Com quantos pixels se faz uma boa tela? Para a LG e seu G3, com muitos

Ontem a LG apresentou o G3 em Londres, a nova versão do seu smartphone topo de linha. Não é de agora que as fabricantes que usam Android promovem saltos em especificações a cada geração dos seus aparelhos, mas em um ano sem grandes novidades no principal concorrente, o Galaxy S5 da Samsung, a LG aproveitou a brecha para empurrar os limites da tecnologia móvel mais para cima. Nesse contexto e ante o que foi mostrado, talvez seja de bom tom perguntar: toda essa tecnologia é desejável ou mesmo vantajosa para o usuário?

Quantos pixels você tem, tela do G3!

G3, novo smartphone topo de linha da LG.
Foto: LG.

Pode soar “neoludista” ou mesmo desdenhoso, mas o questionamento recai, principalmente, na tela do novo G3. Ela tem 5,5 polegadas, tamanho que anula quaisquer distinções que ainda pudessem existir entre “smartphones convencionais” e phablets. Aliás, enterremos o nome “phablet”; ele não faz mais sentido.

Não é bem o tamanho físico que emana preocupações. Por maior que seja a tela, ela aproveita bem a área frontal do G3, ocupando 76,4% dela. O smartphone é grande, claro, mas parece que a mágica da Motorola com o Moto X, capaz de tornar um aparelho com tela de 4,7 polegadas bastante “segurável”, foi replicada pela LG. Quem esteve no evento e testou o G3 diz que ele é confortável e parece “menos ridículo” do que os números poderia fazer pensar, mais leve, menor e confortável do que se imaginaria apenas lendo as especificações. E vamos enfrentar os fatos: com smartphones de 6 polegadas, a LG ainda está dentro da margem segura de celulares gigantescos que as pessoas ainda compram.

Nas 5,5 polegadas da tela do G3 a LG espalhou 2560×1440 pixels, resolução QuadHD, chegando a uma densidade incomum de incríveis 538 PPI (pixels por polegada, no inglês). Durante a apresentação, Ramchan Woo, chefe de planejamento de smartphones da LG, retificou uma das falas mais citadas de Steve Jobs nos últimos anos, a da tela Retina. Segundo o falecido co-fundador da Apple, o olho humano é incapaz de perceber diferença em telas com mais 300 PPI. Para Woo, o El Dorado da resolução está em colocar 300 linhas de pixels por polegada, e para chegar a tanto é preciso dobrar a densidade.

As telas Full HD do ano passado em tamanhos menores, chegando a ~450 PPI, penderam mais para o posicionamento de Jobs. Mas será que indo além, mais pixels farão diferença?

Comparativo microscópico da tela QuadHD do G3 com outras.
A tela do G3, no microscópio. Foto: GigaOm.

É difícil dizer sem ver. Nos hands-on já publicados, os jornalistas foram cautelosos. Elogios de sobra à tela, uma área onde a LG tem mandado bem há anos, mas nada específico ou particularmente entusiasmado relacionado à resolução. Essas impressões iniciais meio que adiantam a resposta à pergunta acima: provavelmente não. E nem entraram no mérito, por falta de tempo mesmo, de eventuais impactos à autonomia que uma resolução quatro vezes maior que o HD pode causar.

De qualquer forma, reservo-me para tecer comentários mais incisivos sobre o tema quando colocar minhas mãos em um G3 — ou meus olhos, para ser mais exato.

Novo G3 traz Android mais limpo.
Foto: LG.

G3: software mais simples, câmera com laser

Em outra área a LG também dobrou a aposta em busca de satisfazer o potencial futuro comprador do G3: software. Ela consolida os motes que, segundo a empresa, guiaram o desenvolvimento do novo smartphone: “Simples é o novo esperto” e “Aprendendo com você”.

É crítica constante aqui o excesso de interferências que as fabricantes fazem no Android. Os aparelhos da LG disputam com os da Samsung a liderança no segmento destruição de interfaces, com modificações estéticas de gosto bem duvidoso, configurações esquisitas e outras que, apesar de bem pensadas, vêm inexplicavelmente desativadas por padrão.

No G3, a LG parece ter contornado alguns desses problemas. O visual está “flat” e, pelas fotos e vídeos, menos horrendo que nos smartphones da empresa de 2013. Quanto às configurações, o aparente temor em confundir o usuário foi deixado de lado. O novo app da câmera seja o que talvez melhor representa essa nova mentalidade: com uma interface absolutamente enxuta, ela traz apenas dois botões discretos e transforma todo o viewfinder em disparador. Confiança no taco, era isso o que faltava!

Novo app de câmera do G3 é bem simples.
Câmera simplificada. Foto: The Verge.

Embora eu prefira experiências mais limpas, alguns recursos trazidos pelas fabricantes são de fato úteis. No caso da LG, o KnockOn/Knock Code, que libera o smartphone com dois toques na tela, os apps flutuantes, o de controle remoto para TV e outros aparelhos domésticos… A lista cresce e com ela cresce também o apelo da experiência original junto a usuários mais experientes. Já vi gente que discute em fóruns e comentários de blog de tecnologia, esse espécime difícil de agradar, dizendo preferir a ROM da LG a fazer root e instalar o CyanogenMod, graças aos mimos exclusivos. O G3 traz alguns novos, como o Smart Notice, um assistente do aparelho que indica apps que não estão sendo usados e dá outras dicas, e um teclado com altura personalizável.

É nesse sentido, investindo pesadamente em diferenciais, que a LG e outras fabricantes podem ganhar o amor dos usuários e se distanciarem do estigma de bloatware que impregna o Android desde sempre. O veneno que consumia a reputação delas pode, em doses cavalares, acabar sendo o antídoto para curar a desconfiança do público. Como bônus, o G3 traz recursos meio abandonados nas safras recentes de smartphones de ponta, mas apreciados: slot para cartão microSD e bateria removível.

Disponível em cinco cores, o sucessor do bem recebido G2 deve, de qualquer forma, chamar a atenção positivamente quando for lançado. A recepção morna do Galaxy S5 deu espaço para a LG em 2014 e ela está sabendo aproveitar o momento: de pequenos vazamentos controlados a números enormes, ainda que não seja lá tudo aquilo na prática, só pelo barulho que está fazendo já dá para considerar o G3 uma pequena vitória na intrincada guerra dos smartphones.

Preço e disponibilidade

Na Coreia do Sul, lar da LG, o G3 começa a ser vendido hoje. Nos demais países chega em junho, ancorado por 170 operadoras. Ainda não há data especificada, nem preço, para o Brasil, mas em breve a subsidiária local da LG deve anunciar esses e outros detalhes.

ZapZap, o clone nacional do WhatsApp, é verde e amarelo até a alma

Se você torce o nariz quando ouve alguém dizer “note” para se referir a notebook, “feice” para o Facebook ou “whats” para o WhatsApp, não deve ser nada simpático ao inexplicável “zapzap” que também é usado por muita gente aqui no lugar desse último. Em breve, porém, o que até agora era uma mania boba pode se tornar a maneira certa de falar de um app. Não do WhatsApp, mas do nacional ZapZap.

Ele está no Google Play, tem versão web e o site oficial promete uma no iPhone para breve. O app, criado por Erick Costa, analista de sistemas e desenvolvedor SharePoint de 33 anos, usa o código do Telegram, um app parecido com o WhatsApp e cheio de boas intenções, para oferecer uma experiência com o tempero brasileiro.

Na vibe da Copa do Mundo, o ZapZap é ufanista: todo verde e amarelo, tem como imagem de fundo padrão o escudo da seleção canarinho penta campeã mundial, e traz como ícone dois balões de diálogo nas cores nacionais, com a bandeira do Brasil em um deles.

Tirando as mensagens do app em português e o (discutível) esquema de cores da interface, de resto ele é exatamente idêntico ao app oficial do Telegram:

Print do ZapZap ao lado do Telegram.
ZapZap e Telegram, lado a lado.

Erick Costa, a mente por trás do ZapZap

Conversei brevemente com o Erick via Facebook para tirar algumas dúvidas sobre o ZapZap. Ele diz que o app foi fruto de muito estudo para recompilar o Telegram, e se autointitula como o primeiro brasileiro a alcançar o feito. Ao se deparar com o app pronto, escolheu ZapZap porque precisava de um nome “bem brasileiro”.

Erick conta ainda que durante o desenvolvimento do ZapZap fez algumas melhorias em relação ao Telegram original, quase todas focadas em desempenho — uma das bandeiras do app é ser “o mais rápido do mercado, leve e preparado até para as piores redes de acesso”. Usando os dois apps em paralelo não consegui identificar as alardeadas vantagens salvo a tradução, mas fica aí o registro.

Ícone brasileiríssimo do ZapZap.
ZapZap.

Com 63 mil downloads em um mês no Google Play, o ZapZap já tem uma base se não considerável, digna de nota. Quando perguntado se esse sucesso não teria sido fruto de usuários distraídos que procuram pelo WhatsApp original usando seu apelido genuinamente nacional, Erick foi bem pragmático na resposta: “Acredito que não exista engano. WhatsApp é uma coisa, ZapZap é outra”. Medo de Zuckerberg? Que nada:

“Se [o Facebook] fizer [alguma coisa] acho legal, assim meu aplicativo só ficará mais famoso. Mas ele não tem como, nem a marca dele ainda foi registrada.”

Uma chance ao Telegram

O Telegram ganhou certa notoriedade quando o WhatsApp foi comprado pelo Facebook. A ideia de que a privacidade no app de mensagens pudesse ficar comprometida sob a nova gerência deu início a uma busca por alternativas.

Com um protocolo seguro, foco em segurança e APIs e código aberto, o Telegram é quase um projeto beneficente dos irmãos milionários Nikolai e Pavel Durov, co-fundadores da VK, maior rede social da Rússia. A história e a missão do Telegram, bem contada neste post do The Verge, é inspiradora. Mas é aquela coisa: ela é solenemente ignorada quando seus amigos o chamam pelo WhatsApp para combinar o bar de sexta ou mandar vídeos e fotos bobos naqueles grupos que vivem no mudo. Migrar uma base gigante e engajada para um app similar, ainda que melhor, é bem difícil.

