Swarm volta a ter prefeituras, como era no Foursquare.
Parecia um bom plano, o de dividir o Foursquare em dois. Mas aí tiraram as prefeituras do novo app para check-ins, o Swarm e… bem, o povo não gostou.
Embora o discurso oficial pós-racha seja de prosperidade e alguns números o sustente, o Foursquare ouviu as preces e trouxe de volta as prefeituras — porque o esquema novo-agora-antigo “não era muito divertido,” afinal.
As regras são simples: você será o Prefeito de um lugar se fez mais check-ins que todo mundo nos últimos 30 dias.
Apenas um check-in por dia é contabilizado para fins da disputa das prefeituras, e os do último mês já estão valendo para determinar quem é prefeito do quê. Eu, provavelmente de nada, já que desinstalei o Swarm tem um bom tempo. Mas agora, com prefeituras… Você dará uma nova chance ao app?
Na última terça-feira, em São Paulo, notificações do Swarm apareceram com mais frequência na tela do meu smartphone. Muitos contatos moram na cidade e, estando nas redondezas, o app espertamente passou a exibir as atividades deles.
Havia (ainda há) dúvidas sobre o Swarm, o app exclusivo para check-ins do Foursquare. Apesar de promissor e cheio de oportunidades para se encontrar cara a cara com seus amigos (é isso o que importa, certo?), a remoção das medalhas, prefeituras e sistema de pontos foi um banho de água fria nos usuários mais assíduos.
Parece, porém, que para um público maior o racha do app principal foi positivo. No anúncio das futuras novidades do Swarm, o blog oficial informou que “tem sido intenso [o trabalho] para acompanhar o crescimento (o Foursquare não teve tantos usuários por alguns anos)”. Novos stickers e mudanças sutis no funcionamento do app estão nos planos para o futuro próximo, junto com o app oficial para Windows Phone.
Imagem: Foursquare.
Quem também está na boca do forno é o renovado Foursquare. Com novo logo, visual reformulado e foco total na descoberta de lugares, o app tentará mais uma vez se livrar do estigma dos check-ins.
Para aqueles que viam o Foursquare apenas como um jogo e ignoravam todo o resto, vale a dica: dê uma olhada no banco de venues e nas dicas deixadas pelos usuários. É um conteúdo rico e mais organizado do que, por exemplo, o do Facebook — reparou como os locais do Instagram ficaram bagunçados recentemente? Migraram o banco de dados do Foursquare para o do Facebook.
O novo app é todo sobre esse eterno “lado B” da antiga experiência do Foursquare. Agora que não precisa mais abrigar toda a mecânica de check-ins e dividir as atenções, ele se dedicará a fornecer informações úteis, relevantes e, em conjunto com o Swarm, atualizadas: em tempo real, baseado no uso desse, o Foursquare poderá indicar quais locais ao redor estão bombando, criando um mapa vivo e vibrante do mundo. É uma combinação de fatores interessante e sem igual na indústria hoje.
É mais fácil alguém estar em busca de um restaurante bacana do que de jogar na cara dos amigos que foi a mais lugares, daí o interesse do Foursquare em promover seu lado Yelp, de transformar o “lado B” em hit. Além do público em potencial ser maior, paga-se bem por boa informação. A Microsoft despejou US$ 15 milhões para botar as mãos nas venues do Foursquare e, recentemente, os maiores usuários/parceiros do Foursquare, que somam menos de 1% do total, passaram a ser cobrados por esse acesso.
Casos de serviços que não estouram para o mainstream e, a despeito disso, continuam operando por tanto tempo não são muito comuns. O Foursquare surgiu no começo de 2009; no universo de apps e startups, cinco anos é uma era. A sorte é que ninguém, incluindo Facebook e Google (que tenta mais uma vez atropelá-lo), ainda conseguiu quebrar o código da geolocalização. A dupla Swarm + app principal renovado é a aposta mais alta já feita pelo Foursquare. Se não for agora, talvez não fosse para ser.
No começo do mês o Foursquare prometeu algo ousado: dividir seu app em dois. O original seria destinado a recomendar locais e dar dicas de estabelecimentos, uma parte que bem depois do lançamento do app se tornou prioridade para os desenvolvedores. Outro, inédito, receberia o que tornou o Foursquare conhecido, os check-ins e encontros com amigos. Ontem o Swarm, nome desse novo app, foi lançado, e outra divisão pode ser observada — desta vez, na recepção do público.
O Swarm está disponível para Android e iPhone, e é um trabalho bem feito, como tudo que tem saído do Foursquare nos últimos anos. Rápido, bonito, bem resolvido, ele pega todo o sistema de interação em tempo real do antigo e faz uma espécie de otimização seguindo dois princípios: 1) diminuir a fricção no uso do app; e 2) propiciar mais encontros em carne e osso entre seus usuários.
