Sob Musk, Twitter/X virou uma rede social extremista.

X (antigo Twitter), a rede social de Elon Musk, processou o Center for Countering Digital Hate (CCDH), uma organização sem fins lucrativos que analisa e publica relatórios sobre discurso de ódio, extremismo e comportamento nocivo em redes sociais. A empresa alega que o grupo de pesquisadores viola seus termos de uso ao coletar dados para análise e, sem provas, de que são financiados por governos estrangeiros e empresas concorrentes da X.

Desde que Musk assumiu o controle do Twitter/X, o CCDH publicou vários relatórios apontando pioras em indicadores da rede, como o aumento do discurso de ódio anti-LGBT+ e do negacionismo climático.

Dado o histórico recente de Musk e a postura da X em relação a temas delicados — como restaurar a conta de alguém que compartilhou imagens de abuso sexual infantil —, acho que já é seguro colocar a X no mesmo balaio de outras redes extremistas, como Gab, Truth Social e Gettr. Via Associated Press (em inglês).

Obrigado, Elon, por trocar o nome do Twitter por X

Não é de hoje que o Twitter apodrece em praça pública, sabotado pelo próprio dono. A última grande ideia de Elon Musk foi jogar no lixo a marca “Twitter”, rebatizando o serviço de X. Sim, a letra X.

Fiquei incrédulo, como em muitas ocasiões desde outubro de 2022, ao saber disso. Hoje, gosto da mudança. Ela põe um fim à degradação agonizante do Twitter e ajuda a separar o legado de uma empresa imperfeita, mas que acertou bastante, do caos instaurado por Musk.

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Marca do Twitter será aposentada; Musk mudará o nome do serviço para X

Teorias da conspiração não costumam resistir aos fatos, por isso a ideia de que Elon Musk estaria destruindo intencionalmente o Twitter para livrar-se da dívida enorme que criou com a compra da empresa não me parece plausível.

A favor dessa postura está o fato de que não é a primeira vez que ele tenta emplacar um “app de tudo” chamado X — o novo nome do Twitter, já em processo de mudança com logo provisório em todo lugar e x.com redirecionando para o Twitter.

No final dos anos 1990, Musk tentou a mesma coisa com o PayPal. Na época, perdeu a disputa com um sócio. Walter Isaacson, que escreveu a biografia do bilionário que sai em setembro, compartilhou essa passagem no Twitter, digo, no X.

Hoje, a fortuna de Musk é maior e não há ninguém no Twitter (ou fora dele) capaz de tirar da cabeça que queimar a marca do Twitter, passarinho azul e tudo, é uma decisão estúpida. Via @lindayacc@twitter.com, @WalterIsaacson@twitter.com (ambos em inglês).

Elon Musk e a busca pelo conhecimento.

Sintomático que, ao anunciar a xAI, sua nova empresa de inteligência artificial, Elon Musk tenha dito que o objetivo dela é “entender a realidade”. Nada mais empreendedorismo Vale do Silício do que isso: criar soluções para resolver as próprias dores. Talvez não precisasse de uma IA para isso, mas cada um joga com o que tem. Via @elonmusk@twitter.com (em inglês).

Elon Musk anuncia tratamento de choque anti-vício de Twitter.

Elon Musk limitou a quantidade de posts que alguém pode ver no Twitter para combater a raspagem de dados da plataforma. Usuários não verificados (leia-se: não pagam a assinatura) podem ver 800 posts por dia. (Antes, o limite era 600.) Do ponto de vista do Twitter, é uma das decisões mais estúpidas que a direção poderia tomar — ver posts é a base de todo o negócio. Para os usuários, é uma boa notícia, meio que um tratamento de choque para reduzir o vício em um ambiente tóxico. Via @elonmusk/Twitter (2) (ambos em inglês).

Minha lição do Twitter e de Elon no Twitter é que [ele] está reafirmando que podemos construir um negócio muito bom neste espaço em nossa escala.

— Steve Huffman, CEO do Reddit.

E, de repente, tudo faz sentido. Via NBC News (em inglês).

Jimmy Wales explica a Elon Musk o que é defender a liberdade de expressão.

Às vésperas das eleições na Turquia, nesse domingo (14), o Twitter passou a censurar a oposição ao candidato à reeleição, Recep Tayyip Erdoğan, por determinação do governo turco.

O Twitter não resistiu, não recorreu, apenas cumpriu a determinação e seguiu a vida. Como todo valentão, quando alguém maior gritou com ele, enfiou o rabo entre as pernas e não fez nada.

