém achou boa ideia. Por isso, a aposentadoria dos cookies de terceiros no Chrome já foi adiada incontáveis vezes.
O novo “recurso de privacidade” do Chrome é a mais nova tentativa do Google de impor um sistema alternativo de vigilância corporativa. Sem surpresa, somente o Chrome pretendo adotá-lo entre os principais navegadores – o único de uma empresa de publicidade.
Por ora, é possível ignorar essa nova investida. Em algum momento, não será mais. A melhor maneira de evitar os avanços do Google na deterioração da privacidade online é não usando o Chrome. Existem alternativas.
No final de agosto, o Google organizou o Cloud Next, uma conferência para clientes corporativos. Lá, lançou (mais) alguns recursos de inteligência artificial, dessa vez voltados ao trabalho.
Um deles é o Duet AI, uma espécie de assistente para o Google Meet.
O Duet toma notas em tempo real da reunião em curso e faz resumos para atualizar quem chega atrasado. Mais que isso: ele pode “participar” de uma reunião em seu nome. Um botão no Google Agenda, ao ser clicado, manda o robô no seu lugar.
Dá até para dar instruções à IA do que você gostaria de debater nessa reunião que… sabe como é… emergência aqui… foi mal, não posso ir… e ela passará seu recado aos colegas.
A primeira coisa que me ocorreu foi um cenário em que todos os participantes de uma reunião (que provavelmente poderia ter sido um e-mail) enviam seus robôs para participarem.
O Google também. Se isso acontecer, o Google Meet detecta a presença unânime de seres etéreos (ou a falta de gente de carne e osso) e encerra a chamada, poupando o mundo de mais uma reunião.
Bom demais, não? Ou não? Pensando melhor, o mais provável de acontecer é o chefe marcar a reunião para sexta-feira, às 17h, exigir a presença personalíssima de todos os ~colaboradores, mas mandar seu robô Duet AI. “Resolvam esse pepinão aí e depois a IA me atualiza”, dirá ele, com outros termos, por seu emissário virtual.
Talvez o Duet possa ajudar a modular o tom da mensagem do chefe: “Precisamos entregar esse job ainda hoje para bater o target do mês. Meu digital assistant vai dar um help.” Bem melhor!
Viver no futuro é uma droga.
O acordo entre pessoas e empresas da chamada web 2.0 já não era dos melhores: em troca de espaço para publicar na internet, conexão e alcance, cedemos nossos dados mais íntimos para que elas lucrassem horrores direcionado anúncios invasivos.
A explosão da inteligência artificial gerativa, liberada pela OpenAI e seu grande sugador de dados da internet, piorou os termos para o nosso lado.
De maneira unilateral, as big techs que veiculam conteúdo gerado pelos usuários alteraram seus termos de uso, garantido a elas o direito de usar os nossos dados para treinar IAs.
Google, Meta e, em breve, X (antigo Twitter). Não houve grandes anúncios nem nada do tipo. Coube à imprensa e aos ativistas pró-privacidade jogar luz nessas alterações faustianas.
A Meta disponibilizou um formulário que (supostamente) permite às pessoas excluírem dados pessoais de fontes/conjuntos de terceiros obtidas ou comprados pela empresa para treinar IAs.
Note a engenhosidade do texto: em momento algum a Meta diz que os dados em suas plataformas abertas (Facebook e Instagram) estão no pacote. Você usa Facebook? Instagram? Parabéns, você está treinando as IAs da Meta.
Esse “trabalho forçado” invisível não é novidade. Há mais de uma década, o Google treina seus algoritmos de computação visual com CAPTCHAs — aqueles desafios que nos pedem para identificar pontes, faixas de pedestres e carros em pequenas imagens borradas.
Quando muito, essas empresas pagam uma mixaria a trabalhadores precarizados em países do Sul Global.
A diferença desta nova fase de exploração generalizada com a IA gerativa, é a (falta de) transparência, abrangência e escala.
Até então, as big techs “apenas“ lucravam com os nossos dados. Agora elas querem mais que isso; querem nos usar para criar novos produtos que, depois, pagaremos para usar.
