WhatsApp está virando uma mistura de shopping com SAC

O marketing do WhatsApp é todo voltado às relações próximas, pessoais.

No site do aplicativo da Meta, uma mensagem grande diz que “com mensagens e chamadas privadas, você pode ser quem realmente é, conversar com liberdade e se aproximar das pessoas mais importantes da sua vida, não importa onde estejam”.

Quase escapou uma lágrima aqui.

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DSA: As novas exigências que a UE impôs à big tech

Em abril, a Comissão Europeia apontou 19 “plataformas online muito grandes” que, dali a quatro meses, teriam que cumprir todas as exigências regulatórias do Digital Services Act (DSA) , uma das duas leis da União Europeia criadas para regular a big tech.

O prazo de carência terminou na sexta (25), o que significa que essas plataformas precisam estar com tudo pronto.

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Mais “escolhas algorítmicas”, mais filtros

O YouTube parou de mostrar vídeos recomendados na página inicial para quem desativa o histórico de visualizações. Na Europa, o TikTok oferecerá uma opção de feed sem personalização algorítmica.

Por pressão regulatória, as big techs começam a nos dar alternativas à recomendação automática de conteúdo. É uma ótima oportunidade de combater a falácia da superioridades dos algoritmos opacos apenas porque passamos mais tempo nessas versões, como se rolar a tela sem ver o tempo passar — ou seja, o vício — fosse sinônimo de preferência ou mesmo algo saudável e/ou desejável.

O Bluesky, apesar dos alertas que sua estrutura corporativa e o envolvimento do ex-CEO do Twitter geram, traz à mesa uma ideia interessante, a da “escolha algorítmica”.

Quem está no Bluesky tem um mercado de feeds à disposição, criados e distribuídos pelos próprios usuários. Os feeds personalizados modulam a organização e apresentação do conteúdo com que o usuário se depara. Tomara que vire tendência.

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Não acho que o problema dos feeds cronológicos seja a ordem dos posts, como alegam as empresas. Pelo contrário: a ordem cronológica é uma vantagem. Ela facilita a orientação.

O feed cronológico tem um problema, que é o excesso de conteúdo. A troca pelo de recomendações algorítmicas, hoje padrão em todas as redes sociais comerciais, resolveu esse problema, sim. Só que não era a única forma de resolvê-lo. Talvez não fosse nem a melhor.

Quando o TikTok levou a recomendação algorítmica ao extremo, mostrando conteúdo de gente que o usuário não segue, livre da amarra das conexões, dos “amigos”, ficou evidente que o intuito do algoritmo não era (apenas) organizar o que importa ao usuário final. Antes disso, é fazer as pessoas passarem mais tempo consumindo conteúdo e anúncios.

Um caminho alternativo para o problema do excesso de conteúdo é o dos filtros.

Nessa proposta, a diferença entre filtros e a “escolha algorítmica” do Bluesky é que o primeiro estaria sob o controle absoluto do usuário, incluindo as fontes do conteúdo, seria transparente e fácil de manipular.

“Posts de quem posta menos de uma vez por dia”; “posts de pessoas, sem empresas” (e vice-versa); “posts de perfis com menos de 10 mil seguidores” (sem influenciadores); “apenas posts originais, sem compartilhamentos/RTs” são alguns exemplos úteis.

Quando as pessoas manifestam que preferem feeds cronológicos, suspeito que o que elas querem dizer é que gostariam de receber o conteúdo de todas (ou da maioria) das fontes/contas/perfis que escolheram acompanhar.

O algoritmo opaco jamais entrega todo o conteúdo. É sempre um recorte que mantém a ilusão de que o melhor ainda está por vir, atrás de só mais um “arrastar e soltar para atualizar”, só mais um, só mais um…

O cartão de loja da Amazon.

A Amazon fez um barulhão esta semana, com direito a evento presencial em São Paulo, para lançar seu cartão de crédito. Ele dá “cashback” em pontos que só podem ser gastos na própria Amazon e parcelamento a perder de vista. O que me chamou a atenção foi a cobertura da imprensa. Não me recordo de outro cartão de loja (convenhamos, é disso que se trata) que tenha atraído tanto a atenção dos colegas.

A nuvem que consome água

A palavra “nuvem” foi adotada pela indústria de tecnologia para se referir aos grandes parques de servidores escaláveis.

Graças a ela, qualquer empresa, startup ou empreendedor individual não precisa mais arcar com os altos custos iniciais de infraestrutura para lançar um serviço na internet. A nuvem permite começar pequeno (e gastando pouco) e crescer de modo contínuo, de acordo com a demanda, rápido ou devagar.

