Os melhores apps para Android, iOS e Windows Phone (março/2014)

Terceiro mês, terceiro post de melhores apps. Já é tradição e você pode esperar, no último dia de todo mês, essa reunião dos apps mais legais e/ou úteis lançados para Android, iOS e Windows Phone.

A opção pela janela mensal foi feita para destacar apenas a nata dos apps lançados no período. Muitos saem toda semana, mas quantos desses realmente compensam sua atenção e, eventualmente, seu suado dinheirinho? Não muitos.

A lista, como sempre, está em ordem alfabética e traz os três sistemas misturados — quando um app é multiplataforma, haverá essa indicação e todos os links possíveis. Baixe o que quiser e, caso conheça algum app lançado recentemente que mereça figurar na lista, mas não esteja nela, corrija essa injustiça nos comentários.


A Better Camera

A Better Camera, ícone.Para Android.
O que é? App de câmera com diversos recursos reunidos.
Preço? Gratuito, ~R$ 15 para desbloquear todos os recursos.
DOWNLOAD

Apps de câmeras para Android não são tão comuns ou variados quanto em outras plataformas, mas vez ou outra algum interessante aparece. É o caso do A Better Camera, que promete concentrar em um único lugar diversos recursos fotográficos.

São 11 modos de disparo, mas alguns pagos, como o panorama de alta resolução e o HDR — por ~R$ 15, todos os recursos são desbloqueados. A interface é bem simples e direta, cheia de botões configuráveis e adaptada a tablets se tirar fotos com eles for a sua praia. Só por ter a grade 3×3 já é um bom negócio, mas existem outros recursos, alguns bem avançados, como o “group shot” e a remoção de objetos, que merecem uma olhada.

Screenshots do A Better Camera.
A Better Camera para Android.

Adobe Revel

Adobe Revel, ícone.Para Android e iPhone.
O que é? Gerenciamento e compartilhamento de fotos na nuvem da Adobe.
Preço? Gratuito
DOWNLOAD Android, iPhone/iPad

O Revel é um serviço da Adobe que facilita o gerenciamento de fotos e permite compartilhá-las com amigos e familiares de forma privada. Até o início de março, existiam apps apenas para as plataformas da Apple — OS X e iOS. Agora, o Android entra na festa.

A facilidade é bastante ressaltada no Revel, e um diferencial importante em meio a tantas opções de armazenamento de fotos. Para os recém-chegados do Android, a Adobe liberou uma ferramenta de importação que deve ser útil para levar as fotos da galeria do sistema à nuvem.

Screenshots do Adobe Revel.
Adobe Revel para Android.

BitTorrent Sync

BitTorrent Sync, ícone.Para Android, iPhone e Windows Phone.
O que é? Uma espécie de nuvem privada para acesso remoto a arquivos.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD Android, iPhone, Windows Phone

O BitTorrent Sync chegou ao Windows Phone, fato que melhora a experiência geral do serviço. Apesar do nome, ele lembra mais o antigo FolderShare da Microsoft. A proposta do app é permitir a criação de “nuvens particulares”, ou seja, o acesso a arquivos entre vários dispositivos, através da Internet, mas sem a parte de armazenamento na nuvem. O que significa que para ver fotos que esteja no seu computador a partir de um smartphone, é preciso que o PC esteja ligado no momento do acesso.

O app para Windows Phone tem os mesmos recursos dos outros sistemas. É possível conceder acesso via código, e-mail ou com a câmera, usando códigos QR. Também está disponível o backup automático de fotos tiradas com o aparelho. Todas as conexões são seguras, criptografadas e jamais deixam rastros armazenados em servidores remotos.

Screenshots do BitTorrent Sync.
BitTorrent Sync para Windows Phone.

CloudSix

CloudSix, ícone.Para Windows Phone.
O que é? Cliente extra-oficial do Dropbox.
Preço? Gratuito, R$ 2,49 para remover os anúncios.
DOWNLOAD

Um dos grandes problemas do Windows Phone é a escassez de apps oficiais dos serviços populares em outras plataformas. Um problema que vem diminuindo com o tempo, mas que permanece em alguns casos, como o do Dropbox. Já que não se tem o app oficial dele, que tal um de Rudy Huyn, o responsável pelo 6tag, 6snap e alguns dos melhores apps do sistema?

O CloudSix permite acessar, fixar (para uso offline), gerenciar e compartilhar arquivos armazenados em uma ou mais contas do Dropbox. Outro recurso vindo diretamente do app oficial, a sincronia automática de fotos tiradas com o smartphone para o Dropbox, também está presente. É um app simples, mas muito bem feito e que até agora não me deixou na mão.

Screenshots do CloudSix.
CloudSix para Windows Phone.

Disconnect Search

Disconnect Search, ícone.Para Android.
O que é? App de buscas web que promete anonimato total.
Preço? Gratuito
DOWNLOAD

Depois de lançar uma boa extensão para navegadores, o Disconnect agora tem um app para Android. Com ele, o usuário pode realizar buscas nos principais sites do gênero (Google, Bing, Yahoo, blekko e DuckDuckGo) com a garantia da privacidade.

Em cada pesquisa realizada, o Disconnect Search passa a sua consulta por uma VPN que mascara seu endereço IP e impede que cookies e outros identificadores pessoais fiquem no seu aparelho ou sejam coletados por intermediários, como o provedor, e o próprio site de buscas. O app em si é só uma “casca”, já que os resultados abrem no navegador padrão do sistema, mas há um widget disponível que agiliza bastante as coisas.

Screenshots do Disconnect Search.
Disconnect Search para Android.

Excel, PowerPoint, Word

Excel, PowerPoint, Word, ícones.

Para iPad.
O que é? Apps para planilhas eletrônicas, apresentações de slides e edição de textos.
Preço? Gratuito, R$ 21/mês para criar e editar arquivos.
DOWNLOAD Excel, PowerPoint, Word

Os rumores sobre um Office para iPad datam de 2011. Enfim, ele chegou. Excel, PowerPoint e Word ganharam versões para o tablet da Apple adaptadas à interface sensível a toques. A Microsoft fez um bom trabalho e os apps, mesmo carentes de alguns recursos mais avançados, cumprem bem o que se esperaria de versões do tipo.

Eles estão disponíveis gratuitamente, mas apenas para visualização de arquivos — que podem ser abertos a partir do OneDrive. Para edição, é necessário assinar o Office 365 que, para usuários domésticos, custa R$ 21 por mês.

Bônus: o Office Mobile para Android e iPhone, que antes também tinham essa vinculação com o Office 365, agora são totalmente gratuitos, inclusive para criação e edição de arquivos.


Facebook Messenger

Facebook Messenger, ícone.Para Android, iPhone e Windows Phone.
O que é? App exclusivo para bate-papo do Facebook.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD Android, iPhone, Windows Phone

Figurinha carimbada, o Facebook Messenger está em uma constante de boas notícias para seus usuários. Primeiro, a feliz reformulação que os apps para Android e iPhone receberam no final de 2013. Em março, a chegada do app ao Windows Phone.

O app para o sistema da Microsoft é bem bonito e lembra, sem ferir as diretrizes de design do Windows Phone, suas contrapartes dos sistemas concorrentes. Dá para tirar foto, mandar figurinhas (os stickers) e entrar em conversas em grupo — ainda que a recente atualização que dá mais atenção aos grupos no Android e iPhone não tenha chegado ao Windows Phone. É um app bem melhor que o oficial/geral do Facebook (que é feito pela Microsoft) em todos os aspectos.

Screenshots do Facebook Messenger.
Facebook Messenger para Windows Phone.

FireChat

FireChat, ícone.Para iPhone.
O que é? App de bate-papo que funciona mesmo sem conexão.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD

Parece impossível, mas o FireChat independe de conexão para funcionar. Ele usa um recurso do iOS 7 chamado Multipeer Connectivity Framework, que permite aos dispositivos se comunicarem quando próximos, para gerar salas de bate-papo. A intenção dos desenvolvedores é que o app seja usado em eventos que concentrem muitas pessoas — citando os dos EUA, Burning Man, Wanderlust, SXSW, Super Bowl — ou mesmo estações de metrô, aeroportos, lugares com aglomerações. O raio de alcance é de pouco mais de 9 metros.