Nesse sentido o ZapZap pode servir de atalho para o Telegram ganhar presença no país, por mínima que seja. No estágio atual, com 60 mil downloads (quantos continuam usando o app após baixá-lo, ninguém sabe), não faz nem cócegas no WhatsApp, que alega ter 38 milhões de usuários no Brasil. Mas antes 60 mil do que nenhum, certo?

Erick diz não ter planos muito ambiciosos para o ZapZap, apenas continuar atualizando o app para a base já instalada (“virou mania e todo mundo está usando”) e os novos usuários que virão. Com estratégias meio estranhas, como pedir aos usuários para clicarem nos anúncios a fim de fazê-los sumir (?) e sorteios de SIM cards do TIM Beta na página oficial do Facebook, o ZapZap mostra muita brasilidade e malemolência (e um pouco de ingenuidade) até em sua divulgação. Não deve desbancar o WhatsApp, mas é mais um símbolo que corrobora a criatividade do brasileiro, esse cara surreal e divertido.

 

Apresentando o Notation, o melhor app de notas para Windows

A coisa mais legal da Internet é que ela dá vazão a todo tipo de ideia, das mais simples às mais elaboradas, passando por outras ingênuas, megalomaníacas, simplesmente ruins… Há espaço para todas e, não raro, elas se espalham e chegam a outras pessoas com visões parecidas. Quando essa conexão rola e algo concreto sai dela, é hora de celebrar. Hoje é um desses dias.

Dois anos atrás publiquei, no meu blog pessoal, um extenso texto em que descrevi como seria o app de tomar notas ideal para o Windows. Foi um trabalho descompromissado, movido pela frustração de não saber programar e, consequentemente, não conseguir transformar aquela ideia em um app de verdade. Expliquei o app nos mínimos detalhes, do funcionamento às características, sem esquecer da aparência e aspectos circunstanciais, como sincronia com a nuvem e até o tipo de licença preferencial. Era assim que eu o imaginava:

Screenshot/mock-up do app de notas descrito em 2012.
Mock-up do meu app de notas, feito pelo Felipe.

Nos dias seguintes à publicação recebi alguns e-mails de programadores que leram aquele descritivo e se interessam pela ideia. Era a conexão surgindo. Uns até fizeram mock-ups ou começaram a trabalhar em cima dela, mas nenhum projeto foi para frente com uma exceção: o do Alison Robson. No dia 23 de janeiro de 2013 recebi este e-mail:

“Cara, há algum tempo li seu post ‘Como seria o aplicativo de notas ideal para Windows?’ e fiquei bem empolgado com a ideia. Na época eu estava sem tempo pra tocar esse projeto, então resolvi favoritar o seu post e me dedicar a ele assim que pudesse. Bom, essa semana arrumei tempo e coragem para dar início ao desenvolvimento do aplicativo. O resultado é que o aplicativo está quase pronto, inclusive a sincronização em tempo real com o Simplenote, precisando apenas de alguns ajustes.

Pra mim o único grande problema está em arrumar alguns beta testers a fim de ver como o app se comporta em outras máquinas/sistemas, por isso estou entrando em contato com você, talvez você pudesse me dar uma força recrutando gente para testar o SmplNote. De qualquer forma assim que estiver usável, te enviarei uma cópia pra você me falar o que achou!”

Era perfeito. Tinha alguns bugs e conflitos de interface, mas o grosso da coisa funcionava, e muito bem. O SmplNote, mais tarde rebatizado para Notation, se tornou nesse um ano e meio de testes, compilações e discussões, o melhor app para tomar notas no Windows.

Da ideia ao lançamento público

Foto do Alison Robson.
Alison.

O Alison é um analista de sistemas de 25 anos, pai do Dudu e da Dora, e extremamente dedicado. Tivemos um ótimo entrosamento nesse período de gestação do Notation, eu servindo de beta tester e palpiteiro, ele fazendo todo o trabalho de programar, corrigir bugs e otimizar o aplicativo. Nossos ideais andaram alinhados durante todo o projeto e isso facilitou bastante as coisas.

O Notation foi, segundo o Alison, todo feito em C#. Perguntei para ele qual o segredo da velocidade (ele abre instantaneamente e é muito econômico), e calhou que se trata apenas do bom, velho e subjugado esforço: “Para mantê-lo rodando sem consumir muitos recursos usei uma arquitetura bem simples e dei preferência a funcionalidades escritas a partir do zero ao invés de usar frameworks que visam facilitar o trabalho, mas que acabam cobrando o preço em desempenho”. Como começou aos 12 anos e munido de hardware limitado, com pouca memória e processadores lentos, ele aprendeu desde cedo a aproveitar ao máximo os recursos que tem à disposição.

Durante o desenvolvimento, o trabalho se dividia em blocos de três etapas: eu ou ele identificava um bug, alteração ou sugeria um novo recurso, o Alison programava e compilava uma build e, em seguida, avaliávamos o resultado na prática. O trabalho fluiu bem e mesmo quando tivemos algumas intempéries, como quando o Simplenote ficou maluco com as minhas +40 mil notas excluídas na lixeira, ou na ocasião em que o Alison migrou totalmente o back-end de sincronia com o Simplenote, conseguimos contornar as dificuldades.

Nesse meio tempo tivemos ajuda de outros beta testers: Jacque Lafloufa, Juan Lourenço, Felipe Ventura, Marcos Jhan e Vanderlei Ventura. A vocês, muito obrigado! Agradecimentos também ao Pedro Bojikian e ao Miguel Ferreira, ambos da Microsoft, por terem nos ajudado a livrar o Notation dos alertas de segurança da Microsoft — o app é limpinho e seguro, acredite!

Apresentando o Notation

Notation.
Meu Notation.

É bom gastar umas linhas para explicar o Notation, há um ano e meio uma janela que aparece todo dia no meu notebook.

O Notation é um app para tomar notas que sincroniza com o Simplenote, um serviço da Automattic que funciona de back-end para outros vários e possui apps próprios muito bacanas para Android e iOS.

Ok, apps de notas existem aos montes, começando pelos enormes Evernote e OneNote. Por que alguém trocaria um desses pelo Notation? Existem vários fatores, mas o campeão se chama velocidade.

O Notation abre com o Windows (opcionalmente) e pode ser chamado em qualquer lugar, a qualquer momento, apertando as teclas WinKey + N. Ele consome pouquíssima memória, é extremamente rápido e confiável, e está em sincronia constante com o Simplenote, sempre mandando o que é digitado para a nuvem.

Uma das exigências das minhas diretrizes era que o app fosse totalmente controlável pelo teclado. O Notation consegue isso. Mesmo pontos delicados, como os dois tipos de busca, na nota em foco e em todas elas, foram resolvidos – nesse caso, Ctrl + F pesquisa na nota, Ctrl + Shift + F, em todas.

Ele aceita Markdown e exporta o texto em HTML. Dá para fazer backup rapidamente, e importa-lo de volta com a mesma facilidade. Com um toque na tecla Esc, ele é ocultado, mas continua ativo; para trazê-lo de volta, basta recorrer ao WinKey + N.

Experimente o Notation

Como trabalho com texto, talvez parte da minha empolgação pareça exagerada a quem não tem um perfil de uso similar. É meio difícil conter a animação, afinal é tipo um pequeno sonho realizado!

Além de usar o Notation para escrever rascunhos de posts, recorro a ele para criar listas (de mercado, de gastos, de filmes vistos etc), anotações de aulas na universidade, lembretes, listas de tarefas… para basicamente tudo que envolva reduzir ideias ou fatos a texto.

Por mais redondo que o Notation seja, e ele está, há planos de expansão. Perguntei ao Alison o que ele acha que dá para fazer futuramente e tive como resposta boas ideias: versionamento de notas e uma interface imersiva.

O Notation é gratuito, está em português do Brasil e inglês, funciona no Windows Vista SP1 e superiores, e pede no mínimo CPU de 1 GHz e 512 MB de RAM.

O que este Nokia X estava fazendo no Submarino?

Nokia X à venda antes da hora no Brasil.
Imagem: @GordoGeek.

Ontem de manhã um produto curioso apareceu na vitrine virtual do Submarino: o Nokia X, smartphone de baixo custo que roda uma versão especial do Android, por R$ 599 — ou R$ 519 no cartão da loja. Divulguei o link no Twitter questionando se estava diante de um vazamento, um erro operacional ou qualquer coisa do tipo, afinal o Nokia X ainda não foi anunciado oficialmente no Brasil.

A resposta, vi minutos depois, estava na própria página. Não era o Submarino que estava vendendo o Nokia X, mas uma outra loja, a Shopmaxx, através do programa Submarino Marketplace.

Esse programa é parecido com o que a Amazon faz nos EUA. Lojas menores vendem através de uma maior (Amazon ou Submarino, nesses casos) para se aproveitar da exposição e recursos de divulgação mais robustos. Elas expõem seus produtos e lidam com a entrega, mas o processamento dos pedidos é feito pelo Submarino. Para participar do programa, é preciso ser aprovado em uma avaliação da loja maior.

A Shopmaxx é uma dessas. Seus preços estão dentro da normalidade e seus produtos se alternam entre smartphones, equipamentos fotográficos e acessórios. Como o Nokia X foi parar lá, então?

Falsificação ou importação

Existem duas possibilidades. A primeira, que se trata de um aparelho falsificado, como as inúmeras réplicas de iPhone que inundam o mercado cinza. A outra, mais provável, é de que se trata de um produto importado.

Essa prática é relativamente comum em lojas menores, que acabam servindo de atalho para quem quer comprar por aqui, pagando com cartão nacional e podendo parcelar, aparelhos recém-lançados lá fora ou que sequer chegarão ao país.

A própria Shopmaxx, em seu domínio, comercializa vários smartphones da HTC, fabricante que há dois anos abandonou o BrasilOutras também vendem aparelhos da fabricante taiwanesa.