É um modelo genial. Não à toa, os líderes do setor — Amazon Web Services, Google Cloud e Microsoft Azure — ficaram enormes e são muito lucrativos.

Como toda tecnologia transformadora, ficamos fascinados com o lado bom da nuvem e nos esquecemos dos riscos da concentração de mercado, indisponibilidade pontual, segurança e custos colaterais, ocultos pela sombra do otimismo que o progresso tecnológico impregna em si mesmo. Raros e/ou incipientes, mas ainda assim presentes, esses riscos em geral revelam a natureza física da nuvem, levantada com muitos recursos naturais limitados, como metais raros, silício e água.

Chamou-me a atenção esta reportagem da Bloomberg (sem paywall) mostrando regiões que sofrem com secas históricas e, ao mesmo tempo, abrigam grandes data centers de empresas como Meta, Microsoft e Amazon.

Esses data centers, os endereços físicos da “nuvem”, consomem quantidades enormes de água. Um da Meta em Talavera de la Reina, na Espanha, ainda no papel, deverá gastar 665 milhões de litros por ano. Nos momentos de pico, serão 195 litros por segundo para arrefecer máquinas que sustentam a nuvem digital.

Não por acaso, data centers do tipo têm gerado insatisfação e antipatia das pessoas que moram nos locais onde estão instalados ou pretendem se instalar. De repente, elas se veem obrigadas a dividir a pouca água com computadores.

É irônico que a “nuvem” dos titãs da tecnologia se comporte de maneira oposta à da natureza: em vez de trazer água, consome-a. A menos que se conte como “água” aquele barulhinho de chuva do streaming, possível apenas graças à nuvem digital.

Obrigado, Elon, por trocar o nome do Twitter por X

Não é de hoje que o Twitter apodrece em praça pública, sabotado pelo próprio dono. A última grande ideia de Elon Musk foi jogar no lixo a marca “Twitter”, rebatizando o serviço de X. Sim, a letra X.

Fiquei incrédulo, como em muitas ocasiões desde outubro de 2022, ao saber disso. Hoje, gosto da mudança. Ela põe um fim à degradação agonizante do Twitter e ajuda a separar o legado de uma empresa imperfeita, mas que acertou bastante, do caos instaurado por Musk.

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O dia seguinte do Threads

Passada a euforia da estreia, é um bom momento para avaliar o impacto do Threads na confusão que virou a disputa pelo suposto vácuo deixado pela passagem do furacão Elon Musk pelo Twitter.

Os dados iniciais foram surpreendentes: 100 milhões de pessoas deram uma chance ao Threads nos primeiro cinco dias do app, lançado em 5 de julho. A taxa quebrou o recorde do ChatGPT, que havia demorado dois meses para chegar nove dígitos.

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Inteligência artificial no banco dos réus

Um escritório de advocacia da Califórnia, processou a OpenAI e o Google por infringirem direitos autorais e a privacidade no treinamento dos seus chatbots, ChatGPT e Bard.

Em outra ação, a comediante e escritora Sarah Silverman e outros escritores processaram a OpenAI e a Meta pelo mesmo motivo. Aqui, a alegação é de que as empresas usaram cópias piratas de seus livros, de repositórios como Z-Library e Biblotik, para treinarem os algoritmos do ChatGPT e LLaMA.

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O futuro do Tumblr

A Automattic quer tornar o Tumblr relevante outra vez. Para isso, a empresa anunciou um plano ambicioso — ainda que meio abstrato — para atrair criadores de conteúdo e tornar a plataforma mais fácil de usar.

Se conseguir, será a primeira reviravolta do tipo. Nenhuma plataforma decadente que já tentou um retorno — Flickr, MySpace, Fotolog — alcançou êxito.

O primeiro desafio foi fazer-se entender. Usuários acharam que parte do plano era transformar o feed cronológico em algoritmo. A direção fez uma live de perguntas e respostas para afirmar que o cronológico sempre será uma opção.

A compra do Tumblr pela Automattic em 2019, por US$ 3 milhões, foi uma bênção à plataforma. Os novos donos reverteram o banimento a pornografia dos tempos de Yahoo, medida à época tomada para adequar o Tumblr à publicidade, mas que, para muita gente, foi sua sentença de morte.

Além do trabalho, recolocar o Tumblr em forma não é barato. A sangria é de US$ 30 milhões por ano, ou dez vezes o valor que pagou pela plataforma, segundo Matt Mullenweg, CEO da Automattic.