O FireChat também trabalha de modo mais tradicional quando a Internet está à disposição em um bate-papo com todo mundo.

Screenshots do FireChat.
FireChat para iPhone.

Flight

Flight, ícone.Para iPhone.
O que é? App para acompanhar voos.
Preço? ~R$ 9.
DOWNLOAD

Com uma interface minimalista e bastante inspirada, o Flight é um app simples para monitorar voos. Ele informa as cidades e aeroportos de partida e destino (com direito à temperatura e clima atualizados), números de terminais, código, duração e progresso do voo, modelo do avião e companhia aérea.

Bônus: por ser destacado na App Store, o Flight está com 50% de desconto por tempo limitado.

Screenshots do Flight.
Flight para iPhone.

Link Bubble

Link Bubble, ícone.Para Android.
O que é? Navegador que abre links de outros apps em bolinhas flutuantes.
Preço? Gratuito, versão Pro por ~R$ 11,50.
DOWNLOAD

Desde o surgimento do Facebook Home, o Android tem recebido um punhado de apps que se utilizam das “bolinhas” flutuantes em sua interface. O Link Bubble é mais um deles e permite abrir páginas web nessas bolinhas. Uma ideia bem esperta, diga-se de passagem.

O foco do Link Bubble é em links que surgem em outros apps. Em vez de ir para o Chrome e esperar a página carregar, com esse app instalado o link clicado é carregado em segundo plano e, quando a página fica pronta, ela é exibida na tela a partir da bolinha. De lá ainda dá para mandar rapidamente links para outros apps (pense no Pocket) e, com a versão Pro, abrir duas ou mais páginas em segundo plano simultaneamente.

Introducing Link Bubble


Medium

Medium, ícone.Para iPhone.
O que é? Belo app para leitura dos artigos publicados no Medium.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD

O Medium ainda é uma incógnita em vários aspectos, mas em termos de beleza e usabilidade, o site é um a sucessão de acertos. Este app, exclusivo para iPhone, traz para a tela do smartphone toda a beleza e os artigos publicados na plataforma.

Não dá para escrever ou editar artigos no Medium para iPhone; ele é, apenas, um app para leituras. Dentro dele pode-se recomendar artigos, compartilhá-los e até acessar perfis e coleções. É um trabalho muito bem feito, do tipo que dá gosto de ler e apreciar.

Screenshots do Medium.
Medium para iPhone.

Office Lens

Office Lens, ícone.Para Windows Phone.
O que é? “Lente” para a câmera do Windows Phone que captura e otimiza documentos e quadros.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD

O mundo ainda é bastante dependente do papel, o que acaba se tornando um problema para quem prefere anotações, comprovantes e outros documentos digitalizados. O Office Lens é uma “lente” para a câmera do Windows Phone que faz a ponte entre esses dois lados.

Com o app, basta apontar a câmera e tirar fotos de folhas, quadros, recibos e outros suportes com texto que ele faz o resto. Por “resto”, entenda enquadrar, otimizar e adaptar a exibição das informações no meio digital. Uma foto torta de uma folha, por exemplo, é alinhada, tem seu conteúdo destacado e a cor de fundo, nivelada. A qualidade dos resultados é magnífica e a integração com o Office, nada menos que o esperado.

Screenshots do Office Lens.
Office Lens para Windows Phone.

Organizze

Organizze, ícone.Para Android e iPhone.
O que é? Gerenciador de finanças — pessoais ou empresariais.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD Android, iPhone

Outro app da lista originalmente disponível apenas para iPhone que fez sua passagem para o universo Android. O Organizze é um sistema de controle financeiro que funciona tanto para contas pessoais, quanto para empresarias. Com ele, dá para lançar despesas e recebimentos, inclusive offline, agendar contas a pagar e visualizar relatórios de gastos. O objetivo? Identificar padrões e poupar.

O app e o serviço são gratuitos, mas existe uma versão paga do Organizze, que custa R$ 9,90 por mês (contas pessoais), com alguns recursos extras.

Screenshots do Organizze.
Organizze para Android.

Pocket Magnifier

Pocket Magnifier, ícone.Para Windows Phone.
O que é? Lupa operada através da câmera com filtros para facilitar a leitura.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD

Desenvolvido em parceria com o RNIB (Royal National Institute of Blind people) e exclusivo para aparelhos com Windows Phones da Nokia, o Pocket Magnifier é uma lupa portátil que funciona através da câmera do seu smartphone.

Além de fazer o óbvio, ou seja, aumentar o texto para facilitar a leitura, o app ainda permite congelar imagens e traz uma série de filtros para melhorar a legibilidade dos textos exibidos na tela. O flash também pode ser usado como auxílio.

Screenshots do Pocket Magnifier.
Pocket Magnifier para Windows Phone.

Remember the Umbrella

Remember the Umbrella, ícone.Para Android.
O que é? App de previsão do tempo passivo.
Preço? Gratuito, versão Pro por ~R$ 1,50.
DOWNLOAD

Muita gente usa apps de previsão do tempo com apenas uma finalidade: saber se vai chover ou não. O Remember the Umbrella faz jus ao nome e só entra em ação quando prevê que o tempo irá (literalmente) fechar.

Simples assim, após a instalação basta definir o horário e a periodicidade em que gostaria de ser alertado caso a chuva esteja no horizonte — preferencialmente um pouco antes daquele em que você costuma sair para o trabalho ou escola. A versão Pro, que custa ~R$ 1,50, permite programar mais de um alarme e não tem anúncios.

Screenshots do Remember the Umbrella.
Remember the Umbrella para Android.

Timehop

Timehop, ícone.Para Android e iPhone.
O que é? Uma viagem no tempo ao que o usuário publicou em redes sociais no dia de hoje em anos anteriores.
Preço? Gratuito
DOWNLOAD Android, iPhone

Um dos apps mais legais do iPhone finalmente chegou ao Android. No Timehop, você cadastra suas redes sociais (há suporte a Facebook, Twitter, Flickr, Instagram, Foursquare e fotos do Dropbox) e todo dia o app vasculha seu histórico e apresenta o que você fez nesses locais em anos anteriores. É sempre uma surpresa e uma boa maneira de desenterrar eventos, links e fotos esquecidas.

Screenshots do Timehop.
Timehop para Android.

toib

toib, ícone.Para Windows Phone.
O que é? Cliente do YouTube com visual refinado e rico em recursos.
Preço? Gratuito, R$ 1,99 para desbloquear tudo.
DOWNLOAD

Ainda não foi desta vez que o app oficial do YouTube voltou ao Windows Phone. Enquanto esse dia não chega, as alternativas suprem a lacuna. O toib é do mesmo criador do Phonly, um cliente para o Feedly, e faz um trabalho bem competente.

Dá para acessar canais assinados, playlists e vídeos curtidos, tudo com exibição em HD e suporte a coisas como curtir, comentários, gerenciamento de playlists e compartilhamento do vídeo em redes sociais através do mecanismo do Windows Phone.

O app é bonito e bem feito, mas na versão gratuita tem algumas limitações, como exibir apenas 10 canais assinados.

Screenshots do toib.
toib para Windows Phone.

UP Coffee

UP Coffee, ícone.Para iPhone.
O que é? Sistema de monitoramento do consumo de cafeína.
Preço? Gratuito.
DOWNLOAD

Desenvolvido pela Jawbone Labs, um braço da Jawbone das pulseiras de fitness UP, este app analisa o seu consumo de café e, baseado nesses números, dá dicas e insights sobre os melhores momentos para dormir ou se dedicar ao trabalho.

A interface é bastante agradável, cheia de gráficos e animações legais. É preciso abastecer o UP Coffee com informações por cerca de 7 a 10 dias para que ele comece a compreendê-lo e ser útil. Para quem é viciado em café ou gosta da bebida, mas acha que ela afeta o sono, é uma boa pedida.

Screenshots do UP Coffee.
UP Coffee para iPhone.

You-Doo

You-Doo, ícone.Para Windows Phone.
O que é? Lista de tarefas baseada na localização do usuário.
Preço? Gratuito, com dois in-app purchases de ~R$ 2 para desbloquear cores e ícones.
DOWNLOAD

Pegando emprestado um dos elementos da metodologia GTD, o You-Doo é um app de listas de tarefas com base na localização do usuário. Antes, ele cadastra locais e associa tarefas e lembretes a eles. Com isso, o app é capaz de emitir notificações contextuais, quando você está em um lugar que tenha tarefas associadas a ele.