Ah sim, e o Nokia X, que continua disponível na loja da Shopmaxx e por um precinho mais camarada: R$ 397 à vista.

Mesmo sem ter chegado oficialmente ao Brasil, Nokia X já é vendido.
Nokia X à venda no Shopmaxx.

O que dizem Nokia e B2W

Entrei em contato com a assessoria da Nokia para entender se houve equívoco de alguma parte. Eles foram categóricos: “Por enquanto, a Microsoft Devices do Brasil ainda não anunciou preços e disponibilidade dos produto para o mercado.”

Também apontaram que, no anúncio (já removido a pedido da Nokia), a descrição do produto indica que o Nokia X roda Windows Phone, o que não é verdade.

Ao Submarino, mandei um e-mail perguntando quem, nesse caso, arcaria com eventuais reclamações ou problemas com o produto. A página de apresentação do programa diz que a loja parceira determina as condições de venda, os produtos disponibilizados e a entrega, mas não prevê o que acontece em caso de reclamação; no máximo, diz que consumidores em dúvida sobre produtos de parceiros podem recorrer ao SAC para esclarecimentos. A resposta ainda não veio e o post será atualizado quando a receber.

Salvo uma ou outra exceção, o Brasil está bem servido de smartphones e, quando eles chegam, a imprensa cobre com bastante barulho. Embora eu não esteja colocando em xeque a idoneidade da Shopmaxx, comprar um smartphone que não foi lançado oficialmente aqui, nem homologado pela Anatel, implica por si só em alguns riscos — no mínimo a Nokia pode não se sentir obrigada a prestar garantia a um produto não lançado e, nessa, o consumidor ficaria na dependência exclusiva da loja, situação que nunca é uma boa.

Matei o Feed de notícias do Facebook

Nota do editor: há cerca de duas semanas notei um comportamento padrão: sempre que abria o Facebook para fazer alguma coisa pontual, como publicar um link na página do Manual do Usuário, perdia um tempão dando uma olhada no Feed de notícias. Resolvi, então, experimentar a extensão Kill News Feed, que elimina essa parte da rede social sem comprometer as demais. Estava planejando um texto sobre o assunto quando fui surpreendido por este, escrito pelo Fabio Bracht no Medium, que praticamente bate em tudo o que pretendia falar, das motivações aos resultados alcançados na prática.


Fiz um negócio esquisito: instalei uma extensão do Chrome para desativar o Feed de notícias do Facebook.

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[Review] G Flex: tela flexível, poderes de regeneração e alguns comprometimentos

Um smartphone grande chama a atenção, mas existe algo ainda mais chamativo: um smartphone grande e torto. Em todo lugar onde tirava (com um pouco de esforço) o G Flex, da LG, do bolso, as pessoas olhavam curiosas, perguntavam se estava tudo bem com ele e faziam cara de interrogação ao olhar para o aparelho curvado. Eu também fiquei assim quando o vi pela primeira vez. Passada a surpresa inicial, o que sobra? É o que responderei nos próximos parágrafos.

Um smartphone original por fora, mais do mesmo por dentro

O G Flex é um smartphone fora da curva. Custa caro, tem especificações boas e tecnologias pioneiras — além da tela flexível, o acabamento nas costas se regenera sozinho.

G Flex: lindo por fora, convencional por dentro.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Isso, a regeneração do plástico atrás, eu não testei, mas a demonstração dessa capacidade mutante é bem impressionante. Como contra, só a maior incidência de fiapos grudados e marcas de engordurar, maiores que a média. O toque nessa área é meio estranho também, parece que o plástico é “fofo”, mas na hora em que se aperta, ele não afunda. Na verdade tudo é meio esquisito ali atrás, para o bem e para o mal.

Os botões, todos concentrados na parte de trás, ainda preservam o frescor de novidade. Antes dele, somente o G2, onde essa intervenção fez sua estreia, e o G2 Mini trouxeram tal configuração. É… diferente, e ganha pontos positivos por liberar as laterais de botões. Na prática, entretanto, acabei não usando tanto esses botões em prol do knock on, uma opção que permite liberar e bloquear o aparelho dando dois toques na tela. Sempre uso isso quando disponível e é mais rápido e prático.

Os botões do G Flex ficam atrás.
Foto: Rodrigo Ghedin.

São poucas características que distinguem o G Flex do mar de smartphones high-end, mas em um segmento tão mais do mesmo, uma que seja já é suficiente para destacar algum modelo. Fora as três citadas acima, por dentro o G Flex é bem convencional: traz um Snapdragon 800, 2 GB de RAM e 32 GB de memória interna, especificações padrões dos aparelhos topo de linha do final de 2013, começo de 2014.

Apesar do tamanho, o G Flex é mais confortável de segurar do que outros de mesma estatura — no meu caso, uso o Lumia 1320 como parâmetro, o único outro de smartphone de 6 polegadas que já passou por aqui. Em relação ao modelo da Nokia, o G Flex é mais compacto; não sei dizer até que ponto a curvatura do corpo auxilia na ergonomia, pelo menos não em uso (na mão ou ao ouvido). No bolso ele se adapta melhor à coxa e embora ainda seja desconfortável na maior parte do tempo, vez ou outra dá para esquecer que o G Flex está ali.

A tela curva do G Flex

Para demonstrar a tela curva, um iPhone em cima do G Flex.
Foto: Rodrigo Ghedin.

As peculiaridades da tela vão além do seu formato côncavo. Ela nem precisaria ser assim. A sensação é que tanto LG, quanto Samsung com o Galaxy Round, “dobraram” suas telas para mostrar visualmente que elas têm essa propriedade. A grande vantagem da tecnologia, chamada P-OLED, é que por ser flexível ela não estilhaça quando se choca contra coisas duras, tipo o chão. Outro teste que não fiz por motivos óbvios, mas fica aí a esperança de que acidentes como este se tornem, no futuro, histórias para contarmos aos nossos netos.

Não duvido que lá na frente o P-OLED se prolifere e vire padrão na indústria. Antes disso, as fabricantes terão que contornar alguns inconvenientes vistos na tela do G Flex. Toda nova tecnologia tem, afinal, comprometimentos.

Não são problemas graves, só uns detalhes que em modelos AMOLED ou LCD atuais não são mais vistos. Começando pela resolução. Em um smartphone intermediário como o Lumia 1320 é compreensível a utilização de um painel HD (1280×720), afinal é preciso economizar em algum lugar para reduzir o preço final. O G Flex custa quase o dobro do Lumia 1320, é caríssimo sob qualquer ponto de vista, de modo que não há desculpa financeira para não trazer uma tela Full HD. A tecnologia simplesmente não está madura o bastante para alcançar esse nível.

Essa resolução não costuma ser ruim em telas menores — vide as do Moto X e Nexus 4, ambas com 4,7 polegadas e nenhuma reclamação em termos de definição ou qualidade. Espalhar a mesma quantidade de pixels em uma área maior, de 6 polegadas, é complicado. A densidade chega a 245 PPI, valor insuficiente para olhos mais críticos.

O P-OLED do G Flex funciona meio que como uma viagem no tempo para quem usou smartphones AMOLED há dois, três anos. Dependendo do ângulo, ela ganha uma tonalidade verde e algumas cores, como o azul claro (tipo os botões de responder nos comentários do Manual do Usuário) deixam um rastro ao rolar a página. Além do preço de etiqueta, existem outros que early adopters costumam pagar. No caso do G Flex, uma tela aquém do que se espera de um smartphone topo de linha em 2014.

Desempenho, personalização e autonomia

G Flex de costas.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Não há muito do que queixar em relação ao uso do G Flex, salvo o malabarismo que é preciso fazer nas tentativas de manuseá-lo com uma mão — a maioria, frustrada. Nesse sentido, aliás, o Android da LG traz alguns truques para aproveitar a grande área útil disponível, sacadas legais como a fileira extra de números do teclado, a capacidade de jogá-lo para um dos lados a fim de facilitar a digitação com uma mão, e a divisão de dois apps na tela.

Além desses mimos úteis, esse Android (versão 4.2.2) ainda recebeu um tratamento estético parcial bem-vindo. O esqueumorfismo visto em smartphones anteriores da LG deu lugar a um padrão de ícones flat bem bonitos. Pena que as alterações estéticas se restringiram a eles; menus e outros elementos continuam com um visual de gosto duvidoso, e a salada nas configurações típica da empresa ainda se faz presente.

São tantas opções que, agora, a área de ajustes foi dividida em quatro partes. E piora: as melhores vêm desativadas por padrão, coisas como o método “swipe” do teclado, a firula que mantém a tela acesa quando a câmera frontal detecta um par de olhos a encarando, e aquela outra de silenciar uma chamada virando o aparelho de costas na mesa. Eu me pergunto o porquê dessas decisões, coisas que só não me intrigam mais do que o ringtone padrão para tudo fora ligações, o “life is goooood”. Não se ofenda, LG, eu sei que é seu slogan e até acho ele simpático, mas como ringtone, e com essa entonação, é um negócio bem irritante.

São problemas de usabilidade e complicações desnecessárias feitas em uma área ganha — bastaria usar o Android padrão do Google e acrescer os mimos positivos que estão enterrados ali nos ajustes. Ainda assim, não são impedimentos absolutos, nem algo muito grave na experiência de uso. Apesar de tentar, a LG ainda não conseguiu inviabilizar o uso do seu ótimo hardware. Dá para ser feliz com o G Flex, e boa parte disso decorre do ótimo desempenho que ele apresenta.

A bateria tem 3500 mAh e apenas compensa o tamanho do aparelho e da tela, que deve consumir mais energia do que modelos menores. Consegui sair de casa e voltar com energia em níveis pouco acima do que testemunho diariamente com um iPhone 5. Não salta aos olhos, mas dificilmente te deixará na mão.

