No Guia Prático da semana, Rodrigo Ghedin e Jacqueline Lafloufa falam das novas formas de encontrar coisas na internet e da decadência do Google. Os mais jovens têm recorrido a aplicativos como Instagram e TikTok para encontrar informações que os mais velhos costumavam achar nos buscadores web. Estamos testemunhando uma mudança paradigmática nos fluxos de informação no digital?
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Indicações culturais
- Jacque: O álbum Jagged Little Pill (1995), de Alanis Morissette.
- Ghedin: O filme Acossado (1960), de Jean-Luc Godard.
Links citados na conversa
- O Google quer resultados melhores em seu buscador. Talvez seja impossível.
- O método Bettina, na newsletter da Juliana Cunha.
- Para a geração Z, o TikTok é o novo buscador (em inglês), no New York Times.
- Avante, visualizações de página! Por que não há escapatória na internet do Universo Cinematográfico da Marvel (em inglês), no NiemanLab.
Oi, Rodrigo @ghedin
Sou revisora e – desculpe – não consegui deixar passar:
“Os jovens não pensam automaticamente no Google quando precisaM achar alguma coisa.”
No mais, adoro seu canal e já estou seguindo o Manual no Google Notícias:)
Valeu, Julia! Isso foi num texto ou numa fala minha? Às vezes damos uns deslizes e, se é em texto, dá para consertar. (Se for em áudio, aí não 🥲)
Sobre o comentário do @ghedin sobre o TikTok, recomendo o Mono Estereo porque ele teve exatamente a mesma experiência que você Ghedin (é rápido, 5 minutos e vale a pena).
https://eduf.me/humor-corporativo/
Como não tenho redes sociais exceto Youtube, é lá que busco informações além do Google. Principalmente porque tem fácil acesso ao APP em SMARTTV/Projetor(uso com a Mi Box) e junto com o SMARTPHONE são os locais onde consumo maior quantidade de conteúdo atualmente.
Eu acho que uma utilidade imensa o que o Youtube se tornou, é uma janela de conhecimento com tantos usuários gerando conteúdo. Existem tutoriais/manuais de todas as coisas, conteúdo de história, geo-política, tecnologia, cultural, tem conteúdos rasos mas profundos também. Imagino que seja pelo fato do vídeo associar Imagem/Texto/Ação em uma menor linha de tempo comparado com texto apenas. Você consegue mais informações em menos tempo ao processar o audio com o visual porque as imagens contam histórias também.
O YouTube realmente tem muita coisa boa, mas tem muuuuuuuita coisa ruim e, o que é pior, uma quantidade considerável de coisas ruins bem produzidas, ou feitas para fisgar a pessoa com algum tempo ali.
Deixo o algoritmo de recomendação ligado, mas sinto que, com o passar do tempo, ele vai ficando cada vez menos assertivo. Acabo confiando mais nas minhas inscrições e vídeos salvos no “Assistir mais tarde”. E, claro, coisas pontuais, como os tutoriais — esse não tem jeito, geral migrou do texto para o vídeo e é isso aí.
Sim exatamente, tem muita coisa disfarçada.
No final do ano passado, eu me propus a gastar alguns bons minutos (30 por dia) no Youtube, filtrando conteúdo que aparecia para mim. Eu navegava na lista de recomendações ou resultados de busca e vídeo-a-vídeo marcava as opções “Não recomenda mais esse canal” ou “Esse conteúdo não me interessa” para o que não queria mais receber. Detalhe que eu não tenho nenhuma inscrição (não sigo ninguém).
Já nos primeiros 3 dias notei uma melhoria e mesmo assim continuei o processo, acho que fiz isso por uns 15 direto e até hoje faço quando aparece um canal novo ou conteúdo que não me interessa que são inseridos. Isso me colocou em uma “bolha”, mas pra mim deu certo, construí essa bolha com devido cuidado.
São poucas recomendações que recebo normalmente e raras as indesejadas, algumas aparecem e eu caio por curiosidade no vídeo, depois de um tempo eu julgo se clico no botãozinho mágico ou não :)
Mesmo quando faço uma pesquisa, percebo que o algoritmo entendeu de alguma forma minha preferência. Quando quero fugir da minha bolha ou entro em anônimo ou coloco nas pesquisas palavras que forcem comparativos, mas eu tomei cuidado para não bloquear conteúdo de canais de notícias, assim, as fontes de notícias com credibilidade mesmo com opiniões divergentes aparecem nas pesquisas.