O You-Doo conta com visualização no formato linha de tempo, de calendário, dividida por locais e também de mapa, via Bing Maps e Foursquare. Para o futuro, os desenvolvedores prometem uma versão paga com suporte a tarefas compartilhadas, sincronia com a nuvem e importação de tarefas do Outlook.

Screenshots do You-Doo.
You-Doo para Windows Phone.

Ao todo, 21 novos apps! Quer mais? Não perca as listas de janeiro e fevereiro, e as dos melhores apps de 2013 para iPhone, Android e Windows Phone.

Foto do topo: Lenny Wu/Flickr.

5 dicas para editar áudio no Audacity

Existem duas formas de dominar uma software. A primeira é frequentando cursos formais, passando etapa por etapa, lição por lição, seguindo à risca um roteiro preparado por especialistas e ministrado por um deles. A segunda é metendo a cara, lidando com as dificuldades e dúvidas que surgem no caminho e tirando dúvidas no YouTube e em blogs como o Manual do Usuário.

Meu caso com o Audacity, um software de edição de áudio gratuito e aberto, se encaixa na segunda forma. Comecei a usá-lo ainda na época do WinAjuda (RIP), para editar o finado podcast de lá. A escolha se deu principalmente pela gratuidade e, apesar desse critério fraco, acabou não sendo uma de toda ruim. Pelo menos funciona e tem até uns truques bacanas.

Como você deve saber, uso o Audacity para editar o podcast do Manual do Usuário. É um trabalho relativamente simples, mais braçal do que intelectual, mas que só chegou a esse estado graças às dicas que colhi nesses anos, vindas do YouTube, de posts em fóruns e da documentação oficial. Se você nunca se aventurou com edição de áudio, tem vontade, mas não quer começar no zero, siga as dicas que descreverei abaixo.

1. A interface do Audacity

O Audacity se divide em três grandes áreas. Em cima, ficam os controles de áudio (que inclui os imprescindíveis botões “gravar” e “reproduzir”, e que podem ser substituídos pelas teclas R e Barra de espaço, respectivamente) e, um pouco ao lado, algumas ferramentas que você usará bastante. Na sequência, gráficos que mostram como o áudio está sendo gravado, útil para identificar e corrigir o clipping, aqueles estouros no áudio que machucam os ouvidos, e algumas ferramentas de edição substituíveis pelo mouse.

No meio ficam as faixas. O Audacity trabalha com quantas faixas você quiser. Ao acrescentar um arquivo de áudio externo (basta arrastá-lo para dentro da janela do programa), uma nova faixa é criada. Se quiser iniciar uma limpa, é só clicar no menu Faixas, depois em Adicionar Nova… e escolher a desejada.

O áudio aparece nas faixas como riscos azuis. Acho que todo mundo já viu, talvez em tonalidades e softwares diferentes, mas a representação é bastante padronizada. Com os olhos dá para saber se uma faixa está com o volume baixo, alto, se está clippando e até em que momento, no caso de um podcast descontraído, as pessoas dão risada.

Vale a pena gravar qualquer besteira e mexer nos controles da barra de ferramentas para se familiarizar com eles. Para começar a brincar, é importante entender esses ícones:

Esses botões serão muito usados.
Ferramentas do Audacity.

As duas primeiras são bem importantes. O primeiro ícone transforma o cursor em um seletor de texto — ou, no nosso contexto, de trechos das faixas. Dá para utilizar, inclusive, algumas convenções de editores de texto aqui, como clicar em um ponto da faixa, segurar a tecla Shift e depois clicar em outro para selecionar o intervalo. O bom e velho clique duplo, segundo o botão no último e arrastando o cursor, também funciona.

Outro bacana é o segundo, o risco azul com a bolinha no meio entre dois indicadores, chamada ferramenta de envelope. Ele permite diminuir o volume de uma faixa e, usado em pares, fazer aquele truque de diminuir a música de fundo quando alguém fala. (Note que, para fade in e fade out, existem ferramentas específicas e bem mais fáceis de usar no menu Efeitos.)

Por fim, a ferramenta de ajuste de tempo — é aquela seta que aponta para os dois lados, a segunda na linha de baixo. Com ela, o cursor passa a arrastar blocos de áudio. É indicada para o trabalho com duas ou mais faixas, e permite, entre outras coisas, alocar perfeitamente efeitos sonoros e músicas.

A lupa, como você deve imaginar, serve para dar zoom. Ela funciona bem, mas no meu workflow incorporei teclas de atalho (para mim, mais ágeis e precisas). Ctrl + 1 aproxima o zoom, Ctrl + 3 diminui e Ctrl + 2 volta ao 100%.

2. Cortando e juntando áudio

Cortar um pedaço da faixa é edição mais básica — e uma das mais simples. Para separar uma faixa em duas, basta clicar no local desejado, ir em Editar, depois Cortar bordas e, por fim, Separar — ou aperte Ctrl + I, para ir mais rápido.

No meu uso, porém, o que eu faço mais é remover completamente trechos inteiros. Dessa forma, por exemplo, uma conversa anterior à gravação de fato se vai com alguns poucos cliques. E é uma ação tão simples quanto dividir uma faixa.

Com o mouse, marque o trecho desejado com a ferramenta de seleção. Caso erre na seleção por alguns poucos segundos, não se preocupe, não é preciso tentar acertar todo o processo do zero: ao aproximar o mouse das extremidades da seleção, o cursor vira uma “mãozinha”. Dê um clique duplo segurando o botão no segundo, e você poderá arrastar a seleção novamente para fazer um ajuste fino.

Quando um trecho está selecionado, ao clicar no botão de reprodução (dá para substitui-lo com um toque na barra de espaço), apenas ele é tocado; isso é bom para delimitar perfeitamente o que se deseja cortar ou remover. Estando tudo certo, dê um toque na tecla Delete e aquele trecho sumirá, unindo as duas pontas que sobraram.

Mas e se em vez de remover esse trecho, eu queira apenas silenciá-lo? O processo é o mesmo, o que muda é só o último toque. Em vez da tecla Delete, aperte Ctrl + L. Já se, em vez de silenciar, o objetivo for acrescentar trechos de silêncio, basta entrar no menu Gerar, clicar em Silêncio, definir a duração dele e dar Ok.

3. Normalizar várias faixas

Normalizar nivela os volumes no Audacity.
Normalizar o áudio.

É bem comum em podcasts com dois ou mais membros, mesmo quando são usados microfones idênticos (oi, Paulo!), os volumes saírem desnivelados. Felizmente, um dos vários efeitos do Audacity ameniza bastante esse problema que, de outra forma, seria bem chato de solucionar.

Se apenas as faixas de fala estiverem abertas, um Ctrl + A para selecionar tudo resolve. Caso contrário, será preciso fazer a seleção manualmente — e recomendo, para tanto, que você gaste algum tempo usando as teclas Shift, Home, End e as setas esquerda e direita; parece bobagem, mas usar o teclado em vez do mouse é, não raramente, mais rápido e essas teclas são universais, ou seja, também são úteis no navegador, no Word, em qualquer lugar que trabalhe com texto/seleção.

Enfim, quando todas as vozes estiverem selecionadas, entre no menu Efeitos, depois clique em Normalizar… Existem alguns parâmetros ali, mas comigo o padrão quase sempre funciona a contento. Às vezes surgem alguns clippings, mas nada que outro efeito, que veremos a seguir, não resolva.

Antes de normalizar os volumes, porém, considere fazer a dica a seguir, de eliminação de ruídos. A lógica é muito simples: você não quer normalizar barulhos indesejados, mas apenas as vozes, ou música, enfim, o que você gravou. Remover tudo que for desnecessário ou inesperado aumenta a eficácia da normalização.

4. Elimine ruídos

(Eu poderia ter facilitado e invertido as dicas, né?)

A menos que você tenha um equipamento profissional e faça gravações em uma sala com boa acústica, ruídos surgirão na sua fala. (E convenhamos: se você está gravando nessas condições, não precisa ler isso aqui.)