Câmera

A câmera do G Flex tem 13 mega pixels e é apenas mediana. Ela apresenta algumas tendências meio chatas, especialmente a lentidão: nos testes, é comum ela recorrer a velocidades que variam de 1/20 a 1/30, o que pode ser tempo demais para fotos mais rápidas. Resultado: borrões nas suas fotos. A presença de um sistema de estabilização de imagens poderia amenizar esse problema, mas ele não existe.

Achei também o pós-processamento um pouco agressivo às vezes, o que prejudica o detalhamento e deixa alguns elementos, como rostos humanos, artificiais.

É uma câmera que poderia estar em qualquer modelo intermediário ou topo de linha, só não em um dos mais caros do mercado. Várias outras, de smartphones mais baratos, apresentam resultados melhores. No fim, ela não o deixa na mão, mas que exige mais do fotógrafo — cuidados com a iluminação, firmeza na hora do disparo, atenção aos modos disponíveis, como o HDR e por aí vai.

Alguns exemplos:

Exemplo de foto com o G Flex.
Velocidade de 1/30 com luz do sol resultou nisso. Foto: Rodrigo Ghedin.
Exemplo de foto HDR do G Flex.
HDR, velocidade 1/150. Foto: Rodrigo Ghedin.
Crop em 100% de uma foto feita com o G Flex.
Crop 100%, velocidade 1/2272. Faltou detalhamento na bomba de combustível. Foto: Rodrigo Ghedin.

Veja essas e outras imagens, em resolução natural, nesta galeria.

Boas ideias que precisam amadurecer

Com 6 polegadas, o G Flex é grande.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Há muito a se gostar no G Flex. Sua tela é charmosa (e legal para ver vídeos, faltou dizer!), a durabilidade é maior que a média graças ao painel P-OLED e à carcaça que se regenera, e apesar de persistir em alguns erros típicos dos seus Android, a LG mostrou que tem algum senso estético em software com o novo pacote de ícones.

Para quase tudo o que tem de bom, porém, sempre vem um “mas” na sequência. Ora é pela limitação da tecnologia, como os inconvenientes da tela; ora por decisões controversas nos rumos tomados no projeto, como as intervenções no Android. Na média o G Flex é um smartphone bacana, mas funciona melhor como curiosidade tecnológica do que como companheiro para o dia a dia.

E o preço agrava essa declaração: ele custa muito caro. R$ 2.699, para ser exato, ou, procurando bem, por até cerca de R$ 2.300 em lojas do varejo confiáveis.

O G Flex é quase uma prova de conceito. Como tal, ele cobra duas vezes, primeiro na fatura do cartão, depois nos poréns do uso cotidiano. Em outras palavras, com esse valor é possível pegar um smartphone que que faz mais e melhor, só que com a tela reta e dura. Não só possível, como recomendável.

Apesar das ressalvas, no geral gostei e vejo com bons olhos experimentações do tipo no segmento. Alguém tem que começar com essas novidades e de qualquer maneira acredito que a LG não colocou o G Flex no mercado esperando vender horrores. Seja lá quais foram seus motivos, méritos a ela por dar a cara a tapa e tomar a iniciativa.

Secret: no Brasil, ele terá desabafos comoventes ou fofocas maldosas?

O Secret, um dos apps mais comentados dos EUA, finalmente liberou as amarras e expandiu-se para o mundo todo. Não só: no mesmo dia, também ganhou uma versão para Android. Desde que foi lançado ele já funcionou como gatilho de polêmicas, furos e barrigadas, sem falar na fofoca pura e deslavada que não acrescenta nada a ninguém, salvo humilhação e danos psicológicos. Essa história se repetirá no Brasil?

Mais um de uma lista crescente de apps anônimos, o Secret é como o Twitter, só que sem assinatura nos posts. Basta abri-lo, escrever uma mensagem, selecionar um fundo (opcional) e publicar. Seus amigos do Facebook saberão que alguém do círculo mandou a mensagem, mas não quem. Se repercute bastante, ela quebra a barreira dos amigos e chega a estranhos, apenas identificada pela cidade, estado ou país onde foi publicada.

Screenshot de um segredo no Secret.
Apenas mais um segredo compartilhado no Secret.

A mesma lógica é seguida por outros, como o WUT. Outra linha desses apps vai além: não pede informação alguma e se baseia em um cadastro, ou nem isso, para liberar o acesso, usando a localização dos usuários para destacar mensagens, casos do Whisper, Yik Yak e FireChat. Em comum, o estímulo à divulgação de fatos e opiniões que, não fosse o anonimato, jamais se tornariam públicos.

Alexis Ohanian, uma das investidoras do Secret, defende o lado terapêutico da experiência: “apps como o Secret viram saídas para as pessoas falarem honestamente sobre coisas que, de outra forma, resultariam em danos à carreira”. Esse uso é de fato recorrente lá — neste momento, por exemplo, a última atualização diz “Eu quero fugir e entrar no circo, mas aos 30, temo estar velho. Ainda tenho muito a aprender”. Só que entre desabafos sinceros, alguns comoventes, nada garante que não aparecerão fofocas perigosas ou maldosas.

A saída de Vic Gundotra do Google, muito antes de ser anunciada pelo próprio, vazou no Secret. Antes disso, uma brincadeira tola virou uma bola de neve: alguém entediado publicou que a Apple estaria desenvolvendo uma versão biométrica do EarPods, seus fones de ouvido. Parte da imprensa comprou o rumor e ele se alastrou rapidamente.

Esse burburinho no Vale do Silício gera consequências, mas é em círculos reduzidos, em pequenas comunidades ao redor do mundo, que os app anônimos têm o potencial de causar mais estragos, com marcas mais profundas e mais duradouras em pessoas comuns, como eu e você.

Screenshots de apps anônimos.
Da esquerda para a direita: WUT, Whisper e FireChat.

Will Haskell relatou na The Cut a devastação que o Yik Yak, outro app de mensagens anônimas locais, causou em sua escola: “Quando você assiste a um filme bobo sobre adolescentes no ensino médio, faz uma careta para a clássica cena em que os corredores estão cheios de estudantes, todos sussurrando as mesmas fofocas. Foi exatamente o que aconteceu na tarde de quinta na [escola] Staples.” Meninas e meninos chorando pelos corredores, chamando por suas mães, mudando de escola foram vistos naquela quinta. Nem o diretor, que já havia lidado com outros casos (sexting via Snapchat e bullying no Facebook), conseguiu conter a situação.

O anonimato enche as pessoas de coragem e, em certa medida, libera os grilhões do comedimento. A sensação de impunidade tem esse efeito colateral, e… bem, na real? O que temos testemunhado é que nem é preciso esconder o nome para que as pessoas revelem suas facetas sombrias. Basta ver as atrocidades que muita gente publica no Facebook. Se nem a cara, o nome completo, o local de trabalho e os amigos do cidadão assistindo ao espetáculo são capazes de frear comportamentos absolutamente reprováveis, o que esperar de apps como o Secret?

Se ele pegar por aqui, em breve descobriremos. Não é o primeiro do gênero; WUT e Whisper estão disponíveis faz tempo, mas até onde se sabe não ganharam tração. O Secret, pela fama que fez rapidamente nos EUA e sua dinâmica, parece ter algo diferente, único. Nessa primeira noite disponível por aqui, já foi possível perceber uma movimentação local.

Imagine o estrago quando uma fofoca polêmica estourar lá dentro, talvez uma relacionada à política, e envolverem a justiça no rolo, artigo 5º da Constituição, essa coisa toda.

Marco Civil, prepare-se: você está prestes a mostrar a que veio.

Foto do topo: Tambako The Jaguar/Flickr.

Surface Pro 3: maior, mais fino e mais leve, agora de olho no MacBook Air

Surface Pro 3 com TypeCover e stylus.
Foto: Microsoft.

Nada de Surface Mini. No último evento da Microsoft, a empresa mostrou a nova versão do Surface Pro, ou Surface Pro 3. Desta vez o gadget mudou bastante, a ponto de alterar seu posicionamento. Agora vai?

Se do Surface Pro para o Surface Pro 2 tudo o que se viu foram atualizações incrementais, no Surface Pro 3 temos um gadget totalmente novo. A tela cresceu, de 10,6 para 12 polegadas, ele ficou mais fino e mais leve, e agora conta com ainda mais opções de configurações — além de RAM e armazenamento, dá para escolher o modelo do processador, Core i3, i5 ou i7. A pré-venda começa hoje em mercados selecionados (Brasil de fora), mas a entrega levará um tempo ainda; a versão intermediária (Core i5) chega em 20 de junho, as outras, em agosto.

Além de crescer, a tela ganhou mais resolução (2560×1440) e, mais importante, teve a proporção alterada para 3:2. Nunca entendi por que tablets Android e Windows vêm com telas 16:9; a área útil vertical fica tão limitada… Sem contar que normalmente utiliza-se esse tipo de gadget bem mais no modo retrato. Era uma escolha que não fazia lá muito sentido na prática. Pois bem, não é mais o caso, pelo menos com o Surface Pro 3.

Kickstand do Surface Pro 3.
Foto: Microsoft.

Outra crítica recorrente que parece ter sido sanada foi o Kickstand, o “pézinho” que segura o dispositivo de pé sobre uma mesa ou outra superfície. Agora, ele abre até 150º e não está limitado a posições pré-estabelecidas (uma no Surface Pro original, duas no seu sucessor). Qualquer ângulo dentro desse intervalo pode ser usado e, pelas impressões iniciais de quem esteve no evento, o mecanismo passa a confiança de que durará a vida útil do gadget sem “amolecer”.

Essas e outras mudanças, reforçadas pela apresentação em Nova York, reposicionaram o gadget. A sensação geral é de que a Microsoft desistiu de disputar espaço com o iPad e partiu em uma investida contra o MacBook Air. Como alguém disse por lá, o Surface Pro 3 não é um tablet em que você coloca um teclado, mas um notebook que permite que o teclado seja removido. Essa percepção dá uma nova dinâmica à aos números. Ele é pesado, com 800 g? Sim, mas comparando ao MacBook Air com mais de 1 kg… E esses 9,1 mm, o deixam muito grosso? Talvez, mas já viu a espessura de um Ultrabook? É o equipamento com Intel Core mais fino já criado, um feito da engenharia, mas isso não diz muito se você o encara como um tablet. E ele ainda tem ventoinha.