O e-mail de boas vindas do Swarm resume bem o que o que dá para fazer com o app. São três ações:
Quer se encontrar com amigos? Abra o app e veja quem está por perto.
Quer compartilhar o que está fazendo? O check-in nunca foi tão rápido e divertido.
Teve uma ideia de algo legal para fazer? Mande uma mensagem rapidamente para todos os seus amigos próximos.
Basicamente, é isso. Vejamos agora, pois, os pormenores dessa experiência e, principalmente, do que ficou de fora dela.
Adeus, check-in
Tela inicial.
A interface do Swarm se divide em quatro áreas. Na primeira, os amigos são listados de acordo com sua posição em relação ao smartphone. Há quatro raios, que vão de 150 metros até “a uma distância muito grande”, gente de outras cidades. De cara o Swarm dá uma visão geral de onde seus amigos estão, mesmo que eles não tenham feito check-in.
Nesse contexto, o check-in como conhecíamos no Foursquare se tornou secundário e, em certa medida, desnecessário. O app tem a tecnologia e os smartphones modernos, os recursos para que a localização dos usuários seja “adivinhada” com precisão. Na prática, não é preciso sequer tirar o smartphone do bolso para que seus amigos saibam onde você está; o app sabe e se atualiza, ininterruptamente, em tempo real. Ao The Verge, o CEO Dennis Crowley foi direto:
“Veja bem, a razão da empresa, essa coisa toda, nunca foi construir um botão de check-in incrível.”
O check-in é apenas mais um sinal entre os vários que formam e explicam a base de estabelecimentos (ou venues) do Foursquare. Na época, foi necessário ante a rudimentaridade dos smartphones e APIs dos sistemas móveis.
Nada impede que você toque no botão de check-in e faça-o manualmente no Swarm, como era no antigo Foursquare. Ele continua existindo e é uma boa para quando se deseja informar exatamente o local da festa.
Mas não precisa, de verdade.
Soa invasiva essa estratégia, mas calma. Um dos problemas do Foursquare é, paradoxalmente, uma das suas vantagens: há pouca gente usando o serviço. No Brasil, a estratégia da TIM com o TIM Beta deu uma força, ainda que a maior parte do povo que se cadastrou no Foursquare para ganhar pontos (ou seja lá o que se ganhava naquilo) não use o serviço regularmente e, pior, saia adicionando desconhecidos num ritmo alucinado e sem qualquer critério.
Este GIF ilustra bem.
De qualquer forma, essa restrição permite que se crie uma lista de amigos mais íntimos. Recusar um convite ou dar unfriend são atos menos solenes aqui, e nessa o perigo de ir a um bar e aquele cara que fazia bullying contigo na escola e te adicionou ano passado no Facebook aparecer do nada, diminui bastante. Lidar com essa multiplicidade de gente é um dos grandes desafios do Facebook que, aliás, recentemente liberou uma função parecida com o Swarm.
Além dessa vantagem (discutível, mas vá lá, ainda é uma vantagem), existe uma “chave geral” na barra do topo, o compartilhamento do bairro. Arrastando-a para a direita, ela fica laranja (ativada) ou cinza. É esse interruptor que denuncia sua posição. Se você estiver em um jantar a dois e não quiser ser importunado pelo seu amigo Stifler, basta desativar o Swarm e sua carinha sumirá do radar. Simples e eficiente.
Chamando os amigos para o rolê pelo Swarm
Das outras três áreas, duas são conhecidas: notificações e um listão em ordem cronológica inversa dos check-ins dos seus amigos. A terceira, chamada Planos pela vizinhança, é nova. E promissora.
O plano de John.
Ainda bastante precária, ela permite chamar a galera para fazer alguma coisa. É como um evento no Facebook, só que descomplicado. Na verdade, descomplicado demais: a brincadeira consiste em deixar uma frase explicando o que e onde será o encontro. Isso dá margem para usos inusitados, do tipo “vou comprar sapato na loja ‘X’, alguém me ajuda?”, ou triviais, como “vamos no bar?”. Quem topar, clica em um botão confirmando o interesse e pode deixar um comentário. Tudo bem “aberto”, como se fosse uma obra de arte na visão do Umberto Eco.
O Swarm ainda é “8 ou 80” nessa questão das amizades. Não dá para criar um plano e segmentar os convidados, todo mundo fica sabendo de tudo. E… bem, a gente sabe que na vida não é assim, que temos diversos círculos de amizades e que sermos o laço que os une não significa que todo mundo se dará bem com todo mundo.
