#ApoioBrequeDosAPPs: A paralisação dos entregadores de aplicativos no dia 1º de julho, com Reginaldo Zafemina

Entregadores reunidos em uma esquina, com bicicletas e mochilas térmicas do iFood e da Rappi.

Neste podcast, converso com o entregador de aplicativos Reginaldo Zafemina, de Campinas (SP), a respeito da grande paralisação da categoria no dia 1º de julho. Para mais informações, dê uma olhada nos perfis do Treta no Trampo (Twitter, Instagram, Facebook).

Foto do topo: Roberto Parizotti/Fotos Públicas.

Edição 20#22

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1 comentário

  1. Cabe um aviso antes do que eu vou dizer: eu entendo que as pessoas que estão inseridas nessa dinâmica de aplicativos de entrega estão apenas requerendo uma melhoria nas suas condições de vida e trabalho. E, mais do que isso, essas pessoas sem voz apenas querem conseguir manter-se trabalhando da melhor forma possível nessa nova modalidade de trabalho. A tal “uberização” ou economia de bicos. Dito isso, entendo que as pessoas que trabalham assim estão muito mais preocupadas em manterem-se ocupadas e recebendo para não morrer de fome, morar na rua e ter acesso à saúde. Não vou questionar isso jamais.

    Dito isso, interessante perceber na fala do Reginaldo que a ideia central dos protestos (greve?) dos entregadores vai muito mais na direção de uma “isonomia” entre os entregadores, tirando as benesses daqueles que tem contas antigas e outras coisas que, no final das contas, os mantém dentro dos sistema de exploração fortalecido pelas plataformas. Nenhuma demanda deles vai no sentido de se aproximar dos direitos trabalhistas mínimos (CLT) e no sentido de criar uma cooperativa de entregadores ou mesmo de imputar vínculo empregatício entre as plataformas e os entregadores, nem que seja uma trabalho intermitente. A ideia central dos entregadores é reforçar os sistemas de isonomia apenas, a crítica às plataformas vai no sentido deles terem mais acesso à plataforma (suporte com pessoas e não com robôs), um sistema mais justo de avaliação dos entregadores e manutenção da exploração das plataformas em relação aos entregadores.

    Por outro lado, se formos conversar com os donos de restaurantes, mesmo os pequenos, vamos notar uma crítica ao sistema das plataformas que é mais abrangente e vai no sentido de sair das plataformas e não de reformar as plataformas (poder-se-ia dizer que estes tem mais “consciência de classe”, mas acho que isso seria uma distensão do conceito de “classe” marxista).

    De qualquer forma, percebe que o que permeia as demandas dos entregadores é, exatamente, uma manutenção da exploração que seja mais “justa” e não uma expropriação dos meios de produção (entregas) das plataformas em direção dos entregadores. Uma plataforma que fosse menos exploradora dos entregadores, que seguisse um modelo de cooperativa por exemplo, seria muito mais interessante do que depender de diversas plataformas de entrega/pedidos que são coordenadas por capital privado especulativo e algoritmos de ranqueamento de restaurantes e entregadores.

    De qualquer forma, a ideia do “trabalho uberizado” é a saída do capitalismo pros problemas oriundos dos gastos, supostamente em excesso, da social democracia dos anos 90/00 e que estavam corroendo algumas bases de poder liberal (através de sindicatos e organizações de trabalhadores autônomos) para separar e colocar os próprios trabalhadores em constante competição (por notas, por taxas, por entregas). Agora seria o momento perfeito, dentro da minha concepção, de fazer essa massa de trabalhadores informais se conscientizarem que o negócio dessas plataformas são eles, sem eles não existe iFood (e todas as outras), por exemplo. A própria ideia de isonomia de entregas é um indicativo, pra eles, que a plataforma está errada, só precisa alguém explicar porque ela faz isso (e não é por acaso, elas lucram com essa ideia de competição entre trabalhadores).

    Experiência pessoal e anedótica minha: eu tenho vários conhecidos e parentes que trabalham com entregas e como motoristas de aplicativos. Nessa pandemia o Uber está com problemas de pedidos de corridas (tanto que lançaram a modalidade de entregas, e o Cabify seguiu o Uber nisso) e, dentro das periferias, ele está perdendo espaço pro InDriver, que usa um modelo muito mais perverso de “leilão” de corridas e ainda exige que o motorista para trabalhar tenha crédito dentro do cartão deles (assim eles garantem o percentual deles mesmo que o motorista não faça as corridas). Tenho outros amigos e parentes que fazem entregas de comida, e que estarão nessa paralisação do dia 1/7, que acabam achando que a plataforma não precisa deles e que o trabalho de entrega deles precisa ser, necessariamente, bem feito para manter o “ranking” dentro da plataforma com boas notas dadas pelos usuários. Depois de muito conversar com um amigo que faz esse tipo de entrega consegui fazer ele entender que o cerne dessas plataformas são os motoboys e não os restaurantes. E o pior, para mostrar como a exploração não em limites, existem empresários que já alugam motos pra fazer as entregas cobrando uma diária fixa dos entregadores (mesmo esquema que ocorre com motoristas).