Governo dos EUA alerta dos riscos do uso de redes sociais por crianças e adolescentes

Vivek Murthy, cirurgião-geral dos Estados Unidos — uma espécie de porta-voz de saúde pública do governo federal —, publicou na terça (23) um documento alertando dos perigos do uso de redes sociais por menores de idade. Leia na íntegra (PDF, em inglês).

O texto analisa as evidências científicas já disponíveis acerca do uso de redes sociais por crianças e adolescentes, e é bem transparente ao afirmar que essas evidências ainda são insuficientes e que mais pesquisa se faz necessária. De qualquer forma, não dá para esperar evidências mais robustas para agir.

“Nossos filhos se tornaram participantes sem saberem de um experimento de décadas”, diz o cirurgião-geral em um dos trechos mais duros.

O documento reconhece alguns benefícios no uso por menores de idade, em especial para crianças de grupos minorizados. “[As redes sociais] podem fornecer acesso a informações importantes e criar um espaço para autoexpressão. A capacidade de criar e manter amizades online e desenvolver conexões sociais está entre os efeitos positivos do uso das mídias sociais para os jovens.”

Por outro lado, há farta evidência de que o uso dessas mesmas redes pode afetar o desenvolvimento cognitivo de menores de idade e ocasionar ou potencializar o desenvolvimento de condições psicológicas, em especial depressão e ansiedade.

“O uso frequente de redes sociais pode estar associado a mudanças distintas no cérebro em desenvolvimento na amígdala (importante para a aprendizagem e o comportamento emocional) e no córtex pré-frontal (importante para o controle de impulsos, regulação emocional e moderação do comportamento social), e pode aumentar a sensibilidade às recompensas e punições sociais.”

No geral, o alerta é bastante equilibrado e duro com as empresas de tecnologia. Logo no começo, chama à atenção o fato de que, mesmo proibidas para menores de 13 anos nos Estados Unidos, quase 40% das crianças de 8 a 12 anos dizem usar redes sociais.

Apesar das distinções entre as realidades norte-americana e brasileira, os achados talvez sejam universais e as recomendações a pais, legisladores e às próprias crianças e adolescentes, no final do documento, são valiosas. Via Platformer, New York Times (ambos em inglês).

Entre edição de posts e planos frustrados de rentabilizar pornografia, Twitter está perdido

O Twitter anunciou nesta quinta (1º) que iniciou os testes públicos da edição de posts, um recurso absolutamente banal na internet nos últimos 20 anos e que, por motivo inexplicável, demorou esse tanto a chegar e será restrito a usuários pagantes da plataforma.

Em outra frente, nesta semana o site The Verge revelou o plano frustrado do Twitter em rentabilizar o conteúdo pornográfico que rola solto ali.

A ideia de fazer dinheiro desse jeito não foi para frente porque o Twitter é incapaz de detectar e combater pornografia infantil em sua rede. Não é somente pelo puritanismo mais tacanho norte-americano que as plataformas digitais têm tolerância zero com pornografia; é, também e em grande parte, porque é muito difícil distinguir o que é conteúdo legítimo, consentido e tudo mais, de abusos dos mais diversos e terríveis.

Esses dois eventos, acho eu, apontam o quanto a direção do Twitter está perdida, e muito antes do furacão Elon Musk bagunçar ainda mais as coisas com sua grandíssima piada de mau gosto de US$ 44 bilhões.

Há uma semana (25/8), o co-fundador e ex-CEO Jack Dorsey disse que seu maior arrependimento foi ter transformado o Twitter em uma empresa, em vez de um protocolo. Via @Twitter/Twitter, TechCrunchThe Verge, @jack/Twitter (2),

Google mantém suspensão de contas suspeitas de abuso infantil mesmo após polícia descartar hipótese

O New York Times publicou as histórias de dois usuários do Google, pais de crianças e norte-americanos, que tiveram suas contas suspensas e histórico e atividades em serviços da empresa investigados pela polícia por terem tirado fotos de partes íntimas dos filhos. As fotos foram enviadas a médicos porque as crianças estavam com dores e inchaço na região.

Os sistemas automatizados do Google detectaram as fotos e suspenderam as contas para averiguação. Mesmo depois de a polícia concluir que os casos não eram de exploração sexual infantil, o Google não restabeleceu as contas dos pais.