Modificar esse comportamento acrescentaria camadas extras de complexidade, e no momento isso parece ir contra os anseios do Foursquare, em especial contra o intuito de diminuir a fricção no uso do serviço. Talvez mude no futuro, mas só vislumbro essa movimentação se o Swarm cair no gosto do público mais mainstream. Será só assim, também, que a função de planos terá alguma utilidade. No papel, pelo menos, reforço: ela é bem promissora.
Cadê minhas medalhas? E minhas prefeituras?
Não é de hoje que o Foursquare busca se desvencilhar do check-in e, modo geral, do aspecto de gamificação. Aspecto que, para alguns, é a melhor parte da brincadeira. Medalhas, pontos, competição, prefeituras incentivam o uso do app nesse meio.
Tudo isso sumiu no Swarm*. A digestão dessa novidade depende de como você encara o Foursquare. Para mim, não faz muita falta; para Rafael Silva, 26 anos, colunista de tecnologia da Oi FM, sim:
“Eu não curti muito não [o fim da gamificação]. Queria mais badges e continuar no ranking de pontos e tal. Isso me motivava mais a dar check-in, ter uma disputa com meus amigos para ver quem ficava no topo. Agora não tem mais, perdeu parte da graça pra mim.”
* As prefeituras, na verdade, continuam existindo. A diferença é que agora elas não são centralizadas e cada círculo de amigos terá uma. Explicações mais detalhadas aqui.
Conversei com o Rafa, usuário bastante ativo do Foursquare há um bom tempo, sobre o novo app Swarm. Além da insatisfação com o fim dos badges e prefeituras, ele também citou o comportamento estranho do Foursquare, atualizado um dia antes para “receber” o Swarm. Ainda se faz check-in por lá, mas sua sua interface foi bastante simplificada. Pelas declarações dadas ao The Verge, é uma situação temporária enquanto o reformulado Foursquare, com foco em recomendações e dicas, não chega.
Check-in tradicional.
Meia década depois do seu laçamento, o conceito do check-in não vingou. Pior: passou de necessidade a um estorvo. Ele só é popular entre o pessoal da tecnologia e comunicação. Junto ao público menos aberto à premissa do app, parte majoritária, é uma dinâmica que soa quase anormal. “Por que você fica falando pra todo mundo onde está?”, e “Nem chegou e já vai fazer check-in!?” são comentários que ouço com frequência. Dá para entender a cara de interrogação que as pessoas fazem.
Para ser popular e fazer dinheiro com isso, um app ou serviço precisa demonstrar valor e ter uma base generosa de usuários. Na estratégia do Foursquare, é mais fácil alcançar esse estágio com recomendações de locais e dicas do que com um joguinho simples e pouco estimulante. Qualquer um que já recorreu ao serviço para encontrar um restaurante maneiro em uma cidade estranha, ou até mesmo onde mora, sabe que essa parte funciona muito bem.
Sendo assim, por que não focar nela? Para conseguir esse foco era preciso tirar o botão de check-in do centro da experiência do Foursquare — ele intimida, respinga em toda a experiência de uso e acrescenta complexidade à toa. Rachar o app em dois foi, portanto, a saída eleita — e uma das mais espertas. Felipe Cepriano, 23 anos, analista de software na IBM, usa o Foursquare desde 2009, acumula mais de 2200 check-ins e também acha que a divisão em dois apps é uma boa:
“Por um lado eu acho meio chato, precisar de dois apps pra fazer algo
que antes ficava em um só. Mas não vejo muito como implementariam
recursos novos, como os Planos, sem poluir a interface do Foursquare.
Separando o lado social do lado “discovery”, fica mais fácil. E tem
muita gente que gosta de conhecer lugares mas fica intimidada pela
interface do Foursquare: Uma conta nova mostra só uma timeline vazia,
e pouco fala de lugares novos pra descobrir.”
O Swarm aproveita muito bem o poder dos smartphones modernos para brincar com ideias de context awareness: em vez de puxar o smartphone do bolso, ele chama a nossa atenção quando é conveniente ou necessário. É a premissa básica de sistemas super especializados, como relógios inteligentes, mas que se adequa bem em equipamentos mais mundanos, mais estabelecidos, como nossos smartphones.
Pena que, como quase tudo que é social na Internet, o bom proveito do Swarm dependa da adoção pelos nossos amigos. É nessas horas que a lamúria do Fabio, abaixo, se estende a todos que, pelo mesmo motivo ou outro, quase sempre vê bolas de feno rolando na tela de notificações do Foursquare/Swarm:
@ghedin Minha crítica negativa: NÃO MORO MAIS EM EM CIDADE GRANDE :(
Desde que surgiu para o mundo na SXSW de 2009 em Austin, EUA, o Foursquare busca ser mais do que uma curiosidade usada por círculos restritos mais ligados à tecnologia. Até hoje, não conseguiu. A última novidade do serviço para decolar junto ao público mainstream é, até agora, a mais radical também: dividir o app em dois.