O jornalista Matthew Yglesias questionou abertamente a decisão, uma contrariedade flagrante ao discurso do “absolutista da liberdade de expressão” Elon Musk. Musk mordeu a isca e tentou justificar-se:

Seu cérebro caiu da sua cabeça, Yglesias? A escolha é ter o Twitter limitado em sua totalidade ou limitar o acesso a alguns posts. Qual você deseja?

Jimmy Wales, da Wikipédia, deu a letra em resposta a Musk:

O que a Wikipédia fez: defendemos nossos princípios e lutamos até Suprema Corte da Turquia e ganhamos. É isso que significa tratar a liberdade de expressão como um princípio e não como um slogan.

Musk não respondeu.

Minha conta do Twitter diz que eu assinei o Twitter Blue. Eu não assinei. Minha conta do Twitter diz que eu cedi meu número de telefone. Eu não cedi.

— Stephen King, escritor.

Em uma rara promessa cumprida, nesta quinta (20) o Twitter de Elon Musk removeu os selos azuis de verificação legados, leia-se não atrelados à assinatura do Twitter Blue.

O escritor Stephen King, o jogador de basquete Lebron James e ator William Shatner continuaram com o selo mesmo sem serem assinantes do Twitter Blue. Segundo o The Verge, Musk está pagando pessoalmente para essas pessoas.

Não me recordo de uma deterioração de marca tão rápida e espetacular como a do selo azul do Twitter.

O que antes era motivo de certo orgulho, no mínimo um atestado de veracidade e/ou autoridade, virou uma marca radioativa que, no fim, cada vez mais ganha o status de sinalização de alpinistas sociais e picaretas em potencial. Algo de que pessoas legítimas, como King, querem distância.

Para gente como Musk, dinheiro é sinônimo de autoridade. Quando se deparam com coisas como o selo azul, cuja autoridade deriva exatamente do fato de que não podia ser comprado, se surpreendem. Por consequência, testemunhamos esse festival de pobreza de espírito e constrangimento. A decadência do Twitter segue firme e forte. Via @stephenking/Twitter, The Verge (ambos em inglês).

Twitter joga baixo contra Substack e coloca investidores em saia justa.

A última treta do Twitter é hilária porque Elon Musk conseguiu irritar uma galera que costuma ficar do seu lado, como a firma de capital de risco Andreessen Horowitz (a16z) e o jornalista Matt Taibbi, um dos que participaram daquele patético #TwitterFiles.

Na última quarta (5), o Substack anunciou o Notes, um clone do Twitter. Mais um, bem-vindo à guerra, quem se importa… né? Musk sim, pelo visto. No dia seguinte, o Twitter passou a impedir interações com posts mencionando o Substack e quebrou todos os links para lá com uma tela medonha, dizendo que o domínio do Substack poderia conter malware. Chegou-se ao cúmulo de interferir na pesquisa do Twitter, de modo que buscas por “substack” passaram a ser convertidas para “newsletter”.

Após a repercussão negativa, com muitos jornalistas e escritores ficando do lado do Substack (incluindo o nosso amigo Matt Taibbi), Musk veio a público e fez uma série de acusações infundadas: que o Substack estava baixando dados ilegalmente do Twitter para lançar o Notes (!?) e, por isso, os links passaram a ser vetados, e que Matt Taibbi seria/teria sido funcionário do Substack. Todas foram desmentidas por Chris Best, cofundador do Substack, no… Notes.

A a16z ainda não se manifestou. A firma é a maior investidora do Substack (participou de duas rodadas que totalizaram ~US$ 80 milhões) e financiou US$ 400 milhões na vaquinha que Musk teve que fazer para fechar a compra do Twitter. Sobrou também algumas farpas entre Musk e Paul Graham, da Y Combinator, primeira investidora do Substack (e que já teve seu perfil no Twitter suspenso por Musk por ter mencionado o Mastodon).

Em meio a todas essas brigas, fica a nossa torcida pela briga. Via The Verge, @mtaibbi/Twitter, @paulg/Twitter (todos em inglês).

Para aumentar receita, Twitter de Elon Musk vai restringir engajamento a contas pagas.

Incentivos são vitais em um contexto onde todos têm o poder de se manifestar livremente, como em uma rede social. Por isso é tão óbvio o erro da última peripécia de Elon Musk no Twitter: restringir a recomendação algorítmica na aba “For You” a quem paga o Twitter Blue (R$ 42/mês).

Aqueles posts engraçados, espontâneos, de gente comum que vez ou outra explode e gera engajamento? Esqueça. A barreira (assinatura) só será ultrapassada por quem tem algo a ganhar ali (ou seja, a quem o investimento se justifica).