O Tumblr é meio blog, meio rede social, com duas partes dissociadas (o painel/app e o leiaute para a web) e uma cultura própria, esquisita, caótica e difícil de penetrar. São características únicas entre as grandes plataformas sociais comerciais, o que diz muito do seu apelo restrito e dificuldades de se pagar.

Ah, eu/o Manual estou lá. Se você ainda usa o Tumblr, vamos ser amigos.

Como Threads pode ser benéfico ao Mastodon

A melhor coisa do Threads, nova rede social da Meta, ainda é uma promessa: interoperabilidade com o ActivityPub, protocolo por baixo do Mastodon e de outras redes descentralizadas.

Em seu segundo post no Threads, Adam Mosseri, executivo da Meta responsável pelo Instagram, disse que “um número de complicações” impediu a empresa de oferecer compatibilidade total no lançamento. “Mas está a caminho”. Mau começo, mas uma sinalização promissora.

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Dez anos do fim do Google Reader

Neste sábado (1º/7), completa-se dez anos do encerramento do Google Reader, o querido agregador de feeds RSS do Google.

Ainda hoje, não é difícil ouvir lamentações saudosas do Reader, quase como se, com ele, o Google tivesse acabado com o RSS e não houvesse serviços similares, na época e depois, capazes de suprir sua ausência.

Eu usava o Reader, lamentei seu fim, mas nunca entendi a dimensão da comoção.

O The Verge publicou uma boa matéria (em inglês) com falas dos criadores do Reader. Tem alguns dados suculentos ali, como o máximo de usuários que o serviço alcançou (30 milhões) e o desprezo que a direção da empresa manifestava pelo Reader.

O texto também me ajudou a entender melhor a saudade que ainda persiste, uma década depois. A parte social do Google Reader, parece, era muito importante. Eu seguia muitas pessoas e sempre conferia as recomendações delas. Era legal, mas não era o meu principal uso. Acho que, por isso, consegui me adaptar a alternativas que não tinham (e não têm) um componente social.

Na época, o Google ainda estava comprado no Google+, sua ambiciosa aposta para fazer frente ao Facebook. Foi um fracasso monumental. O Google Reader faleceu nessa época, de causas naturais. Quando puxaram o fio da tomada, ele já estava moribundo, em modo manutenção.

Os criadores do Reader acham, ainda hoje, que o serviço poderia ter tido um futuro brilhante com investimento e apoio da direção do Google. Talvez. Ou talvez essa parte social não estivesse mesmo no DNA da empresa e o domínio do Facebook, naquelas circunstâncias, era inevitável.

Ah, em tempo: quem assina o Manual tem direito a uma conta no Miniflux, um agregador de feeds RSS de código aberto e super elegante. Detalhes da assinatura aqui.

Quando começará o processo de “merdalização” do WhatsApp?

Já são raras as oportunidades de lidar com uma pequena ou média empresa, ou com profissionais liberais, sem passar pelo WhatsApp.

No mundo inteiro, o WhatsApp Business é usado por 200 milhões de pessoas. O número é quatro vezes maior o de três anos atrás.

Com o empenho da Meta para gerar receita cada vez mais explícito (e esse crescimento vertiginoso é reflexo disso), fica a dúvida de quando começará o processo de “enshittification” do WhatsApp.

O termo, um neologismo que poderia ser traduzido como “merdalização”, foi cunhado por Cory Doctorow em um popular ensaio publicado no início de 2023. Ele resume o processo de degradação pelo qual passam plataformas digitais. Assim:

É assim que as plataformas morrem: primeiro, elas são bons para seus usuários; então elas abusam de seus usuários para melhorar as coisas para seus clientes corporativos; no fim, eles abusam desses clientes corporativos para agarrar de volta todo o valor para si mesmas. Daí elas morrem.

Chamo isso de “enshittification”. É uma consequência pelo visto inevitável, decorrente da combinação da facilidade de mudar a forma como uma plataforma aloca valor combinada à natureza de um “mercado de dois lados”, onde uma plataforma fica entre compradores e vendedores, mantendo cada refém do outro, coletando uma parte cada vez maior do valor que corre entre eles.

O ensaio todo (em inglês) é uma leitura indispensável.

Controle de video game e gambiarras

Chegou ao fim, da pior maneira possível, a aventura de cinco homens ricos que queriam ver de perto os destroços do Titanic, afundado em 1912 durante sua viagem inaugural após se chocar com um iceberg.

Destroços do Titan, submersível da empresa OceanGate usado pelo grupo para descer até o Titanic, foram encontrados nesta quinta (22), dias após ele perder contato com o resto do mundo. A Guarda Costeira dos Estados Unidos informou que a embarcação implodiu.

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