SEO, o conjunto de técnicas de otimização para sites aparecerem melhor nos resultados de busca do Google, é uma espécie de religião de marqueteiros e tecnocratas.
O deus Google escreve suas linhas tortas, com dicas etéreas ou banais e orientações turvas, que são interpretadas pelos pastores — os ditos “especialistas em SEO” — e aplicadas nos sites dos fiéis, na esperança de que isso se reverta em bênçãos na forma de bons posicionamentos nos índices do buscador.
É um exercício de fé, porque ninguém consegue apontar, com rigor metodológico, a relação de causa e efeito entre SEO e resultados.
Os que creem seguem os preceitos religiosos do Google e apenas acreditam. Se funcionarem, é a prova definitiva de que SEO existe. Se não, o problema é comigo, que escrevi 490 palavras em vez de 500 e repeti a palavra-chave quatro vezes em vez de cinco; que não acreditei o bastante.
O paralelo ficou ainda mais forte na última quarta (9), quando o Gizmodo obteve um comunicado interno da Cnet em que a direção avisava os funcionários que estava apagando milhares de posts antigos para “melhorar o SEO”. A notícia foi confirmada à publicação por um diretor de marketing da Cnet.
Agora, deus Google passou a exigir sacrifícios como condição para despejar sua bondade sobre sites caça-cliques.
A lógica, segundo o comunicado interno, é de que excluir conteúdo antigo que não gera tráfego “envia um sinal ao Google que diz que a Cnet é atual, relevante e digna de ser posicionada acima dos nossos concorrentes nos resultados de pesquisa”.
Nas redes, o Google refutou a estratégia. O que não quer dizer muita coisa, porque o Google não revela o algoritmo de rankeamento do seu buscador e, suspeita-se, sequer o entende por completo. Por isso, não dá para descartar que, mesmo que o Google desaconselhe a prática, sob condições específicas ela possa surtir resultado positivo.
A Cnet, importante lembrar, foi flagrada no início de 2023 publicando textos escritos pelo ChatGPT com erros crassos, apenas para atrair incautos no Google dispostos a clicar em lucrativos anúncios de empréstimos financeiros e cartões de crédito.
A priorização do SEO é o famigerado rabo que abana o cachorro. Mirar boas posições no buscador do Google não deveria, em hipótese alguma, se sobrepor a decisões editoriais, quiçá justificar a destruição do arquivo de publicações (que se dizem) jornalísticas.
No entanto, é o acontece quando a teocracia do SEO, liderada pelo Google, toma de assalto a web. Fundamentalismo tecnológico, robôs acima de seres humanos, pessoas reduzidas a cliques em anúncios.
Quatro funcionários do Google publicaram o rascunho de uma proposta do Web Environment Integrity (WEI), uma nova API para atestar a aplicações web que é um ser humano interagindo do outro lado da tela.
Parece ótimo — afinal, robôs, fraudadores e adulterações em software são problemas reais —, mas como tudo que vem do Google, o diabo está nos detalhes.
A Senacon, ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, deu 24 horas para Google e Meta removerem anúncios identificados de golpes relacionados ao Desenrola Brasil de suas plataformas, e 48 horas para removerem todos os conteúdos e anúncios do tipo, sob pena de multa de R$ 150 mil por dia em caso de descumprimento. O despacho foi publicado no Diário Oficial da União desta quarta (26). Via Convergência Digital.
O Google vai adotar um padrão para mensagens criptografadas de ponta a ponta e interoperáveis no Google Messages e no Android. O Message Layer Security (MLS, especificação RFC 9420) foi finalizado neste mês de julho.
O Google arrisca ser visto lá na frente como um pioneiro: como não tem um app de mensagens popular, pode abraçar sem ressalvas a ideia; e com a força da União Europeia/Digital Markets Act, as chances do MLS vingar são bem maiores que as do RCS, que até hoje a Apple ignora mesmo diante de apelos públicos do Google. Via Google (em inglês).
Um escritório de advocacia da Califórnia, processou a OpenAI e o Google por infringirem direitos autorais e a privacidade no treinamento dos seus chatbots, ChatGPT e Bard.