A TypeCover também passou por melhorias. Com o aumento físico do Surface Pro 3, ela também cresceu. O touchpad, muito criticado (e, convenhamos, inútil) nas iterações anteriores, ganhou mais atenção: está maior e mais sensível. Por fim, uma stylus continua presente no pacote e, além de ganhar variação de pressão, tem uns truques legais, como acordar o equipamento e salvar anotações do OneNote apenas apertando botões nela própria.

A Microsoft diz que o Surface Pro 3 é o tablet capaz de substituir notebooks, mas a grande questão, que não responde, é se alguém que use e confie em notebooks quer, de fato, trocá-lo por um tablet grandão. A TypeCover continua a ser vendida separadamente (US$ 129) e o preço base do Surface, de US$ 800, é da versão com Core i3. Junta, a dupla passa o valor do MacBook Air básico nos EUA (US$ 899), um aparelho consolidado e reconhecidamente bom.

Não sei se essa abordagem é melhor, e questiono, junto a outros, se é pelos híbridos que o público anseia. Essa é a premissa não só do Surface, mas do Windows 8, e uma que pouca gente tem comprado na prática. No review do ThinkPad 8 para o The Verge, David Pierce descreveu bem essa guinada nas expectativas quanto a gadgets de consumo tudo-em-um:

“(…) E o ThinkPad 8 pode ser um desktop, mas é mais um tablet. No geral, com algumas exceções notáveis, um bom [tablet].

Não acho que esse seja o futuro, porém. Não caminhamos para um mundo onde quando eu estiver saindo do escritório, desconecto meu tablet do mouse, teclado e monitor de 27 polegadas, para depois plugá-lo em um teclado-dock ou na minha TV quando chegar em casa. Em vez do hardware ser agnóstico em situações, nossas vidas estão se virando agnósticas em hardware.

Quando eu abri o ThinkPad 8 pela primeira vez, levei três minutos para deixá-lo do jeito que eu queria: fiz login, abri a Loja [do Windows], clique em ‘Selecionar tudo’ e ‘Instalar’, e o Windows cuidou do resto. Todas as minhas configurações, todos os meus dados, até mesmo minhas credenciais de serviços esperam por mim atrás de uma única senha.”

Sobram tentativas frustradas de consolidar vários gadgets em um só, do próprio Surface e todos os híbridos lançados nos últimos dois anos, passando pelo Ubuntu for Android, os lapdocks da Motorola… O mundo é “device agnostic”, nossos arquivos e configurações estão na nuvem; por que conviver com comprometimentos se podemos usar hardware específico para cada situação sempre sincronizados?

Alguns hands-on: The Verge, Engadget, AnandTech.

Duas tendências dos smartphones em 2014: aparelhos bons baratos e telas gigantes como padrão

Moto E, um smartphone bom e barato, uma das tendências de 2014.
Foto: Motorola.

Estamos chegando à metade de 2014 e algumas tendências no mercado de smartphones já podem ser observadas. Duas, nos extremos da tabela de preços, têm chamado a atenção: a qualidade dos modelos de entrada e o tamanho dos high-end.

Ano passado, fiz neste Manual do Usuário um comparativo ingrato entre quatro smartphones baratos — o teto era de R$ 500. Deles, dois passaram pelo teste e os classifiquei como boas opções; os outros, sem condição. Apesar do parecer positivo, ambos os aprovados contavam com restrições relativamente graves: a tela do RAZR D1 é bem ruim e o Lumia 520 sofre com a falta de apps decentes do Windows Phone.

Entra 2014 e, logo de cara, a Sony lança o Xperia E1, sucessor de um dos “sem condição” do referido comparativo, o Xperia E. Ainda está longe de ser um smartphone ótimo, livre de críticas, mas o salto evolutivo é notável. O E1 é um aparelho mais rápido, com acabamento melhor e uma tela bacana. Com a redução de preço, é uma oferta tentadora a partir de R$ 399.

Recentemente foi a vez da Motorola, que já tinha chacoalhado os segmentos de ponta (Moto X) e intermediário (Moto G), entrar na disputa pelo de baixo custo com o Moto E. Ainda não testei um, mas há motivos de sobra, pelo histórico recente da empresa e pelo que andam dizendo, para confiar na qualidade dessa nova aposta.

Se há dois anos qualquer smartphone abaixo de R$ 1.000 era um suplício, hoje dá para viver confortavelmente gastando R$ 500 — ou US$ 150, lá fora. Agradeça à evolução dos componentes, ao barateamento da produção e à concorrência.

Homem segurando HTC One (M8).
HTC One (M8): tela de 5 polegadas. Foto: Kārlis Dambrāns/Flickr.

No outro extremo, vemos os smartphones high-end. O último bastião abaixo das 5 polegadas no universo Android, o One, da HTC, quebrou essa barreira na encarnação 2014. Nos domínios da Microsoft, novos Lumias chegaram às 6 polegadas, inaugurando o conceito de phablets na plataforma. A única exceção a essa tendência de crescimento, o Xperia Z1 Compact, com tela de 4,3 polegadas, ficou limitada a alguns mercados, Brasil não incluso.

Por aqui resta, então, o iPhone como único aparelho de ponta pequeno. Mas se os rumores estiverem corretos, e já faz alguns anos que eles acertam com bastante precisão, a Apple está colocando fermento na fórmula do seu celular e deve apresentar, em breve, um iPhone grande — uns falam em 4,7 polegadas, outros chegam a cogitar 5,5 polegadas.

Devido às análises do Manual do Usuário, uso diferentes smartphones de tamanhos variados regularmente. No dia a dia, saí de um Nexus 4 (4,7 polegadas) para um iPhone 5 (4 polegadas). A adaptação inicial foi incômoda, mas rápida e quando completa, passou a fazer sentido carregar uma tela menor no bolso.

Um telão tem lá suas vantagens e, dependendo do usuário, pode aglutinar dois equipamentos em um só (smartphone e tablet, como aposta a Huawei com o MediaPad X1), mas há espaço para aparelhos pequenos. Para mim, o intervalo entre 4 e 4,5 polegadas é o ideal, com exceções como o Moto X que, mesmo com uma tela de 4,7 polegadas, passa a sensação de ser menor — cumprimentos às bordas reduzidas e ergonomia de alto nível.

É incrível o tanto de smartphones disponíveis no mercado atualmente, e chama a atenção, curiosamente, como nem com essa abundância existam opções para todos os públicos. Ao que tudo indica, em breve mais um ficará à deriva: aqueles que preferem aparelhos de última geração que caibam no bolso. Seria o caso de pedir bolsos maiores à indústria têxtil?

WhatsApp indisponível ilustra o grave problema dos apps ruins para Windows Phone

Se você tem o WhatsApp no Windows Phone, não apague!
Foto: Rodrigo Ghedin.

No último fim de semana o WhatsApp sumiu da loja de apps do Windows Phone sem explicação alguma. Algum tempo depois, os desenvolvedores explicaram ao WPCentral o motivo do sumiço: resolver problemas técnicos. Esse caso ilustra uma situação maior e mais grave na plataforma, a da (falta de) qualidade dos apps.

A justificativa completa do WhatsApp foi a seguinte:

“Infelizmente, devido a problemas técnicos, escolhermos remover o WhatsApp Messenger da plataforma Windows Phone. Estamos trabalhando junto à Microsoft para resolver esses problemas e esperamos retornar à loja rapidamente. Pedimos desculpas aos nossos usuários pela inconveniência temporária.”

Como lembrou o Gizmodo Brasil, é a segunda vez que isso acontece. Em outro post do WPCentral, do final de abril, Daniel Rubino notou que o WhatsApp estava há quatro meses sem receber atualização, qualquer uma, por menor que fosse, no Windows Phone. Descaso que nem de longe é exclusividade desse app.

Usuários reclamam do WhatsApp para Windows Phone.
Comentários ao WhatsApp, na loja de apps do Windows Phone.

Os apps populares chegaram, mas eles decepcionam

Ano passado, quando Instagram e Waze foram liberados para o Windows Phone, disse que ter apps populares era a solução para o sistema ganhar tração. Hoje, pode-se dizer que essa é parte da solução. Com grandes nomes disponíveis e alguns apps alternativos suprindo lacunas (Poki para Pocket, 6snap para Snapchat, por exemplo), não é difícil substituir os mais populares de Android e iPhone na plataforma da Microsoft. Mas substituir à altura? Aí a situação complica.

Curiosamente, são de desenvolvedores independentes, que trabalham geralmente sozinhos e gostam da plataforma, os apps mais bem resolvidos e ativos, como os dois citados acima. Das grandes empresas, costumam perceber apenas indiferença. Há um aparentemente grande esforço para lançar apps, mas a manutenção e o acréscimo de funções que se seguem, ou que deveriam seguir, são bem menos frequentes.

Apps como Instagram, Twitter, WhatsApp, Foursquare e Tumblr são, no Windows Phone, experiências inferiores, passageiros de segunda classe. Não recebem atualizações, não ganham novos recursos, com sorte continuam funcionando. E funcionando mal, porque já de início eles não oferecem a mesma qualidade que em outras plataformas mais maduras.

De quem é a culpa? Conversei com o Guilherme Manso, entusiasta do Windows Phone, para tentar entender o que ocorre. Ele apontou alguns problemas, como o posicionamento do sistema ante os concorrentes em um distante terceiro lugar, o baixo investimento das empresas em desenvolvedores e designers especializados em Windows Phone, o uso de ferramentas de conversão automática que geram apps feios ou lentos — muitas vezes, ambos. Não é um problema simples ou fácil de se resolver.