Remover ruídos.
Dá para remover ruídos no Audacity.

Um dos efeitos mais bacanas do Audacity é o de remoção de ruídos. Sua aplicação é parecida com a do efeito anteriormente visto, mas tem uma pegadinha: ela é feita em duas etapas.

Primeiro, é preciso ensinar ao app o padrão de ruído a ser eliminado. Para isso, encontre um ponto de silêncio na fala, algo comum em podcasts (e considerando que as vozes sejam gravadas em faixas exclusivas). Selecione o trecho silencioso, entre no menu Efeitos, depois em Remover ruído… e, na janela que aparece, clique no botão Obter perfil de ruído.

A janela se fechará e, aparentemente, nada terá mudado. Mas mudou sim: agora o Audacity sabe o que deve buscar e eliminar.

Dessa vez, selecione toda a faixa antes de voltar ao menu Efeitos, item Remover ruído… Lá, clique no botão Ok e espere a mágica acontecer — dependendo do seu hardware, pode demorar um pouco.

5. Como corrigir o clipping

Clip Fix, efeito do Audacity, corrige o clipping.
Corrigindo clipping no Audacity.

Como explicado, clipping é o “estouro” em uma faixa. Dá para ver quando isso acontece nas ondas: ele chega às extremidades da faixa e, ao ser executado, machuca os ouvidos.

O efeito Clip fix, dentro do menu Efeitos, ameniza e em muitos casos elimina o clipping. Para usá-lo, selecione o trecho clippado e clique na opção. Uma caixa de diálogo surgirá. Clique em Ok e veja, ou melhor, ouça a mágica acontecer.


Para quem ainda não teve tempo ou interesse em explorar o que o Audacity oferece, essas dicas são um belo começo. Se você já é experiente e tiver alguma outra para compartilhar, use os comentários. Outros entusiastas, eu e os ouvintes do podcast agradecemos!

A neutralidade da rede segundo o Marco Civil da Internet aprovado pela Câmara dos Deputados

Foram anos de discussões acaloradas e cinco meses travando a pauta da Câmara, mas enfim o projeto do Marco Civil da Internet (Projeto de Lei 2126/11) foi aprovado. O texto, da propositura à aprovação, mudou em pontos-chave e, nos últimos momentos antes da sessão da Câmara dos Deputados que enfim votaria o projeto, muito se falou sobre a ameaça à neutralidade da rede. Por que tanta preocupação em relação a esse ponto?

Como a Internet funciona

Sabe quando aquele seu tiozão se refere à Internet como “a grande rede dos computadores”? Embora brega, há um fundo de verdade nessa declaração. A Internet, grosso modo, é mesmo uma grande rede. Pela sua natureza aberta, com protocolos livres de patentes que conversam entre si, o processo de se conectar a ela é relativamente simples para qualquer… pessoa, empresa ou coisa. E assim, de ponto em ponto, de IP em IP, criou-se uma rede monstruosa que caminha para cobrir o mundo inteiro e conectar todos os seres humanos.

Existe uma hierarquia no trajeto que os dados fazem do servidor até o seu navegador web, ao cliente de e-mail ou qualquer aplicação que você use aí em casa ou no trabalho que dependa da Internet. A relação entre provedor (GVT, NET, Vivo) e cliente (eu e você) é, como este artigo da Quartz explica, apenas o fim de uma longa estrada. Lá no começo estão os backbones e as CDNs, redes de distribuição que funcionam como intermediárias entre serviços/sites e provedores, atuando meio que em conjunto para viabilizar o fluxo de (enormes quantidades de) dados. Algumas das CDNs mais famosas são Akamai, Level 3 e Cogent.

Existem quedas de braço, acordos e negociações sendo feitos nos bastidores da Internet desde sempre. Embora as questões levantadas pelo dilema da neutralidade recaiam, em sua maioria, nos provedores, elas atingem também essas empresas e estruturas menos conhecidas do público e que não ganham tantas manchetes nos veículos de comunicação.

Todos os grandes sites (Google, Facebook, Microsoft, Netflix) usam CDNs que negociam com as operadoras a distribuição desse conteúdo. Quando a balança desequilibra, ou a demanda foge dos termos contratados, o tempo fecha. Exemplo recente? A relação entre Netflix, CDNs e os três principais provedores dos EUA — Comcast, Verizon e AT&T.

O caso Netflix e Comcast

Reed Hastings, CEO da Netflix.
Reed Hastings, CEO da Netflix.

A Netflix fechou, no começo do mês, um acordo com a Comcast para que o provedor não restrinja a chegada de dados a seus clientes. Ou seja, o serviço de filmes sob demanda cortou o intermediário (as CDNs) e agora negocia diretamente com a última parada antes do seu cliente. Ou, como diz Reed Hastings, CEO da Netflix, “paga pedágio para os poderosos provedores”.

Essa medida, que abre um precedente no debate sobre a neutralidade nos EUA, foi tomada pela dificuldade que as CDNs estavam tendo em conseguir levar esses dados, mais do que os provedores esperavam. Eles, os provedores, começaram a reclamar e agir. Como? Restringindo a conexão para uma aplicação específica, a Netflix. De repente a rede deixou de ser neutra, deteriorando o tráfego de um serviço que consome muitos recursos — com 30 milhões de assinantes, o Netflix responde por quase 1/3 do tráfego de Internet gerado no hemisfério norte em horário nobre.

Ninguém quer, mas alguém tem que pagar a conta. A Netflix até criou um programa, o Open Connect, para levar servidores próprios para os provedores, bancados e mantidos por profissionais seus, a fim de aliviar a carga. Funciona na Europa, América Latina e em outros locais; lá, nos EUA, os provedores se mostraram avessos à inciativa. A discussão ainda vai longe, mas nesse meio tempo, temendo perder clientes por constrições na conexão e consequentemente vídeos de baixa qualidade, a Netflix pagou o pedágio da Comcast. Repetindo, ela abriu um precedente. E um perigoso.

Como seria uma Internet que não fosse neutra?

Alessandro Molon.
Deputado Alessandro Molon. Foto: Agência Câmara.

Essas negociações de bastidores importam, mas o que mais se discutiu aqui, com a questão do Marco Civil, foi o último elo da cadeia, a relação provedor-cliente.

Sem a neutralidade, as operadoras poderiam inventar quaisquer critérios para vender o acesso à Internet. Hoje, existe um convencionado que funciona desde os primórdios da banda larga: a velocidade de acesso. Você pode achar injusto pagar mais para ter mais velocidade, mas não tem como reclamar da isonomia da navegação. Seja no plano mais rápido ou no mais lerdo, o conteúdo é acessado da mesma forma, sem distinção.

Imaginar um cenário diferente disso é fácil. Pensemos, pois, em um plano especial de vídeos. Quem quiser ter acesso ao Netflix e YouTube pagaria, digamos… R$ 20 a mais na fatura. Ou um plano básico, que dá direito apenas a e-mail, Facebook, Twitter e YouTube, por uma mixaria. Quer jogar? Olha aqui o plano Gamer Ultimate Plus, com acesso privilegiado ao Steam, League of Legends e, de graça, um joguinho por mês. Custa só R$ 120 e dá direito àquele plano básico ali de cima na faixa.

O que se tem atualmente é uma Internet similar à Dona Justiça: cega, que não faz distinção acerca do que o usuário pede. Parece o ideal, certo? É para mantê-la assim que os defensores ferrenhos da neutralidade brigam tanto pela aprovação do Marco Civil. Mas há desdobramentos que extrapolam os (sempre perigosos) discursos extremados entre defensores da liberdade absoluta e os das teles.

Quem já compartilhou uma conexão com colegas ou familiares folgados sabe como é. Basta que alguém abra o YouTube ou o BitTorrent e a rede se torna imprestável: não há conexão que resista a serviços que consomem muita banda. O fornecimento de Internet é como uma rede doméstica, só que em um nível maior. Todos os usuários de um provedor compartilham os mesmos tubos de acesso. Pode ser meio chocante para você, mas a conexão, embora não dê para pegar e guardar em um pote na estante, é um recurso finito.