Ambos os casos evidenciam a dificuldade em encontrar o equilíbrio entre vigilância contra crimes cruéis e a garantia de privacidade dos usuários. É difícil, porém, encontrar justificativa do lado do Google para não restabelecer as contas afetadas. Via New York Times (em inglês).

78% das crianças e adolescentes brasileiros estão em redes sociais, aponta pesquisa do CGI.br

O CGI.br divulgou, na terça-feira (16), a edição 2021 da TIC Kids Online Brasil, que faz um raio-x do modo como crianças e adolescentes brasileiros (9 a 17 anos) usam a internet.

No comunicado à imprensa, o CGI.br destacou alguns achados:

  • 78% das crianças e adolescentes conectados têm perfil em pelo menos uma rede social.
  • Pela primeira vez o TikTok foi considerado na consulta — e 58% dos entrevistados disseram estar na rede da ByteDance.
  • O Instagram ainda lidera, mas a diferença é pequena: é usado por 62% dos entrevistados. Em 2018, o Instagram era usado por 45%.
  • Facebook está em queda livre: a posse de perfis caiu de 66% para 51%, e a relevância entre aqueles que estão na rede da Meta junto aos menores de idade despencou de 41% para 11%.
  • Por outro lado, o WhatsApp reina: 80% dos entrevistados conectados usam o aplicativo de mensagens da Meta, que lidera o ranking em todos os estratos sociais.

A pesquisa ouviu 2.651 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos, assim como seus pais ou responsáveis, entre outubro de 2021 e março de 2022.

Há outros recortes e consultas interessantes, como atividades online, distribuição por faixa de renda e região. Todos os dados, em diversos formatos, podem ser acessados nesta página. Via Cetic.br.

Adolescentes e a tecnologia no ambiente escolar, com Maria Catarina Bozio

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Rodrigo Ghedin e Jacque aprenderam na época escolar a mexer em um computador e alguns conceitos básicos, como o que é um arquivo e uma pasta/diretório. Isso foi há muito algum tempo. E hoje, como as crianças e adolescentes em formação lidam com a tecnologia. Trouxemos a Maria Catarina Bozio, coordenadora pedagógica de um colégio particular, para nos ajudar a entender como a nova geração lida com computadores, celulares e tudo mais.

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Nas última semana, o Manual ganhou dois novos apoiadores: Matheus Bonela, João Del Valle, Daniel Camboim e Lucas Pereira. Obrigado!

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Indicações culturais

  • Cata: Os filmes Ela [Star+], de Spike Jonze.
  • Ghedin: O filme Thelma e Louise [Prime Video], de Ridley Scott.
  • Jacque: O livro Como falar dos livros que não lemos, de Pierre Bayard, publicado pela Objetiva.

Este podcast é editado pelo estúdio Tumpats.

Aplicativos e sites usados para ensino à distância no Brasil violam ou colocam em risco a privacidade de crianças, aponta Human Rights Watch

A Human Rights Watch (HRW) analisou 164 produtos das chamadas “edtechs”, startups/empresas de educação com foco em tecnologia, adotados por 49 países (entre eles, o Brasil) para proporcionar educação à distância a crianças e adolescentes durante a pandemia de covid-19. Desse total, 146 (89%) apresentaram práticas que colocam em risco ou infringem os direitos dos menores de idade.

No Brasil, nove edtechs foram avaliadas. Oito violavam a privacidade das crianças e um a colocava em risco. Da Folha de S.Paulo:

São eles: Estude em Casa, da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais; Centro de Mídias da Educação de São Paulo, da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo; Descomplica, Dragon Learn, Escola Mais, Explicaê, Manga High, Stoodi e Revista Enem — este último sendo o único que apenas coloca em risco os dados dos estudantes.

Via Human Rights Watch, Folha de S.Paulo.

China propõe novas regras para proteger menores de idade na internet

A Administração de Cibersegurança da China propôs na segunda (14) novas regras para proteger a saúde física e mental de menores de idade na internet, chamando famílias, empresas, mídia e organizações a terem responsabilidade social com a questão. Ainda está em fase de comentários, incorporando mudanças a partir de uma legislação de 2020 referente a proteção de menores. A tradução para o inglês é do Jeremy Daum, do China Law Translate.