Um longo e trabalhoso processo

Ter uma presença tão ampla quanto a Microsoft tem também parece afetar indiretamente o sistema. Críticas à falta de apoio da empresa costumam aparecer aqui e ali. Nesta, Bryan Biniak, então VP da Nokia responsável por fomentar o desenvolvimento de apps, disse:

“Para dar-lhe uma razão para mudar [para o Windows Phone], preciso ter certeza de que os apps com os quais você se importa não só estejam no seu dispositivo, mas que sejam melhores. Também preciso oferecer experiências únicas que você não obtém em outros dispositivos.”

Antes, ele aponta o Xbox como exemplo positivo do que deve ser feito. A exemplo do Windows Phone, o video game da Microsoft também chegou atrasado à festa — bem atrasado, quase dez anos em relação à Sony e algumas décadas depois da Nintendo. Oferecer conectividade via Internet como parte indissociável do pacote e grandes jogos exclusivos, como Halo, ajudaram a alavancar a popularidade do console.

Cadê o Halo do Windows Phone? Que recurso único ele tem que nenhum outro oferece? Pois é.

Em um AMA recente no Reddit, Joe Belfiore, VP corporativo de Windows Phone e o cara do sistema dentro da Microsoft, detalhou as dificuldades para trazer apps ao Windows Phone, um relato sincero e coeso:

“Apps, como a maioria das coisas no desenvolvimento de software, são uma maratona, não uma corrida curta. E não estou dizendo que chegamos lá — como você [o autor da pergunta] aponta, existe trabalho a ser feito. Fundamentalmente, os ISVs [desenvolvedores] que escrevem esses apps estão fazendo decisões de negócio sobre como eles podem fazer mais dinheiro — e na medida em que o WP cresce, e que a Microsoft investe tempo e dinheiro em apps, e que a plataforma se torna melhor/mais forte… mais e mais apps têm aparecido.

Então — estando no terceiro lugar, é mais difícil para nós conseguirmos esses apps –, mas acho que temos feito grandes progressos nos últimos dois anos. Não estamos descansando sobre nossas glórias. Nós (e não apenas nós… eu) estamos visitando os ISVs, procurando ideias que possam ajudá-los a crescer seu volume e engajamento entre usuários, oferecendo a eles fundos e ajuda no desenvolvimento — e em alguns casos, estamos alocando até nossos próprios times/desenvolvedores para escrevermos nós mesmos os apps.

Você está vendo esses resultados através de apps conhecidos APARECENDO (Instagram, ano passado), e um crescimento nas médias das avaliações da loja [de apps] — observamos TODOS os lados do problema. No momento, estamos focados PRINCIPALMENTE em continuar a OBTER apps-chave — ainda que ultimamente, com mais desses surgindo, tenhamos mudado um pouco em direção a melhorar os atuais.”

De fato não é um trabalho simples, ou fácil, mas o usuário médio, aquele que só quer um smartphone para falar com os amigos via WhatsApp, não compreende (e nem tem o dever) esses problemas internos.

Apple e Google fazem as pazes nos tribunais para combater um inimigo comum: o sistema de patentes

Fachada de uma Apple Store.
Foto: Adam Fagen/Flickr.

Em várias partes do mundo, com maior incidência nos EUA, empresas de tecnologia vão aos tribunais regularmente reclamar da concorrência. Não por estratégias de marketing ou táticas de vendas agressivas, mas por infrações de patentes. Indo na contramão dessa tendência, sexta-feira Apple e Google anunciaram um cessar fogo que pode, em última instância, beneficiar a todos.

Nos últimos anos a Apple apareceu bastante no noticiário pelo afinco com que recorreu aos tribunais para defender suas propriedades intelectuais. O caso mais famoso, ainda em trâmite, foi o processo movido nos EUA contra a Samsung, uma rixa quase pessoal do ex-CEO Steve Jobs, que a classificou como “guerra termonuclear” e foi motivada principalmente pelas similaridades entre o Galaxy S, da concorrente, e seu iPhone.

Batalhas judiciais paralelas se desenrolaram contra HTC, Motorola e outras, as quais somadas com imbróglios alheios, transformaram o setor da alta tecnologia de consumo em uma intrincada rede de acusações. O infográfico abaixo, do começo de 2012, dá uma boa dimensão do emaranhado que são essas relações:

Infográfico mostrando processos entre empresas de tecnologia.
Quem processava quem em janeiro de 2012. Infográfico: Verizon/PCMag.com.

Em 2010 a Motorola, então independente, acusou a Apple de infringir algumas das suas patentes, incluindo relacionadas à 3G e essenciais ao funcionamento de um smartphone. A Apple contra-atacou, e a disputa vem se desenrolando desde então em uma corte na cidade de Chicago. Ou vinha, já que o anúncio da última sexta pôs um fim nela e em outras envolvendo as duas.

Com a compra da Motorola Mobility em 2012, o Google levou seu portifólio de patentes e herdou as disputas judiciais da empresa adquirida. O Google atua em processos de fabricantes que usam sua tecnologia, como no talvez maior caso do gênero nos EUA, a já mencionada disputa entre Apple e Samsung, mas nesse caso se viu envolvido diretamente como parte — e como a venda da Motorola Mobility à Lenovo ainda não foi finalizada, ela continua respondendo nele.

Na declaração conjunta que encerrou essa disputa, as duas se comprometeram a, além de retirarem as acusações (cerca de 20, nos EUA e Alemanha, segundo o GigaOm), cooperarem na reforma do sistema de patentes. A mensagem foi a seguinte:

“Apple e Google concordaram em remover todos os processos em trâmite que existem diretamente entre as duas empresas. Apple e Google também concordaram em trabalhar conjuntamente em algumas áreas da reforma de patentes. O acordo não inclui trocas de licenças.”

O sistema de patentes norte-americano é duramente criticado pela abrangência e facilidade com que aprova pedidos, mesmo os mais absurdos. Um caso recente foi a patente conquistada pela Amazon para fotografias de coisas contra um fundo branco. Outra, mais antiga, foi a conversão para links de certas mensagens encontradas em mensagens de e-mail, base de um dos processos da Apple contra a HTC. Para além dos smartphones, encontramos coisas ainda mais descabidas, como a patente da roda (?) e a de um penteado para disfarçar a calvície.

É por essas e outras que a decisão conjunta de Apple e Google transcende as implicações jurídicas que decisões do tipo têm. Na real, essas disputas são mais sobre intimidação do que reparação monetária; alguns milhões de dólares não fazem nem cócegas em quem lucra bilhões a cada trimestre. A consequência mais importante desse anúncio é o desejo compartilhado de reformar um sistema que invariavelmente tira o foco da inovação e drena recursos que, de outra forma, poderiam ser investidos no aperfeiçoamento e barateamento da tecnologia.

Por que tanta gente assiste a vídeos de jogos no YouTube e no Twitch?

Google pode comprar Twitch.
YouTube + Twitch?

Fontes da Variety dizem que o Google, através do YouTube, está na iminência de anunciar a compra do Twitch por mais de US$ 1 bilhão. O serviço é uma plataforma gratuita de streaming de vídeos feitos por proprietários de consoles de última geração. Parece muito dinheiro? Talvez — o próprio YouTube foi comprado em 2006 por US$ 1,65 bilhão –, mas há interesse e dinheiro nesse mercado de streaming. Por mais estranho que pareça a quem é de fora, ver gente jogando é um grande filão.

Lançado em meados de 2001 por Justin Kan e Emmett Shear, cofundadores do Justin.tv, o Twitch alcançou rapidamente o status de local para transmitir e assistir vídeos ao vivo de jogos. Ele vem incorporado nos novos consoles (Xbox One e PlayStation 4) e PC, e já foi palco de experimentos curiosos envolvendo jogos, como o Twitch Plays Pokémon e o robô que joga Threes, um sensacional e difícil jogo para smartphones. A empresa diz receber mais de 45 milhões de visitantes únicos por mês.

Números grandiosos e a crescente popularidade das transmissões ao vivo de jogatinas dá nós na cabeça de quem está fora desse universo. Por que alguém assistiria a uma mídia criada para ser jogada, para ser interativa?

Um fenômeno mais conhecido é o dos vídeos de Minecraft. São muitos canais, aqui e lá fora, recheados de aventuras, reuniões de amigos, MODs malucos. Esses canais desfrutam de popularidade e faturamento em cima da flexibilidade que o jogo oferece. Em sua análise, o Aquino comenta as alegrias que compartilhou com seu filho, companheiro de aventuras no jogo da Mojang:

“Temos nossas próprias lendas, momentos de alegria e tensão alternados em um mundo que forjamos na medida em que descobrimos. (…) Com desafios auto-impostos vem problemas auto-impostos e narrativas pessoais que não podem ser replicadas. É a tal da narrativa emergente.”

É isso o que se compartilha nos vídeos de Minecraft. E essa é só uma das possibilidades. Nos e-sports, partidas tão frenéticas e tensas quanto uma final de futebol são vistas por muita gente. Finais de futebol virtual, inclusive.

O confronto derradeiro do mundial de League of Legends ano passado foi visto por 32 milhões de pessoas; a final do “brasileirão”, por mais de 8 milhões. Todo ano a EVO, torneio mundial de jogos de luta, comove uma parte considerável da Internet. Eventualmente, recompensa o público com batalhas memoráveis.

EVO 2004 Daigo vs Justin

Ver pessoas fazendo algo que está ao alcance de todos em um nível acima da média é o que faz a audiência desses canais. É a mesma lógica dos esportes.

Embora desempenhe um papel importante nesse contexto, o YouTube não fincou sua bandeira no vídeo ao vivo. Daí o interesse (e o caminhão de dinheiro) do Google para ser relevante em uma das poucas subáreas da área “vídeo na Internet” em que não está absurdamente distante do segundo colocado.

Nem Google, nem Twitch confirmaram ainda o negócio, e caso ele se concretize, provavelmente passará pela avaliação dos órgãos regulatórios anti-monopólio dos EUA. Não que precisemos de mais provas, mas essa aí apenas soma contra àquela ideia, retrógrada, de que video game é só coisa de criança.