A redação do Marco Civil impede qualquer tipo de distinção do tráfego mesmo quando esse tipo de intervenção beneficiar a maioria dos usuários. Exemplo clássico: aeroporto. Nesse e em outros locais com grande concentração de pessoas o acesso à rede móvel fica seriamente prejudicado pela demanda. Como falta esse senso de finitude da Internet à maioria, dois caras acessando o YouTube dali atrapalham todos os outros que só querem fazer tarefas mais leves e muito mais importantes, como verificar o e-mail antes do voo e abrir o cartão de embarque no smartphone.

O serviço dos provedores que atuam no Brasil, principalmente os de conexões móveis (3G/4G), é ruim? Sim, mas poderia ser pior. Ou, com mais flexibilidade, melhor. É natural a desconfiança — anos liderando rankings de reclamações não deram a eles uma reputação exatamente boa –, mas o engessamento da neutralidade da rede pode trazer consequências indesejadas também. Com o acesso igualitário para todo e qualquer serviço, talvez a demanda suba e, com ela, os preços também. E aí o que era para ser benéfico ao povo pode acabar criando mais barreiras para o acesso universal.

Pesa a favor das teles, ainda, o histórico. Em quase duas décadas a oportunidade de fragmentar a rede para cobrar mais esteve sempre aí. E o que aconteceu? Nada. Nenhum provedor jamais recorreu a ela. Talvez não seja vantajoso, talvez a queimação de filme não valha os ganhos potenciais que fragmentar a Internet trariam. As queixas de traffic shaping, que vez ou outra assolam alguns provedores nacionais, são bem ruidosas e mancham a reputação de certos nomes. Quem aí não xinga a mãe do dono do provedor tal quando, mesmo com um plano de 200 Mb/s o YouTube se arrasta para carregar vídeos em 140p? Qualquer um. Mas pense maior que isso: será que sem o traffic shaping outros serviços não seriam prejudicados a ponto de dificultar a realização de tarefas simples, como acessar o e-mail e entrar em sites de notícias?

Alguns ativistas pró-Marco Civil citam cenários apocalípticos para defendê-lo; não é por aí. Ter a empatia de entender o lado de quem fornece o acesso é um passo importante para que a discussão caminhe no sentido de chegar a um consenso do que é bom para a maioria. Talvez fosse o caso de as operadoras começarem a fiscalizar e colocar em prática as restrições de banda contratuais — aquela quantidade tal de tráfego mensal que, pelo menos entre os provedores residenciais, nunca é levada a sério. Tratamento isonômico da conexão pela qual quem usa mais, paga mais. Talvez. O debate não exaure aqui e, como todos os outros pontos desse deve ter nuances que merecem ser explicados.

Neutralidade ou 0800?

Não é só na ponta do acesso, na relação provedor-cliente, que a ausência de neutralidade pode gerar consequências. Uma outra prática é potencialmente mais danosa à livre concorrência na Internet que qualquer tentativa de fragmentação do acesso por parte dos provedores. Aliás, talvez essa seja a prática a ser combatida.

Grandes sites podem chegar a acordos com os provedores para priorizar suas ofertas em detrimento dos concorrentes. A Netflix pagou uma grana boa à Comcast para servir seus clientes decentemente, mas nada impede que, nesses mesmos termos, um serviço que compita com ela pague ainda mais ao provedor para ter mais banda disponível e, consequentemente, qualidade superior.

Posto de outra forma, esse tipo de acordo pode gerar vantagem artificiais e injustas.

Apresentação do Sponsored Data, da AT&T.
Foto: JeanCarl Bisson/30 Days of Travel.

Parece loucura? Sim. Mas o mais maluco é que esse tipo de coisa já acontece. Em vários países, inclusive no Brasil, Facebook e Twitter têm acordos com as operadoras móveis para fornecer aos usuários acesso gratuito a seus serviços. O Bradesco entrou na onda, levantando mais questionamentos sobre o ferimento da neutralidade. Nos EUA, a AT&T estendeu a ideia e a empacotou para empresas interessadas. O sistema, batizado lá de Sponsored Data, já é usado por uma empresa de planos de saúde, outra de publicidade móvel e uma última de soluções de comércio móvel.

Isso afeta a neutralidade? Há entendimentos nos dois sentidos. Entre os que não veem nada errado nisso, o raciocínio é de que essa oferta equivale a um 0800, a um SAC das empresas que ingressam em programas como o Sponsored Data. O problema é que isso causa um desequilíbrio na concorrência. Se, apropriando-se de um exemplo que li recentemente não me lembro onde, o Google tivesse bancado a banda do Google Videos quando o YouTube despontou, qual seria o site de vídeos mais popular do mundo hoje?

O caminho que falta

A neutralidade é um assunto delicado e demanda muita reflexão e debate. Sim, ainda mais reflexão e debate. A redação final do Marco Civil da Internet mitigou o receio dos defensores da Internet livre e previu explicitamente, no caput do artigo 9º, o tratamento “de forma isonômica [de] quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação”. Uma vitória para quem defende a neutralidade absoluta.

Em comunicado à imprensa, o SindiTelebrasil, sindicato nacional que representa as operadoras de telefonia, disse ter “recebido positivamente” a aprovação do Marco Civil, “mesmo não sendo em sua totalidade a proposta que o setor considera ideal para a sociedade”. Ele reitera a manutenção, nos termos da nova lei, de serviços já oferecidos, como os acessos gratuitos a redes sociais, projetos educacionais e ao que o sindicato se refere nominalmente como “Internet 0800, em que a conexão é paga pelo site que está oferecendo o serviço”. Tipo o Sponsored Data da AT&T nos EUA, uma oportunidade saborosa para grandes corporações, com muita grana em caixa, acelerar a adoção de serviços, de atropelar concorrentes menores e, quem sabe, até melhores.

O próximo passo é a aprovação no Senado, onde o texto poderá receber alterações e será debatido novamente e, depois, a sanção presidencial. O artigo 9º dependerá de regulamentação pela Presidência via “determinação constitucional fiel à execução da lei” (seja lá o que for isso) e, na redação final, entrou a necessidade de consulta à Anatel e ao Comitê Gestor da Internet para tanto. As exceções à neutralidade serão, exclusivamente, para “serviços de emergência e aos requisitos técnicos necessários à prestação adequada dos serviços”, e sempre com transparência e avisos prévios aos consumidores.

É sempre salutar lembrar que o Marco Civil da Internet trata de outras questões além da neutralidade. E também que ele é, para todos os efeitos, uma espécie de lei de base, que não tem caráter punitivo e que pretende apenas dar diretrizes básicas ao acesso à Internet no país. Apesar disso, alguns artigos são decisivos para moldar o futuro da rede por aqui, um deles o da neutralidade.

A sensação que se tem é que uma vitória foi conquistada, mas a que preço? Um dos princípios constitucionais, o da isonomia, diz que deve-se tratar os iguais na medida da sua igualdade e os desiguais, na medida da sua desigualdade. Ao promover a neutralidade absoluta, parece-me que nos distanciamos disso e damos à Internet termos rigorosamente idênticos para todo mundo. A neutralidade é importante, sim, mas não é uma questão simples, direta, como a maioria pinta por aí. Resta saber como ela funcionará na prática, mas só testemunharemos isso depois da sanção presidencial. Ainda vai demorar.

Agradecimentos ao Pedro Burgos pela orientação e à Nadiajda Ferreira pela revisão. Foto do topo: Amauri Teixeira/Flickr.

Apesar das alternativas gratuitas e na nuvem, o Office segue firme na liderança. Por quê?

Nos domínios da Microsoft, o Office é uma força espetacular. Imparável, implacável, avança e conquista novos territórios sem dar espaço à concorrência. O leitor Paulo Alcantara perguntou, à luz dos recém-anunciados add-ons do Google Drive, se as alternativas à suíte da Microsoft estão maduras o bastante para viabilizar a migração de quem (pessoas e empresas) está habituado ao Office.

O Office não é para mim, nem para você

Antes de qualquer suposição ou fato, é bom esclarecer a quem esses aplicativos se destinam. Eu, por exemplo, não sou público-alvo. Não uso o Office regularmente, embora tenha uma licença da versão 2010 com os apps mais básicos à disposição no meu notebook de trabalho. Vez ou outra recorro ao Word (especialmente para trabalhos acadêmicos) e ao PowerPoint (mesmo motivo); não me recordo da última vez que abri o Excel.