Além de incentivar a criação de serviços sem fins lucrativos, bem como a literacia digital, outros pontos de destaque do texto são: a criação de ferramentas para sinalizar e alertar sobre conteúdo ilegal ou perigoso em softwares e produtos tecnológicos que atingem menores de idade; a realização, por parte das empresas, de revisões periódicas do impacto dos seus produtos nesse público; o fortalecimento de meios para denúncia de comportamentos indesejados, como bullying; o papel dos guardiões no consentimento de uso de dados pessoais dos menores. Para quem quer ficar por dentro de toda a legislação chinesa referente a crianças no mundo virtual, Daum também preparou essa lista útil.


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Sai o cofrinho de moedas, entra o dinheiro digital: as fintechs focadas em crianças e adolescentes

Goste ou não, esteja ele sobrando ou faltando, dinheiro é assunto inescapável no tempo em que vivemos. Às vezes, tem-se a impressão de que tudo gira em torno dele; em outras, que apesar da atenção e importância que lhes são concedidas, ainda não sabemos como lidar. E se começássemos a falar de dinheiro mais cedo, com seres humanos recém-saídos das fraldas? Uma leva de fintechs acredita que o caminho é por aí.

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Senadores dos EUA emparedam líder do Instagram sobre segurança de crianças

Adam Mosseri, executivo à frente do Instagram, foi ao Senado norte-americano nesta quarta (8.dez) explicar o que a rede social tem feito para não bagunçar as cabeças nem por em risco seus usuários menores de idade. Encontrou interlocutores mais bem preparados e menos receptivos às mesmas desculpas e promessas de sempre.

Naomi Nix explicou em sua coluna na Bloomberg que o tema do depoimento — a segurança das crianças — é muito sensível nos Estados Unidos, mais do que privacidade digital ou viralização de desinformação, tópicos mais recorrentes nos depoimentos de executivos ao Congresso. A postura dos senadores parece confirmar a opinião da colunista.

O Engadget relata que alguns senadores e seus assessores criaram perfis falsos no Instagram, se passando por adolescentes, para observar a experiência desse público na plataforma. Sem demora, depararam-se com “coaches de anorexia”, perfis que promovem distúrbios alimentares e hiperssexualizados. A senadora republicana Marsha Blackburn detectou uma falha: seu perfil falso, de uma adolescente de 15 anos, era público. Desde julho, perfis de menores são — ou deveriam ser — privados por padrão. Adam confirmou a falha, ocasionada porque a conta foi criada em um computador, e não no celular, e prometeu uma correção.

O grande trunfo que Adam trouxe para o depoimento foi uma proposta, mais concreta que qualquer outra já apresentada nessa frente pelo Facebook, para que as plataformas se autorregulem no tratamento de menores de idade. Isso se daria em um comitê criado para tal fim, envolvendo empresas do setor e representantes da sociedade civil, que estabeleceriam padrões para aspectos-chaves como verificação de idade, experiências apropriadas para cada faixa etária e controles parentais.

A proposta foi recebida sem entusiasmo: “Não será um corpo da indústria que definirá esses padrões; será o Congresso dos Estados Unidos”, disse a senadora Marsha, segundo o Washington Post.

Richard Blumenthal, senador democrata: “A mensagem bipartidária deste comitê é que leis estão a caminho. Não podemos mais depender da confiança [nas plataformas]. Não podemos depender de autorregulação. É isso o que pais e crianças estão demandando.” Ele também comentou os recém-anunciados recursos do Instagram para proteção de crianças e adolescentes: “Muito aquém do que precisamos”, avaliou. Trechos via Cnet.

Richard perguntou a Adam se a ideia do Instagram Kids, uma versão exclusiva para menores de idade que quase chegou a ser lançada, estava completamente descartada. Mosseri desconversou e se limitou a dizer que nenhuma criança entre 10 e 12 anos teria acesso ao app, se um dia ele for lançado, sem o consentimento explícito dos pais ou responsáveis.

Adam Mosseri aproveitou para anunciar que o Instagram trará de volta o feed em ordem cronológica, recurso originalmente presente no app, mas abolido em 2015.  Ele afirmou que a novidade deve ser liberada no primeiro trimestre de 2022 e que está sendo gestada “há meses”, mas não mencionou que em junho fez uma defesa pública do feed algorítmico. Ainda de acordo com Adam, haverá uma terceira versão do feed, somente com perfis favoritos. Horas mais tarde, o perfil oficial do Instagram no Twitter reafirmou o compromisso e esclareceu que o feed cronológico será opcional. Via Bloomberg, Engadget (2), Cnet, Washington Post, @instagram/Twitter (todos em inglês).