É possível ensinar a ferramenta a entender seus critérios, em alguns casos ela sabe mais do que você mesmo.
sobre guy debord, apenas um comentário em cima do que já foi dito:
o espetáculo é o ápice do fetichismo da mercadoria descrito lá no primeiro capítulo d’O capital: se o fetichismo é o processo pelo qual a gente se aliena dos processos sociais pelos quais as mercadorias são produzidas e chegam até nossas mãos (sintetizado na famosa máxima de que todos os dias nós nos relacionamos socialmente com coisas e materialmente com pessoas, por mais estranho que isso seja), dotando-as de um caráter autonomizado, quase vivo (de “fetiche”), o espetáculo envolve uma camada a mais de representação (uma acumulação de camadas de representação sobre os processos produtivos), pelo qual a gente simplesmente “olha” para a realidade na nossa frente, que simplesmente “passa”, completamente abstraída.
por um lado, isso parece muito explícito quando muita gente se sente surpreendida com aquela foto famosa da Boca Rosa programando suas inserções diárias em stories/reels/etc. — afinal, fica a impressão de que as pessoas realmente não sabiam de que não se tratavam de inserções “autênticas”
PORÉM
por outro lado
fico pensando se a generalização disso — quando TODO MUNDO precisa começar a fazer dancinha no tik tok para trabalhar em suas áreas (dentistas, médicos, advogados, etc) e não apenas os profissionais da comunicação — não contribui para romper com a lógica do espetáculo
afinal: chega uma hora em que a saturação disso tem limite, né? Quem será influenciado pelos influenciadores se todo mundo virar influenciador? (ou, dizendo de outra forma: quem sobrará para consumir “conteúdo” quando todos virarem proletários-produtores-de-conteúdo trabalhando para essas plataformas?)
o espetáculo depende da naturalização das engrenagens por trás dele próprio — e se todo mundo começa a operar essas engrenagens, não há aí um caminho para rompê-las, sendo um pouco otimista?
de todo modo, esse trecho da Sociedade do espetáculo parece particularmente adequado para instagram/tik-tok:
A totalidade do trabalho social vendido tornou-se a mercadoria total cuja circulação constante deve ser mantida a qualquer custo. A fim de que isto se consiga, esta mercadoria total deve retornar em forma fragmentada a indivíduos fragmentados que são completamente apartados da operação total das forças produtivas.
Ótima provocação, Gabriel.
Eu desconfio um pouco dessa saturação porque ela pressupõe (ou sugere, e aí pode ser uma interpretação minha) uma plataforma estanque, que encara seu declínio sem se mexer. O que, sabemos, não é o caso.
Não é à toa que as mesmas redes sociais continuam hegemônica há ~15 anos, com o acréscimo de uma ou outra pelo caminho. Elas são, hoje, muito diferentes do que eram no início, e essas mudanças creio eu se deram mais para manter a experiência viva, promissora, convidativa, do que por qualquer outro motivo.
O algoritmo talvez seja a expressão mais literal disso — são as engrenagens que todos sabemos existir e operar, mas que ninguém vê nem sabe como funciona.
Outra coisa: a saturação jamais é uniforme. Ainda deve ter gente empolgada e fazendo uma grana com páginas de Facebook. Cada vez menos, mas só porque a promessa de grande alcance e fama e dinheiro migrou para outros (poucos) locais (com os mesmos vícios e incentivos errados do Facebook).
Tendo a ser bem pessimista nesse sentido.
Interessante a provocação, Gabriel.
Sobre o último trecho – acredito que esse não é um gargalo (todos serem produtores) porque seremos ao mesmo tempo todos consumidores. Quer dizer, o médico tiktoker produz pra si e consome dos outros, num ciclo de muitos pra muitos que, sei lá, pode tender ao infinito.
Difícil acreditar que estamos longe da saturação em termos de modelo sistêmico – acredito que a saturação vai vir antes da nossa atenção, que estará um caco só no final desse percurso doido. Aposto no Byung-Chul Han pra teorizar o futuro distópico em que vamos viver (ele acredita que estaremos EXAUSTOS, vide a Sociedade do Cansaço)
Jacqueline: “— Hoje eu vou surpreender todo mundo com uma recomendação ainda mais vintage que as do Ghedin.”
Ghedin: “— Please, hold my beer.”
Pois é, tenho que parar de tentar competir com o Ghedin nesse aspecto, o segmento vintage é todo dele :D
Aproveitando a deixa, e em cima do comentário do Ghedin sobre o Acossado (assim como muitos filmes bons) não estar disponível em nenhum streaming, a plataforma do Sesc está com três filmes do Godard disponíveis (um até 16/10, os outros até 16/11) e, o melhor, de graça. Em tempos de streamings cada vez mais caros, o serviço do Sesc é uma ótima pedida pra quem curte um cinema mais autoral. Ou seja, nada de Marvel! (pra seguir no exemplo/piada do episódio).
Aqui o link, faltou no comentário acima: https://sesc.digital/colecao/cinema-em-casa-com-sesc