Meu perfil é, para as tarefas que o Office promete dar conta, um tanto simplista. O app que teoricamente eu mais usaria, o Word, é um exagero e um caminho que se fecha em si: dali, ou o texto é enviado para ser lido em outra instância do Word, ou é convertido para PDF ou papel. É possível utilizar o Word a fim de escrever para a web, mas convenhamos: com Markdown, apps mais ágeis e leves na web, e fluxos de trabalho menos complexos, não sobram motivos para recorrer ao Word.

Quando se fala na mítica versão do Office para iPad, o ceticismo de quem desdenha essa investida toma como público perfis parecidos com o meu. Para nós, gente que respira web e consegue viver sem maiores enroscos com ferramentas modernas, livres de legado, o Office de fato não tem lá tanto apelo, e não é de hoje. Olhando em retrospecto, mesmo sempre tendo uma cópia dele instalada nos meus computadores nunca as usei com tanta assiduidade para justificá-las. No passado, com alternativas limitadas em quantidade e qualidade, ele servia a um número maior de atividades; hoje, existe um app para isso — e não é força de expressão.

Nas empresas, o Office reina

Mulher demonstra o Office em uma tela sensível a toques.
Foto: Microsoft/Reprodução.

O que se costuma esquecer é a dimensão que o Office tem onde pagar por software sempre foi um gesto natural: o ambiente corporativo. O Office é uma máquina de fazer dinheiro não por todos os estudantes e blogueiros que compram licenças ou assinam o Office 365, mas pelos contratos de volume que levam Word, Excel, PowerPoint e Outlook para grandes parques de máquinas, para centenas, milhares de computadores de uma só vez, conectados via SharePoint, Exchange, Lync e outros nomes que, para quem conhece o Office de casa, são alienígenas.

Em 2010, a comScore revelou que havia no mundo, englobando todas as situações possíveis (inclusive estimativas da pirataria), mais de 1 bilhão de usuários de Office. Dados mais recentes da Forrester, de outubro do ano passado, mostraram que em três anos o Office 2010 dominou o mercado corporativo. Nessa pesquisa, conduzida com 155 empresas, 85% delas disseram usar essa versão da suíte. A 2013, já respondia por 23% (a soma das porcentagens supera 100% porque várias empresas usam duas ou mais versões em paralelo), quase o dobro da adoção do Google Docs/Drive e muito mais que o OpenOffice e variantes, que despencou no ranking em apenas dois anos.

As soluções na nuvem, personificadas principalmente pelo Google Drive, apesar do “oba oba” não conseguiram fazer a cabeça dos CIOs e penetrar no ambiente corporativo. E não por ignorância ou preconceito. Acontece que o Office da Microsoft tem duas características difíceis de serem batidas: ele é popular e, sejamos honestos, muito bom.

Espaço Office no Shopping Eldorado, em São Paulo.
Espaço Office, no Shopping Eldorado, em São Paulo. Foto: Emerson Alecrim/Flickr.

A popularidade advém da idade — e, créditos à Microsoft pela capacidade de adaptar um software tão antigo a toda e qualquer tendência que emplaque. Ter sido a única opção decente por tanto tempo também criou a cultura da compatibilidade; outros aplicativos, embora conversem com os arquivos gerados no Office, se enrolam com os mais complexos. É um jogo de força bruta, mas que no final pesa a favor da Microsoft.

As mais recentes, nuvem e venda por assinatura, convergiram no Office 365, disponível tanto para empresas quanto para usuários domésticos a preços interessantes. A versão doméstica do Office 365, por exemplo, custa R$ 21 por mês, dá direito à instalação dos apps em até cinco computadores, minutos no Skype, espaço extra no OneDrive e acesso aos apps para iPhone e Android. Para empresas, entram na conta soluções corporativas rodando na nuvem, como o sistema de comunicação Lync, SharePoint e servidor de e-mail Outlook, além do suporte sempre prestativo.

As alternativas são mais baratas, mas também inferiores

Uma planilha complexa no Excel.
Imagem: Microsoft/Reprodução.

As alternativas são gratuitas ou mais baratas? Sim. Mas carecem da maturidade do Office, do poder das suas ferramentas e da integração, entre apps e com as empresas. Para usuários casuais, um Google Drive ou iWork quebra o galho; para quem está inserido em uma grande rede corporativa cheia de protocolos e regras, não.

A última reformulação no iWork simplificou, muito até, os apps. É um caminho contrário ao do da Microsoft, que conseguiu algo raro com seu Office: ser ao mesmo tempo poderoso para quem precisa e simples para quem não o entender. O leitor Gustavo Vieira usa o Office no trabalho e em casa e explicou seus motivos:

“Uso [o Office] tanto na empresa quanto em casa e a justificativa é a mesma: é o que tem os melhores recursos avançados no pacote. Simplesmente não há alternativa decente (principalmente em relação ao Excel — fórmulas matriciais, macros VBA, tabelas dinâmicas) que consiga suplantar a suíte da microsoft. Até o Word, que a maioria acha que é apenas um editor de texto feioso, tem suas vantagens insubstituíveis (opções de formatação, smartart, referências, alterações controladas…).”

O Paulo, que sugeriu esta pauta, detalhou o que torna o Office, em especial o Excel, insubstituível para ele — e é curioso notar como os motivos vão além dos técnicos:

  • Porque quando comecei a trabalhar na área (design de interiores) há 10 anos já faziam assim, então, é algo muito difícil de mudar na cabeça das pessoas.
  • Macros. Querendo ou não, criar uma macro é algo muito difundido e relativamente fácil, então a planilha que eu uso tem macros criadas anos atrás que ainda funcionam muito bem.
  • Velocidade e confiabilidade com planilhas grandes. É sensível a diferença aqui. Uma planilha online como a do Google não tem a mesma velocidade de cálculo, nem a mesma confiabilidade. Já aconteceu de eu ter lançado algumas coisas na planilha do Google, e quando vou abrir, dá algum bug e o dado desaparece! Coisa que NUNCA, NUNCA, aconteceu com o Excel.
  • Fórmulas. As fórmulas do Excel são traduzidas para português, e quando meu pai me ensinou a mexer no Excel, ele me ensinou as fórmulas em… adivinha: português, como SOMA, CALC, etc. As fórmulas do Google Docs estão em inglês e são ligeiramente diferentes, o que me atrapalha um pouco.
  • Ambiente diferente. Querendo ou não, as pessoas ainda se sentem meio coibidas usando uma planilha fora do computador delas. “Mas fica nos Estados Unidos?”, disse uma funcionária aqui. “Mas o arquivo não é mais meu?”, disse outra funcionária. A pessoa perde a ilusão da “posse” daquele arquivo, acha que literalmente pode perder o arquivo ou outras pessoas podem ler. (E isso tem um fundinho de verdade.)
  • Ninguém quer aprender a mexer no Google Script para substituir macros! Sério, nem eu, que gosto de tecnologia, tive paciência de chafurdar em manuais para criar scripts que substituiriam as macros. A Macro é algo tão difundido, que é bem difícil substituir agora. Mas eu tenho uma missão comigo mesmo de resolver isso pelo menos aqui, no escritório.
  • Look and feel diferente. Imagina uma secretária, que faz o trabalho dela, repetitivo e sem criatividade, há 20 anos (uma grande amiga minha, por sinal), ter que se acostumar com os Ribbons do Excel 2007/2010. Não rolou. Ela pediu para trocarem de volta pelo Excel 2003, com os menus que ela estava acostumada.
  • Zoom. É normal fazer uma planilha grande no Excel e diminuir o zoom para ela caber na tela. Esse conceito não existe no Google Docs, a planilha que você tem é sempre 100% da visão, você não consegue reduzir ela na tela. Imagina isso com uma planilha com milhares de entradas!
  • Letargia profissional. Quase ninguém num ambiente corporativo quer melhorar as coisas, são poucos que querem arranjar uma encrenca. As pessoas querem fazer o trabalho delas e ir embora. Ninguém quer encarar o problema de transferir uma planilha monstruosa, com dados de 15 anos, para o Google, adaptar toda a formatação, ajustar as letras, recriar as macros em script, ensinar as pessoas a usar o novo conceito e convencer o chefe. É muito mais fácil simplesmente avisar o pessoal do TI a instalar a mesma versão do Excel 97/2003 no computador dele, que vai funcionar de qualquer jeito.