No mínimo, a aba “For You” virará um shopping. É provável que também atraia golpistas, oportunistas e exibicionistas. É quase unânime a opinião de que, ao contrário do que prevê Musk, o Twitter não virará “a única plataforma confiável”, mas sim um lixão radioativo ainda pior do que já é.

A quem Musk quer enganar quando afirma que essa é “a única maneira realista de combater a tomada por exércitos de robôs de IA” quando, na real, trata-se de um ato extremo para estimular vendas do Twitter Blue?

Esse rei, que sempre esteve nu, está agora esfregando sua genitália na cara de todo mundo. É preciso um grande esforço para não ver (ou fingir que não vê). Via @elonmusk/Twitter (em inglês).

Bloqueie Elon Musk no Twitter.

Dia desses a newsletter Platformer publicou um relato brutal que resume a infantilidade de Elon Musk: ele teria demitido um engenheiro que não conseguiu encontrar uma justificativa “técnica” para a queda de alcance das bobagens que ele publica no Twitter.

Nesta segunda (13), uma falha notada pelo The Verge fez com que posts de Musk dominassem o feed algorítmico (a aba “For You”) de muitos usuários. Muito conveniente.

Mais tarde, soube pela newsletter Garbage Day que Musk se justificou dizendo que o algoritmo de recomendação estava considerando o total absoluto de bloqueios a perfis, em vez do relativo, e esse seria o motivo da queda de alcance de perfis com muitos seguidores (como o dele).

Quer dizer então que bloquear um perfil piora seu alcance? Munido desse conhecimento (obrigado, Musk!), fiz o que qualquer um deveria fazer: loguei nos meus perfis do Twitter que estavam hibernados, bloqueei Musk e desloguei. Via Garbage Day (em inglês).

O ano da implosão

Dois mil e vinte e dois não foi um ano bom para aquela sensação tecno-utópica que nos tomou nas últimas duas décadas. Quem defende a certeza quase religiosa de que tecnologia só serve para o bem teve que dar piruetas argumentativas dignas de Daiane dos Santos. Por outro lado, quem encara a questão com ceticismo — eu e toda a galera envolvida no Manual do Usuário — termina o ano com uma sensação de surpresa, de não esperar algumas implosões tão rápidas e definitivas como vistas em 2022.

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O último de 2022

No último Guia Prático do ano, eu e Jacqueline Lafloufa recebemos Guilherme Felitti para passarmos 2022 em revista e arriscarmos algumas previsões para 2023.

(Era para o programa ter sido gravado em vídeo, mas o Telegram nos deixou na mão e, na tentativa de fazer aquilo funcionar, acabei gravando parte do podcast com o microfone errado. Por isso, pela qualidade ruim do meu áudio nos primeiros minutos, peço desculpas!)

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Musk cria regra arbitrária para o Twitter, bane jornalistas críticos e perfil do Mastodon.

O patético Elon Musk suspendeu do Twitter ao menos oito jornalistas norte-americanos, de publicações como New York Times, CNN e The Intercept, que reportaram ou criticaram outra medida covarde do bilionário — o banimento do perfil @ElonJet, que monitorava em tempo real os deslocamentos do avião privado de Musk.

Para dar ares de legitimidade à sua arbitrariedade, o Twitter ganhou uma regra que proíbe usuários de compartilharem a localização em tempo real de pessoas.

Rotas de aviões, incluindo aviões privados, são públicas. A rusga de Musk com o perfil @ElonJet vem de longe — ele chegou a tentar comprá-la/silenciá-la com uma oferta de algumas milhares de dólares, que foi recusada.

Após o banimento no Twitter, o perfil @ElonJet apareceu no Mastodon. Alguns jornalistas suspensos haviam postado o novo endereço em seus perfis no Twitter. Além deles, o próprio Mastodon perdeu sua conta no Twitter e links de diversas instâncias do Mastodon estão sendo sinalizados como “inseguros” pelo Twitter.

Musk tentou se explicar em um Spaces (conversa em áudio ao vivo no Twitter). Curiosamente, os jornalistas suspensos e o perfil @ElonJet conseguiram acessar e participar da conversa.

Quando questionado se sua atitude não seria a mesma da antiga gestão do Twitter acerca da história de Hunter Biden, que Musk tem alardeado como prova de um suposto viés progressista nos chamados “Twitter Files”, o bilionário respondeu que quem vaza dados pessoais (o que não é caso) é banido e saiu abruptamente do Spaces. Típico de gente da laia dele, fugir de perguntas difíceis.

A propósito, os jornalistas suspensos do Twitter têm perfis no Mastodon. Via The Verge (em inglês), Núcleo.