Em outra ação, a comediante e escritora Sarah Silverman e outros escritores processaram a OpenAI e a Meta pelo mesmo motivo. Aqui, a alegação é de que as empresas usaram cópias piratas de seus livros, de repositórios como Z-Library e Biblotik, para treinarem os algoritmos do ChatGPT e LLaMA.
Com atraso, o Google liberou o Bard, seu chatbot de IA, no Brasil e nos países da União Europeia. Esse é o “ChatGPT do Google”.
O primeiro acesso é cheio de ressalvas, incluindo um pedido em destaque para não incluir “informações que possam identificar você ou outras pessoas” na conversa, e o pedido para não usar as respostas como orientação médica, jurídica ou financeira. Fiz um teste rápido e, surpresa: o Google Bard “recomenda conferir” o Manual do Usuário. Via Google.
Neste sábado (1º/7), completa-se dez anos do encerramento do Google Reader, o querido agregador de feeds RSS do Google.
Ainda hoje, não é difícil ouvir lamentações saudosas do Reader, quase como se, com ele, o Google tivesse acabado com o RSS e não houvesse serviços similares, na época e depois, capazes de suprir sua ausência.
Eu usava o Reader, lamentei seu fim, mas nunca entendi a dimensão da comoção.
O The Verge publicou uma boa matéria (em inglês) com falas dos criadores do Reader. Tem alguns dados suculentos ali, como o máximo de usuários que o serviço alcançou (30 milhões) e o desprezo que a direção da empresa manifestava pelo Reader.
O texto também me ajudou a entender melhor a saudade que ainda persiste, uma década depois. A parte social do Google Reader, parece, era muito importante. Eu seguia muitas pessoas e sempre conferia as recomendações delas. Era legal, mas não era o meu principal uso. Acho que, por isso, consegui me adaptar a alternativas que não tinham (e não têm) um componente social.
Na época, o Google ainda estava comprado no Google+, sua ambiciosa aposta para fazer frente ao Facebook. Foi um fracasso monumental. O Google Reader faleceu nessa época, de causas naturais. Quando puxaram o fio da tomada, ele já estava moribundo, em modo manutenção.
Os criadores do Reader acham, ainda hoje, que o serviço poderia ter tido um futuro brilhante com investimento e apoio da direção do Google. Talvez. Ou talvez essa parte social não estivesse mesmo no DNA da empresa e o domínio do Facebook, naquelas circunstâncias, era inevitável.
Ah, em tempo: quem assina o Manual tem direito a uma conta no Miniflux, um agregador de feeds RSS de código aberto e super elegante. Detalhes da assinatura aqui.
Primeiro a Meta e, agora, o Google, anunciaram que removerão links de publicações jornalísticas canadenses de seus produtos em resposta a uma lei recém-aprovada no país (inteiro teor) que exige que plataformas digitais paguem por links. Ainda que a demanda de fundo (garantir a sustentabilidade do jornalismo) seja legítima, o remédio é um veneno que vai matar o paciente. Ninguém deveria taxar links. É um dos elementos básicos da web. Via CBC, Google (ambos em inglês).
— Prabhakar Raghavan, vice-presidente sênior do Google.
A CNBC obteve o áudio de uma reunião interna do Google em que a empresa debateu o impacto da crise do Reddit na satisfação dos seus usuários. Raghavan lidera o buscador do Google.
Faz algum tempo que uma galera acrescenta “reddit” aos termos da pesquisa para ir direto às comunidades do Reddit, onde pessoas reais escrevem, evitando o oceano de chorume escrito para SEO que polui o Google. Agora imagine o estrago que IAs gerativas tipo ChatGPT causarão… Via CNBC (em inglês).
— Fabio Coelho, presidente do Google Brasil.
O comentário refere-se a iniciativas como o projeto de lei 2630/20, empacado no Congresso, em parte, por pressão de Google e Meta. O que significam “aparentemente boa” e “perversa” para o Google, porém, suspeito que Coelho não diria em público.
O executivo falou a jornalistas durante o Google for Brasil, evento anual da empresa para o mercado local, nesta terça (27). Lá, o Google anunciou um bocado de coisas, como um novo escritório para o Google Cloud em São Paulo e projetos em parceria com o governo e empresas privadas. Via Folha de S.Paulo [sem paywall], Google.