Nem toda empresa precisa de tudo o que o Office oferece, claro. Quanto mais simples as exigências, quanto mais enxuto o workflow e menor o número de funcionários, mais fácil é adotar alternativas. Embora o iWork foque na simplicidade para agradar o usuário doméstico, o Google tem a mesma abordagem de olho no corporativo. E funciona, pelo menos para cinco milhões de empresas — esse número, o último divulgado oficialmente, de junho de 2012.
É muito bom ter opções e não depender apenas de uma fornecedora, mas tratar o Office como uma tecnologia ultrapassada e em desuso é, no mínimo, exagerado, um discurso que não bate com a realidade, ainda que uma restrita à corporativa.

Talvez seja o mesmo caso do Internet Explorer: nos fins de semana, a sua fatia no gráfico de uso dos navegadores despenca. Só que funcionário também é gente e o software que ele usa é real, conta. Google Drive, iWork, OpenOffice e outros estão a quilômetros de distância do Office. Se duvida, tente fazer uma planilha complexa, com macros e outros recursos avançados, nessas alternativas. E boa sorte!

Gratuito e onipresente, OneNote é a droga de entrada da Microsoft

Não é fácil, para qualquer empresa, mudar seu modelo de negócios. Para uma enorme, com centenas de produtos, milhares de funcionários e anos de estrada como a Microsoft, menos ainda. Apesar de toda a dificuldade, o pessoal de Redmond parece convicto de que o futuro está nos dispositivos e serviços e, pouco a pouco, começa a refletir essa mentalidade nas suas ofertas.

A última? O OneNote. Para quem nunca se deu ao trabalho de abri-lo, é um aplicativo para tomar notas similar ao Evernote. Ele é organizado na forma de cadernos, com “pastas” dentro e dá uma liberdade bem grande ao usuário, que pode escrever, desenhar e colar objetos em qualquer parte da tela, organizando a informação da maneira que preferir.

OneNote: onde você quiser, de graça

Além de ser um dos aplicativos mais novos da suíte Office, o OneNote costuma servir de cobaia para experiências da Microsoft. Ele foi o primeiro desses apps a ser lançado em sistemas móveis concorrentes (iOS e Android no começo de 2012) e o pioneiro e, até o momento, único a ter uma versão moderna no Windows 8 (março de 2013). Agora a Microsoft experimenta novamente com o OneNote ao torná-lo o primeiro pedaço do Office totalmente gratuito.

De uma vez só, foram anunciadas várias novidades para o OneNote:

  • Lançamento da versão para OS X, gratuita e distribuída via Mac App Store. Com ela, o OneNote passa a ser acessível de oito maneiras diferentes: app para Windows, app moderno para Windows 8, Windows Phone, OS X, iPad, iPhone, Android e web.
  • Distribuição gratuita e independente do Office na versão Windows. O OneNote agora é gratuito, sem anúncios e com (quase) todos os recursos — só ficam de fora alguns de cunho corporativo, como integração com Outlook e SharePoint, e histórico de versões, que seguem atrelados ao Office 365.
  • Novas formas de salvar conteúdo. O OneNote Clipper é um bookmarklet que envia páginas web para um caderno do OneNote e funciona com os quatro principais navegadores. O Office Lens (apenas para Windows Phone) fotografa, ajusta e manda para os cadernos do serviço imagens de textos “físicos”. É bem maluco, e parece funcionar bem. Por fim, agora dá para mandar conteúdo ao OneNote via email, via me@onenote.com.
  • API para integração com outros serviços. De cara, grandes nomes já estão disponíveis, como Feedly, IFTTT e Livescribe.

Por que o OneNote agora é gratuito?

OneNote chega ao Mac de graça.
Imagem: Microsoft/Reprodução.

Pouca gente está disposta, em 2014, a pagar por software — o boom de apps freemium é prova disso. Modelos gratuitos suportados por benefícios extras (e pagos) e o de assinatura têm barreiras menores de entrada, atraem mais usuários. O que você prefere: pagar mais de R$ 1.000 em uma licença do Office ou R$ 21 por mês para ter o Office 365, sempre atualizado, podendo cancelá-lo quando for conveniente? Pois é.

Forças externas, personificadas por analistas e investidores, reforçam o coro dos usuários e pressionam a Microsoft em direção a essa tendência. Na índia, duas fabricantes locais firmaram um acordo que lhes garantiu o licenciamento gratuito do Windows Phone. O Office 365, lançado ano passado, é o Office por assinatura: atualizado constantemente, com recursos que vão além dos apps da suíte.

O próximo passo é o OneNote. Ele faz (ou fazia?) parte do Office, o que à primeira vista pode dar a sensação de que essa estratégia é suicida. Afinal, só no último trimestre fiscal a Divisão de Negócios, onde o Office está alocado, faturou US$ 7,2 bilhões, quase 10% de todo o faturamento da Microsoft no período. Sendo o Office uma das franquias mais lucrativas, por que ceder e distribuir um pedaço atraente dele gratuitamente? Pelo ganho indireto e a longo prazo.

OneNote gratuito e onipresente.
Imagem: Microsoft/Reprodução.

A ideia da Microsoft é continuar lucrando em cima de clientes corporativos, que já formam o grosso dos usuários do Office mesmo e que continuarão pagando para ter o OneNote. A gratuidade atinge os usuários domésticos. É nesse público, que nunca pagou pelo Office ou não tem lá muito interesse nele, que esse esforço se concentra.

Com as novidades, que podem ser resumidas em presença total e gratuita nas principais plataformas atuais e extensibilidade, o OneNote diminui a distância que tem para o Evernote como ferramenta de “terceirização do cérebro” e deixa concorrentes menos robustos, como Google Keep e Simplenote (da Automattic) para trás. Ele sempre foi um bom produto; agora, ficou ainda melhor.

O Evernote, com uma base de 75 milhões de usuários e a ambição de chegar a um bilhão deles, recebeu críticas pesadas não faz muito tempo pela inconsistência e perda de dados — pecados capitais para um app do seu gênero. O timing desse anúncio foi muito bom, coisa rara em se tratando de Microsoft.

A oportunidade para o OneNote está aí. Capturar esse público, apresentar-se a outro que não o conhece e nem ao Evernote e, com o uso maciço, retê-los nos domínios da Microsoft e levá-los a outros produtos da casa. Ele deve fazer o papel, como alguém comentou, de “droga de entrada”. Se o usuário gostar, se sentirá mais compelido a partir para coisas mais pesadas como uma assinatura do Office 365, ou a expansão paga do espaço de armazenamento do OneDrive. Para a Microsoft, a nova Microsoft de dispositivos e serviços, tudo isso se traduz em novas fontes de faturamento e, o mais importante, entrando do jeito que ela quer, ou seja, via serviços.

Firefox para Windows 8 é cancelado devido à falta de interesse dos usuários

Parece que foi ontem, mas o Windows 8 já está no mercado há um ano e meio. Para qualquer empresa de desenvolvimento média ou grande, prazo generoso para portar ou criar um app. Considerando a fase de testes do sistema, que embora não trouxesse a Loja do Windows, em certa altura passou a permitir o desenvolvimento e depuração de aplicativos Metro/imersivos, lá se vão mais de dois anos.

O Windows 8, analisando bem, não é carente de grandes apps. Os principais estão lá, disponíveis na Loja: Facebook, Twitter, Foursquare (em versão exclusiva, ainda que de utilidade duvidosa, para tablets), Netflix, Skype… Com uma ou outra exceção, são apps inferiores aos equivalentes de plataformas rivais, mas marcam presença e amenizam a impressão de se estar em um deserto de apps ao iniciá-lo pela primeira vez.

Firefox Metro: desenvolvimento cancelado.
Screenshot: Mozilla.