Swarm, novo app do Foursquare, troca gamificação por mais encontros reais com seus amigos

No começo do mês o Foursquare prometeu algo ousado: dividir seu app em dois. O original seria destinado a recomendar locais e dar dicas de estabelecimentos, uma parte que bem depois do lançamento do app se tornou prioridade para os desenvolvedores. Outro, inédito, receberia o que tornou o Foursquare conhecido, os check-ins e encontros com amigos. Ontem o Swarm, nome desse novo app, foi lançado, e outra divisão pode ser observada — desta vez, na recepção do público.

O Swarm está disponível para Android e iPhone, e é um trabalho bem feito, como tudo que tem saído do Foursquare nos últimos anos. Rápido, bonito, bem resolvido, ele pega todo o sistema de interação em tempo real do antigo e faz uma espécie de otimização seguindo dois princípios: 1) diminuir a fricção no uso do app; e 2) propiciar mais encontros em carne e osso entre seus usuários.

O e-mail de boas vindas do Swarm resume bem o que o que dá para fazer com o app. São três ações:

  • Quer se encontrar com amigos? Abra o app e veja quem está por perto.
  • Quer compartilhar o que está fazendo? O check-in nunca foi tão rápido e divertido.
  • Teve uma ideia de algo legal para fazer? Mande uma mensagem rapidamente para todos os seus amigos próximos.

Basicamente, é isso. Vejamos agora, pois, os pormenores dessa experiência e, principalmente, do que ficou de fora dela.

Adeus, check-in

Seus amigos aparecem de acordo com a localização no Swarm.
Tela inicial.

A interface do Swarm se divide em quatro áreas. Na primeira, os amigos são listados de acordo com sua posição em relação ao smartphone. Há quatro raios, que vão de 150 metros até “a uma distância muito grande”, gente de outras cidades. De cara o Swarm dá uma visão geral de onde seus amigos estão, mesmo que eles não tenham feito check-in.

Nesse contexto, o check-in como conhecíamos no Foursquare se tornou secundário e, em certa medida, desnecessário. O app tem a tecnologia e os smartphones modernos, os recursos para que a localização dos usuários seja “adivinhada” com precisão. Na prática, não é preciso sequer tirar o smartphone do bolso para que seus amigos saibam onde você está; o app sabe e se atualiza, ininterruptamente, em tempo real. Ao The Verge, o CEO Dennis Crowley foi direto:

“Veja bem, a razão da empresa, essa coisa toda, nunca foi construir um botão de check-in incrível.”

O check-in é apenas mais um sinal entre os vários que formam e explicam a base de estabelecimentos (ou venues) do Foursquare. Na época, foi necessário ante a rudimentaridade dos smartphones e APIs dos sistemas móveis.

Nada impede que você toque no botão de check-in e faça-o manualmente no Swarm, como era no antigo Foursquare. Ele continua existindo e é uma boa para quando se deseja informar exatamente o local da festa.

Mas não precisa, de verdade.

Soa invasiva essa estratégia, mas calma. Um dos problemas do Foursquare é, paradoxalmente, uma das suas vantagens: há pouca gente usando o serviço. No Brasil, a estratégia da TIM com o TIM Beta deu uma força, ainda que a maior parte do povo que se cadastrou no Foursquare para ganhar pontos (ou seja lá o que se ganhava naquilo) não use o serviço regularmente e, pior, saia adicionando desconhecidos num ritmo alucinado e sem qualquer critério.

Como ativar e desativar o compartilhamento.
Este GIF ilustra bem.

De qualquer forma, essa restrição permite que se crie uma lista de amigos mais íntimos. Recusar um convite ou dar unfriend são atos menos solenes aqui, e nessa o perigo de ir a um bar e aquele cara que fazia bullying contigo na escola e te adicionou ano passado no Facebook aparecer do nada, diminui bastante. Lidar com essa multiplicidade de gente é um dos grandes desafios do Facebook que, aliás, recentemente liberou uma função parecida com o Swarm.

Além dessa vantagem (discutível, mas vá lá, ainda é uma vantagem), existe uma “chave geral” na barra do topo, o compartilhamento do bairro. Arrastando-a para a direita, ela fica laranja (ativada) ou cinza. É esse interruptor que denuncia sua posição. Se você estiver em um jantar a dois e não quiser ser importunado pelo seu amigo Stifler, basta desativar o Swarm e sua carinha sumirá do radar. Simples e eficiente.

Chamando os amigos para o rolê pelo Swarm

Das outras três áreas, duas são conhecidas: notificações e um listão em ordem cronológica inversa dos check-ins dos seus amigos. A terceira, chamada Planos pela vizinhança, é nova. E promissora.

Os planos do Swarm permitem organizar encontros rapidamente.
O plano de John.

Ainda bastante precária, ela permite chamar a galera para fazer alguma coisa. É como um evento no Facebook, só que descomplicado. Na verdade, descomplicado demais: a brincadeira consiste em deixar uma frase explicando o que e onde será o encontro. Isso dá margem para usos inusitados, do tipo “vou comprar sapato na loja ‘X’, alguém me ajuda?”, ou triviais, como “vamos no bar?”. Quem topar, clica em um botão confirmando o interesse e pode deixar um comentário. Tudo bem “aberto”, como se fosse uma obra de arte na visão do Umberto Eco.

O Swarm ainda é “8 ou 80” nessa questão das amizades. Não dá para criar um plano e segmentar os convidados, todo mundo fica sabendo de tudo. E… bem, a gente sabe que na vida não é assim, que temos diversos círculos de amizades e que sermos o laço que os une não significa que todo mundo se dará bem com todo mundo.

Modificar esse comportamento acrescentaria camadas extras de complexidade, e no momento isso parece ir contra os anseios do Foursquare, em especial contra o intuito de diminuir a fricção no uso do serviço. Talvez mude no futuro, mas só vislumbro essa movimentação se o Swarm cair no gosto do público mais mainstream. Será só assim, também, que a função de planos terá alguma utilidade. No papel, pelo menos, reforço: ela é bem promissora.

Cadê minhas medalhas? E minhas prefeituras?

Não é de hoje que o Foursquare busca se desvencilhar do check-in e, modo geral, do aspecto de gamificação. Aspecto que, para alguns, é a melhor parte da brincadeira. Medalhas, pontos, competição, prefeituras incentivam o uso do app nesse meio.

Tudo isso sumiu no Swarm*. A digestão dessa novidade depende de como você encara o Foursquare. Para mim, não faz muita falta; para Rafael Silva, 26 anos, colunista de tecnologia da Oi FM, sim:

“Eu não curti muito não [o fim da gamificação]. Queria mais badges e continuar no ranking de pontos e tal. Isso me motivava mais a dar check-in, ter uma disputa com meus amigos para ver quem ficava no topo. Agora não tem mais, perdeu parte da graça pra mim.”

* As prefeituras, na verdade, continuam existindo. A diferença é que agora elas não são centralizadas e cada círculo de amigos terá uma. Explicações mais detalhadas aqui.

Conversei com o Rafa, usuário bastante ativo do Foursquare há um bom tempo, sobre o novo app Swarm. Além da insatisfação com o fim dos badges e prefeituras, ele também citou o comportamento estranho do Foursquare, atualizado um dia antes para “receber” o Swarm. Ainda se faz check-in por lá, mas sua sua interface foi bastante simplificada. Pelas declarações dadas ao The Verge, é uma situação temporária enquanto o reformulado Foursquare, com foco em recomendações e dicas, não chega.

Ainda dá para fazer check-in e mencionar amigos no Swarm.
Check-in tradicional.

Meia década depois do seu laçamento, o conceito do check-in não vingou. Pior: passou de necessidade a um estorvo. Ele só é popular entre o pessoal da tecnologia e comunicação. Junto ao público menos aberto à premissa do app, parte majoritária, é uma dinâmica que soa quase anormal. “Por que você fica falando pra todo mundo onde está?”, e “Nem chegou e já vai fazer check-in!?” são comentários que ouço com frequência. Dá para entender a cara de interrogação que as pessoas fazem.

Para ser popular e fazer dinheiro com isso, um app ou serviço precisa demonstrar valor e ter uma base generosa de usuários. Na estratégia do Foursquare, é mais fácil alcançar esse estágio com recomendações de locais e dicas do que com um joguinho simples e pouco estimulante. Qualquer um que já recorreu ao serviço para encontrar um restaurante maneiro em uma cidade estranha, ou até mesmo onde mora, sabe que essa parte funciona muito bem.

Sendo assim, por que não focar nela? Para conseguir esse foco era preciso tirar o botão de check-in do centro da experiência do Foursquare — ele intimida, respinga em toda a experiência de uso e acrescenta complexidade à toa. Rachar o app em dois foi, portanto, a saída eleita — e uma das mais espertas. Felipe Cepriano, 23 anos, analista de software na IBM, usa o Foursquare desde 2009, acumula mais de 2200 check-ins e também acha que a divisão em dois apps é uma boa:

“Por um lado eu acho meio chato, precisar de dois apps pra fazer algo
que antes ficava em um só. Mas não vejo muito como implementariam
recursos novos, como os Planos, sem poluir a interface do Foursquare.
Separando o lado social do lado “discovery”, fica mais fácil. E tem
muita gente que gosta de conhecer lugares mas fica intimidada pela
interface do Foursquare: Uma conta nova mostra só uma timeline vazia,
e pouco fala de lugares novos pra descobrir.”

O Swarm aproveita muito bem o poder dos smartphones modernos para brincar com ideias de context awareness: em vez de puxar o smartphone do bolso, ele chama a nossa atenção quando é conveniente ou necessário. É a premissa básica de sistemas super especializados, como relógios inteligentes, mas que se adequa bem em equipamentos mais mundanos, mais estabelecidos, como nossos smartphones.