Por que eles queriam nossos check-ins?
Imagem: Foursquare.
Dennis Crowley, CEO do Foursquare, vem tentando sem sucesso mudar a imagem do serviço que comanda. Muita gente o vê como um “jogo” de check-ins e medalhas, uma reminiscência das primeiras versões que há algum tempo deixou de ser prioridade. O Foursquare dos últimos meses, quiçá anos, é um app para descobrir novos lugares legais, um concorrente do Yelp. Ou pelo menos é isso o que ele quer ser.
Em 2009 o check-in e seus incentivos eram necessários pela (falta de) tecnologia. Os smartphones de 2014 são mais robustos, sabem sempre onde nós estamos, têm baterias mais duradouras. Foi graças a essa evolução que o Foursquare, após colher mais de 5 bilhões de check-ins, deixou de precisar tão desesperadamente deles. Com o projeto Pilgrim, consegue saber onde seus usuários estão sem que eles sequer abram o app e recomendar lugares legais e onde seus amigos estão no momento.
“Todas as coisas que fizéramos no Foursquare até esse ponto, como check-ins e tips, todas essas coisas foram projetadas para nos levar a esse ponto onde nós temos a quantidade certa de sinais e nos sentimos confiantes para mandar a mensagem certa a você no momento exato.”
Essa evolução explicada por Crowley, que culminou com as notificações proativas, não foram suficientes para mudar o estigma do Foursquare. Para a maioria, ele ainda só serve para fazer check-in nos lugares. Em breve, ele sequer fará isso.
Foursquare e Swarm
Imagem: Foursquare.
O novo Foursquare não terá a função de check-in. O app oferecerá apenas recomendações de lugares legais, um buscador local baseado em critérios mais objetivos e colaborativos em contraponto aos longos reviews individuais do Yelp, declarado maior concorrente, e outros do gênero. Ao The Verge, que publicou uma longa reportagem sobre a nova configuração do Foursquare, Noah Weiss, vice-presidente de gerenciamento de produtos do Foursquare, disse:
“Não queremos que você leia longas avaliações [de lugares]. Não queremos longas avaliações. O que temos são milhões de pessoas nos dizendo dezenas de milhões de vezes o que tem nesse lugar? Qual o clima desse ambiente? Como podemos mostrar isso a você de uma forma decidida de modo que você possa ver passando os olhos?”
Weiss também revelou que em apenas 5% das sessões com o app do Foursquare as pessoas desempenham as duas funções do app – fazer check-in e consultar recomendações. Tudo isso culminou na divisão. Em breve, a função de check-in para saber onde seus amigos estão no momento será de um novo app, o Swarm.
O Swarm não é só um pedaço separado do Foursquare e empacotado em uma nova embalagem. O app cria um “mapa de calor” dos seus amigos de acordo com o raio de distância onde eles se encontram: primeiro os da vizinhança, depois os da mesma cidade e por fim o resto. Ele informa a sua localização em tempo real, mais ou menos como o recém-anunciado Friends Nearby, do Facebook, mas ainda permite o check-in, caso alguém queira ser mais preciso na hora de informar aos amigos onde está. Crowley acredita que a sua oferta se sobrepõe à do Facebook por ser um app dedicado e por não ter todos os seus “amigos” na rede de contatos, um problema que se torna cada vez mais crítico para o Facebook. E ainda tem a falta de confiança no Facebook — muita gente torce o nariz para o site e evita ao máximo ceder informações a ele, especialmente a localização contínua em tempo real.
Foursquare's big break: from check-in app to Yelp killer
Pelos vídeos, o Swarm parece ser um app bem feito e estende a função agora eliminada do app principal, o check-in para saber onde seus amigos estão no momento. O Foursquare, uma máquina de recomendar bons lugares. Seus algoritmos são bem espertos, o processamento dos sinais para atribuir notas e recomendações é muito bom e ele, quando usado para esse fim de exploração, funciona. No papel, a divisão em dois apps faz sentido. A maior dificuldade, porém, não é técnica, mas de comunicação. E se nem mesmo uma medida tão extrema quanto essa não funcionar, é difícil imaginar o que pode ser feito para mudar a imagem do Foursquare.
Os novos apps serão lançados em breve. Interessados no Swarm podem deixar um e-mail no site oficial para serem avisados quando ele estiver disponível.