Saí de casa hoje e fiquei observando os postes das ruas…
Me lembro que por um tempo inicial, “gato” significava “uso ilegal de energia / telecomunicação”. Isso significava fios entrepostos e acumulados em postes ligados clandestinamente, parecendo um ninho preto, que não sei porque exatamente ganhou o apelido de “gato” (talvez por “gatuno”, criminoso).
Mas nos últimos tempos também virou sinônimo justamente do emaranhado de fios que ficam acumulados em postes, legalmente ou não.
De fato, existem projetos de leis para tentar diminuir isso. No entanto o ponto é que isso exigiria uma melhor comunicação entre os entes fiscalizantes de energia e telecomunicações, dado que ainda temos aquela de que “postes geralmente são dos responsáveis de energia”.
Existe uma busca pelo chamado “redes neutras”, que seriam as infraestruturas de telecomunicações que apenas forneceriam a parte de “hardware” – cabos e conexões físicas. A parte de “software” (ou as camadas posteriores do OSI na qual esqueci completamente :op ) ficariam nas mãos das operadoras de telecomunicações.
Com as redes neutras, voltaria um pouco ao que era na epoca da internet discada: a parte “física” seria de responsabilidade de uma empresa, porém a ligação em software (em comparação, o “handshake” do modem) seria feita por outra operadora.
Isso daria a expectativa de reduzir os fios nas ruas, com isso eliminando o emaranhado de fios que enfeiam a paisagem, e mostram que nossa cabeça ainda não sabe lidar direito com uma infraestrutura legal…
(Não tenho muita moral para isso pois não sou o cara que prende cabos nas paredes, só crimpo e jogo… :op )
Disclaimer: admito que o estilo do título meio que soa como “isca” :)
É uma boa discussão, Ligeiro. O Brasil tem uma certa tradição no domínio do público pelo privado, ainda mais quando se trata do espaço público. Eu concordo com você que a situação caminha para o insustentável e uma readequação seria muito bem vinda. Mas alguém teria que ceder. Quem?
Tem horas que acho que o ideal seria que as redes de telecomunicações voltem a ser públicas. Pensamos que a privatização salvaria a pátria e baratearia os custos… mas bem, há cidades ainda isoladas em telecomunicações, há muitos problemas de furtos e interrupções (dias atrás só vi a galera da empresa de telecomunicação que serve a cidade caçando onde estava um cabo óptico cortado), enfim, problemas que acho que seriam melhor resolvidos se tivéssemos um pensamento cooperativo ao invés de capitalista :V
Eu sou da opnião, não muito popular, de que o governo deve somente regulamentar e fiscalizar o máximo possível de coisas. Algumas coisas muito especificas concordo que devem permanecer sob gestão pública, como segurança, saúde e educação, por exemplo.
Minha opnião é essa por motivos como esse de uma notícia que vi hoje: https://www.nsctotal.com.br/noticias/galpao-de-prefeitura-em-sc-vira-criadouro-de-mosquito-da-dengue-e-e-alvo-de-investigacao
Fosse o caso da notícia acima de uma empresa privada, regulamentada e fiscalizada pelo governo municipal, se aplicaria uma multa pesada, e a empresa, que visa lucro, pensaria 2x antes de cometer o mesmo erro.
Como o problema é com a prefeitura, não existe punição. E se houver, serão os municipes de qualquer forma que arcarão com o valor da multa através dos impostos.
O mesmo acontece com as calçadas em má conservação. Quando é em terreno particular, a prefeitura fiscaliza, dá prazo para adequação, e se não for adequada, aplica multa. Quando ocorre em terreno público, só enchendo o saco do vereador para que ele exija algo do executivo.
O Ministério Público tem o poder/dever de fiscalizar o executivo municipal, aplicar sanções e responsabilizar criminalmente quando for o caso. O que muitas vezes acontece é que ninguém quer ou sabe que pode denunciar.
Quando eu era mais jovem eu tinha muito esta coisa na cabeça – até porque convenhamos que a mídia fazia de tudo para por isso na cabeça, fora que trabalhei para políticos e sei como é um tiquinho por dentro do poder público. Um tiquinho.
Hoje sei que falar que “privatização é solução” é acabar ignorando que mesmo o privado consegue fazer coisas de forma pior. E não adianta ter uma fiscalização de agência pública – e isso até o Leo aí fala no comentário dele.
Quando a gente vê o transporte público por exemplo, é um exemplo desta do “Público fiscaliza, Privado opera”. A operação de ônibus é feita por empresas de ônibus que estão sob olhar do poder público dependendo da autarquia que a gerencia (O Estado de São Paulo tem a EMTU para regiões metropolitanas formadas e Artesp para o resto do Estado). E a fiscalização é razoável, mas ausenta-se de mais atenção as requisições públicas.
Quando nos voltamos as telecomunicações, de fato a operação privada hoje é feita de forma mais “formiguinha” graças a adoção das tecnologias de fibra óptica e da ausência das operadoras privadas sob fiscalização pública (Anatel) que ficaram enrolando anos para tomar atitudes. Só há um ou dois anos a Vivo por exemplo tem uma adoção maior da fibra óptica em mais lugares. Fora a discussão das “redes neutras”, que ao meu ver seria ideal se fosse algo entre cooperativo (empresas pequenas se ajudando) e Estado (com fiscalização e mecanismos de aprimoramento, para sempre atualizar as tecnologias sem onerar financeiramente e estrutural).
É justamente esse o ponto. Se nem o mais simples, que seria fiscalizar e autuar, o poder público faz, não consigo ser otimista em acreditar que seria capaz de executar com maior zelo.
Outro exemplo que me ocorreu agora é as rodovias privatizadas. Já tive um pneu furado e em poucos minutos chegou o carro da concessionária, sinalizou e auxiliou na troca do pneu. Claro, não fizeram isso de graça, mas sim pelo valor do pedágio e por força de contrato da concessão pública. Enquanto isso as rodovias públicas estão esburacadas.
Enfim, podemos ficar aqui trocando exemplos que beneficiam tanto um lado quanto outro, e a única coisa que vamos ter certeza é que nada é tão simples.
@ Quandt
A ineficiência do serviço público não tem muito a ver com capacidade ou incapacidade do poder público de prestar serviços. Ela já é parte do processo de privatização: sucateia-se a coisa pública de propósito para justificar sua alienação à iniciativa privada. Aí a gente fica com essa sensação de que só funciona se privatizar, ou que a iniciativa privada “é melhor”.
Complementando o Ghedin
Em São Paulo temos o Metrô e a CPTM operando os serviços ferroviários. Ambas empresas públicas.
Ambas tem problemas mas funcionam. E ambas são essenciais para a mobilidade em São Paulo.
No Rio existe a SuperVia. Diferente de São Paulo, o Rio privarizou os serviços ferroviários após a queda da Rese Ferroviária Federal. Mais de 30 anos depois a última empresa que operava sob concessão entregou de volta ao Estado. Claro que a situação do Rio tem camadas de complexidade, mas a situação da SuperVia mostrou que privatizar muitas vezes não é a melhor solução, pois empresas visam a priore o lucro.
Lendo o título a primeira coisa que lembrei foi dos “deadcats” ou “rabo de gato”. Acessório peludo, geralmente na cor cinza que é colocado em microfones para diminuir o barulho do vento na captação.
Eu jurava que não sabia o nome disso. Aprendi uma agora! Obrigado! :D
Eu pensei neste título pensando em mencionar os fios cortados por quadrilhas (pois lembraria um rabo no meio do “gato”), mas acabei esquecendo.