Pena que, como quase tudo que é social na Internet, o bom proveito do Swarm dependa da adoção pelos nossos amigos. É nessas horas que a lamúria do Fabio, abaixo, se estende a todos que, pelo mesmo motivo ou outro, quase sempre vê bolas de feno rolando na tela de notificações do Foursquare/Swarm:

[Review] Lumia 1320, um Windows Phone enorme com crise de identidade

Qual o limite físico para um smartphone? A resposta a essa questão, hoje, pode estar ultrapassada na próxima geração de celulares espertos. Afinal, quem imaginaria alguns anos atrás que aparelhos com telas de 6 polegadas seriam não só aceitáveis, mas desejáveis? De olho nessa demanda, a Nokia anunciou não um, mas dois modelos grandalhões: o topo de linha Lumia 1520, e o intermediário Lumia 1320, que agora passa pela análise do Manual do Usuário.

Se a tela chama a atenção, em outros aspectos tão importantes quanto o Lumia 1320 não salta à vista. Ele é o ápice de uma tendência recente e disseminada, a de colocar configurações medianas atrás de telas enormes numa tentativa de levar o conforto e prazer visual de modelos caríssimos, como os da linha Galaxy Note, da Samsung, a bolsos menos privilegiados.

Recentemente vimos aqui, por exemplo, o Xperia C, smartphone da Sony com tela de 5 polegadas e configurações que não convencem. Mas e nesse caso do Lumia 1320, no que a mistura resulta? O Windows Phone pesa a favor ou contra no uso diário? Essas e outras perguntas, respondidas abaixo.

Cara de high end, tamanho de gente (muito) grande

O tamanho do Lumia 1320 intimida.
Foto: Rodrigo Ghedin.

A linha Lumia, da Nokia, vai de modelos simples e baratos até os super avançados, com tecnologias inovadoras, algumas inigualadas, e que cobram um preço alto por isso. Apesar da flexibilidade em preço e qualidade, uma coisa não muda: a identidade visual dos smartphones.

Seja um Lumia 520, seja um 1520, é fácil identificá-los como membros de uma mesma família. Apesar dessa uniformidade, existem algumas rupturas estéticas entre esses celulares irmãos. O Lumia 1320 combina mais com modelos que não foram grandes destaques da Nokia, casos do Lumia 820, ou Lumia 620. Os cantos arredondados e a câmera simples no corpo são os maiores indicativos de que não temos aqui um “garoto propaganda” da Nokia, muito menos um que brilhe em configurações.

A crítica acima não significa, em absoluto, que o Lumia 1320 é feio. Ele é um smartphone sem invencionices que deve agradar a um público maior do que outros mais arrojados, como o Lumia 1020 e seu calombo traseiro. São poucos botões, os tradicionais/obrigatórios do Windows Phone, dois conectores, um para os fones de ouvido em cima, outro para o cabo microUSB embaixo, e os três botões táteis frontais do sistema da Microsoft. As câmeras são discretas, bem como os microfones e saídas de áudio. É um aparelho que exala sobriedade, e talvez em excesso: ele chega a flertar com a falta de inspiração.

Bordas arredondadas do Lumia 1320.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Embora prefira os modelos mais ousados, é impossível reunir críticas consistentes ao design do Lumia 1320 com uma exceção inescapável: seu tamanho. E olha que a Nokia ainda tentou, com alguns artifícios ergonômicos, mitigar esse “problema”: vistos isoladamente, alguns atributos físicos parecem exagerados, mas colocados em contexto (afinal, estamos falando de 6 polegadas de tela), a espessura de 9,8mm e o peso de 220g não transforma o aparelho em um trambolho. Pelo contrário, ele parece mais fino e mais leve do que os números nos levam a pensar.

O problema é que não há mágica ou engenharia que consiga tornar as outras medidas espaciais, 164,2mm de altura e 85,9mm de largura, confortáveis. É impossível manejar o Lumia 1320 com apenas uma mão e colocá-lo no bolso é, para dizer o mínimo, desconfortável. Ações triviais, como sentar-se em uma cadeira, entrar no carro e até mesmo andar não podem ser feitas sem que aquele volume no bolso não se faça sentir. O Lumia 1320 te lembra sempre da sua presença, ininterruptamente, e essa atenção obsessiva não é exatamente um ponto positivo. É incômoda.

Tela grande, especificações nem tanto

As configurações do Lumia 1320 estão longe de serem ruins. No período de testes, ele não demonstrou lentidão, ou me fez esperar muito por qualquer comando – salvo o irritante “Retomando…” ao voltar em apps, mas aí é coisa do Windows Phone já que ainda está para nascer hardware capaz de evitar esses pequenos atrasos na multitarefa. Ele é, para todos os efeitos, tão rápido quanto outros modelos topo de linha que vieram antes, como os Lumias 920, 925 e 1020.

Lá dentro, temos um SoC Snapdragon S4 com processador dual core rodando a 1,7 GHz, combinado com 1 GB de RAM e apenas 8 GB de memória interna – com generosos 7,28 GB de espaço para o usuário, é verdade. Se o Lumia 1320 sobra em desempenho, em outros aspectos, começando pelo espaço para armazenar apps, jogos, fotos, músicas e outros arquivos do usuário, ele poderia ser melhor.

Nesse caso específico, existe um slot para cartão microSD (até 64 GB), acessível ao remover a tampa traseira. É suficiente para aliviar a falta de espaço, mas não é o ideal. (Embora a tampa seja removível, a bateria não é. Essa configuração, que vem aparecendo com frequência na indústria, permitem armazenar cartões, como o SD e o SIM card, sem comprometer a estética, além de permitir a troca de capas, um ponto de personalização que, aparentemente, as pessoas gostam bastante.)

Lumia 1320 suspenso.
Foto: Rodrigo Ghedin.

A tela do Lumia 1320 chama a atenção pelo tamanho – ainda são raros e, portanto, impressionantes smartphones enormes. Além de grande, a tela é bem boa: responde bem aos toques, os ângulos de visão são bem amplos, a fidelidade de cores, acertada. Ela também é brilhante e conta com algumas tecnologias de melhoramento da Nokia, como a ClearBlack, que dá um reforço nos pretos, algo importante por se tratar de um painel IPS e não AMOLED, que leva vantagem na reprodução dessa cor.

Tudo muito bonito, tudo muito bom, com uma exceção: a resolução. O Lumia 1320 tem resolução HD – 1280×720. É uma resolução alta. Já disse, em outras oportunidades, que ela pode ser suficiente, mas desde que outra medida, o tamanho físico da tela, não seja tão grande quanto 6 polegadas. Feitas as contas, ficamos com 245 pixels por polegada, uma densidade que, para uma tela desse porte, se faz notar de um jeito negativo.

Comparativo entre Lumia 920 e Lumia 1320.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Vista sozinha, a tela do Lumia 1320 dá sinais de que faltaram pixels. Não que ela seja ilegível, ou ruim de modo geral, mas textos menores não são tão definidos quanto em telas mais densas, e ícones e textos pequenos mostram serrilhados com os quais não estamos acostumados há pelo menos dois anos em dispositivos de ponta. Se colocada ao lado de uma tela mais densa, como a do Lumia 920/925 (mesma resolução, mas com 4,5 polegadas), as deficiências de uma tela tão grande com uma resolução intermediária ficam mais evidentes.

Mais uma vez esse modelo revela que é, afinal, um intermediário – longe de ser ruim, mas cheio de características que não chegam ao que existe de melhor hoje no mercado. A resolução menor traz um efeito colateral positivo, a economia de energia. Ele meio que se anula ante a tela enorme (iluminá-la deve consumir muita bateria), mas é aí que o tamanho físico do Lumia 1320 traz o trunfo definitivo para uma longa autonomia: ele permite acomodar uma bateria enorme, com 3400 mAh. É uma carga altíssima, suficiente para ficar um dia e meio, até dois de uso intensivo longe da tomada. Raras são as baterias que chegam a esse patamar, nesse ritmo de uso. A do Lumia 1320 é uma dessas poucas e merece elogios portanto.

A câmera indiferente do Lumia 1320.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Fechando o rol de configurações, a câmera também não chama empolga. Tem 5 mega pixels e nada que lembre a qualidade dos Lumias com tecnologia PureView. Espere dela o mantra para câmeras em celulares que, nos últimos anos, apenas modelos topo de linha têm conseguido ultrapassar: quebra o galho com bastante luz, vai se tornando cada vez mais inútil na medida em que a escuridão aumenta.

Alguns exemplos:

Pudim ao ar livre: bom (nos dois sentidos).
Esta foto ficou tão boa quanto o pudim — cortesia do Sol.
Sem luz natural, a câmera do Lumia 1320 decepciona.
À noite, o ruído fica bem aparente e é mais difícil focar.
O Lumia 1320 não resiste ao teste da foto com luz artificial.
Crop em 100%. Repare como há bastante ruído e perda de definição.

Para ver essas e outras fotos em resolução máxima, visite esta página.

O Lumia 1320 é um smartphone a procura de público

Detalhe na tela do Lumia 1320.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Desde que liguei o Lumia 1320 pela primeira vez, venho tentando entender a quem ele se destina. Smartphones grandes costumam trazer configurações de ponta, o que não é o caso. Modelos intermediários têm telas mais mundanas, de apelo maior. Novamente, não é o caso. Talvez o público que coloca tela gigante como prioridade seja relevante o bastante para levar a Nokia a construir algo como o Lumia 1320, um smartphone que tem cara de high end, mas não passa perto de ser um.

Apesar dessa crise de identidade, o fator preço pode pesar favoravelmente e tornar o Lumia 1320 um sucesso comercial. Seu sugerido é de R$ 1.399, o que coloca em uma disputa ingrata com smartphones Android superiores, como Nexus 5, Moto X, G2 e Galaxy S4. Mas em promoção, o Lumia 1320 já rompeu a barreira dos R$ 1.000. Aí, nesse patamar, as coisas ficam mais interessantes: é um valor condizente com o que ele oferece e, de quebra, o consumidor interessado ainda leva uma telona para casa – para o bem e para o mal, ainda é um grande diferencial nessa faixa de peço.

Links para comprar o Lumia 1320.

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Comprando pelos links acima o preço não muda e o Manual do Usuário ganha uma pequena comissão sobre a venda para continuar funcionando. Obrigado!