Na última sexta-feira (14), o novo ecossistema da Microsoft teve uma baixa considerável. Johnathan Nightingale, vice-presidente do Firefox, anunciou o cancelamento do Firefox para Windows 8 em um blog oficial. A justificativa para encerrar um trabalho que vinha de longa data foi o baixo interesse dos usuários (grifo meu):

“Nos meses que se seguiram [desde o lançamento da versão beta], na medida em que a equipe testava e refinava o produto acompanhamos a adoção [da versão] Metro. Pelo que pudemos ver, ela é nula. Em qualquer dia nós temos, por exemplo, milhões de pessoas testando versões de pré-lançamento do Firefox para desktop, mas nunca vimos mais do que mil usuários ativos diários no ambiente Metro.”

Esse dado alarmante da Mozilla, de que menos de mil pessoas por dia testavam a versão moderna do Firefox, denota um problema de longa data: o desinteresse pelos apps em tela cheia e interface imersiva que estrearam com o Windows 8.

Em maio de 2013, a Soluto, que oferece uma solução de assistência remota e otimização de sistemas para Windows, liberou dados de uso do Windows 8 colhidos de usuários do seu app. Uma amostragem pequena e que exclui o Windows RT (a versão para processadores ARM que, apesar de rodar apenas apps modernos, vira e mexe fica sem eles, como no recente caso do VLC), mas que fortalece o discurso de que os usuários ignoram apps modernos em prol dos tradicionais, aqueles que rodam na área de trabalho clássica.

Cerca de 60% dos usuários de Windows 8 em sistemas sem tela sensível a toques abre menos de um app moderno por dia a cada semana. Em equipamentos touchscreen, esse perfil responde por 44% dos usuários analisados — melhor, mas ainda preocupante se levarmos em conta que a interface ideal, a tela que aceita comandos, está presente.

De quem é a culpa? Não dá para apontar o dedo para uma única causa. Na verdade, é uma série de fatores compartilhada entre Microsoft, desenvolvedores, fabricantes. A própria ideia inicial da Microsoft, de contemplar cenários tão distintos em um único sistema, dispersa a atenção, fragmenta a experiência e joga contra todos os esforços, sejam quais forem, em promover apps modernos.

Para a Microsoft, não ter o Firefox para Windows 8 é um forte sinal de desconfiança em relação à plataforma. Mas nem sempre ter a atenção dos concorrentes é exatamente bom. Em uma das últimas versões do Chrome, o Google se aproveitou de uma abertura nas políticas do sistema exclusiva para navegadores e recriou, dentro do Windows 8, o Chrome OS. Como um cavalo de Troia, o Chrome pode ser tudo o que o usuário vê no sistema, caso ela queira limitar-se a isso.

Ser ignorado ou servir de base para um sistema concorrente? Ambas as opções são indigestas e, alguns poucos anos atrás, impensáveis para o Windows. O mundo dá voltas, e rápido.

No aniversário de 25 anos da web, Tim Berners-Lee luta pela liberdade da Internet

Em 1989, de sua sala no CERN, em Genebra, Tim Berners-Lee escreveu uma proposta de sistema com o intuito de facilitar a comunicação dentro da instituição. Um sistema tão genialmente concebido que não demorou muito para que seu criador visse nele algo com muito mais potencial do que uma ferramenta para comunicação interna. Algo que conquistaria o mundo.

O aniversário da web foi muito celebrado, com todos os méritos, na última quarta-feira (12), data em que há 25 anos Berners-Lee escreveu a proposta de web. Ela conseguiu, em um quarto de século, acumular uma quantidade inestimável de conhecimento, construir e destruir grandes nomes, dar voz a quem, de outra forma, falaria para poucos ou acabaria no silêncio.

Continue lendo “No aniversário de 25 anos da web, Tim Berners-Lee luta pela liberdade da Internet”

Por que os desenvolvedores de apps não podem ignorar smartphones simples, como o Galaxy Y

Galaxy Y.
Foto: Samsung/Reprodução.

A maior virtude do Android é, ao mesmo tempo, a sua sina. O sistema móvel do Google, o mais popular do planeta, ao contrário do principal concorrente roda em uma variedade enorme de dispositivos, com telas, configurações e padrões de qualidade díspares. E nessa, é inevitável: modelos mais simples costumam ter um desempenho sofrível, demoram para cumprir as tarefas mais triviais e, não raro, são relegados a segundo plano pelos desenvolvedores. São fatores que para o usuário se traduzem em frustração.

Um dos smartphones mais emblemáticos dessa segunda classe de aparelhos Android é o Galaxy Y, da Samsung, também conhecido como Galaxy Young em alguns países. Na realidade, trata-se de uma família de smartphones. Seus membros são reconhecidos, por usuários e gente da indústria, como fracos, e contra isso é difícil argumentar. As variações são tímidas e mesmo versões mais recentes, como o Galaxy Young Duos, lançado aqui no final do ano passado mantêm a tradição e seguem com especificações abaixo das necessárias para oferecer uma experiência de uso decente.

Em tempo: no final do ano passado fiz um comparativo de smartphones até R$ 500, faixa onde o Galaxy Young Duos se encaixa. Na época, não consegui uma unidade desse modelo para inclui-lo, mas dada a similaridade dos quatro que entraram na disputa, é seguro dizer que o aparelho da Samsung não iria muito mais longe do que esses.

O Galaxy Y original, de 2011, apresenta configurações que já naquela época fariam qualquer um torcer o nariz. Seu SoC conta com uma CPU de 826 MHz, o que, para os padrões da época, não era algo exatamente horrível. O que pesa mesmo é a quantidade limitada de RAM, apenas 290 MB, e o espaço interno ínfimo, de apenas 180 MB. Ficar estagnado no Android 2.3 também não contribuiu positivamente.

Se há pouco mais de dois anos o Galaxy Y já era questionável, para os padrões atuais a única característica que ainda justifica o seu relativo sucesso é a que sempre lhe foi a mais tentadora: o preço. Ainda à venda nas principais lojas brasileiras, é fácil encontrá-lo por menos de R$ 300. O duelo de titãs aqui se dá contra o L1 II, da LG, um Android mais moderno e superior, e o simpático Asha 501, da Nokia, que roda um sistema próprio que carece de apps e sofre para rodar os poucos que tem.

As limitações da falta de memória do Galaxy Y

[insert]

Galaxy Y, o terror dos comentários no Google Play.
Comentários de donos de Galaxy Y no Google Play.

[/insert]

Na última atualização do Android, a versão 4.4, o Google concentrou esforços em tornar o sistema mais fluído em sistemas com pouca RAM, com 512 MB. Seria preciso um milagre para melhorá-lo com pouco mais da metade disso, caso do Galaxy Y.

A RAM é um tipo de memória temporária que sistema e apps usam para funcionarem. Eles carregam dados nessa memória, mais rápida que a secundária (a “memória interna”, ou do cartão SD), que são processados e exibidos na tela. Mais RAM significa uma multitarefa melhor; RAM insuficiente, como a do Galaxy Y, é a certeza de que rodar um app que seja é um esforço descomunal para o aparelho, especialmente apps gastões, como o oficial do Facebook. Rodar o Android 2.3, uma versão antiga e carente de muitas otimizações posteriores, contribui para a piora do cenário.

A outra memória, a interna/secundária, também é uma pedra no sapato dos donos de Galaxy Y. São 180 MB para instalar apps e, caso não se tenha um cartão SD espetado no aparelho, dividir com músicas e fotos. A mensagem de espaço insuficiente é constante e irritante, para dizer o mínimo.

No Google Play, comentários raivosos costumam vir de usuários insatisfeitos com o desempenho dos apps em seus aparelhos — e, não raramente, esses são Galaxy Y ou algum outro modelo de entrada. As situações, ora dramáticas, ora cômicas, estampam uma verdade difícil de negar: desenvolver para Android dá mais trabalho.

É preciso considerar uma ampla gama de configurações, versões do sistema e resoluções de tela em uso. Olhando assim parecem poucos fatores, mas as combinações resultam em um número imenso de possibilidades. Quanto, exatamente? No começo de 2012, a Animoca, uma empresa de Hong Kong, disse que testava seus apps em 400 aparelhos diferentes! Quem não se pode dar a esse luxo recorre a serviços que testam apps em vários dispositivos, como o AppThwack. Parece mais prático, mas continua longe de ser fácil.

Isso é desenvolver para Android.
Foto: Animoca.

Como ignorar um grande filão?

E se os desenvolvedores ignorassem o Galaxy Y e outros? E se eles focassem apenas nos smartphones mais poderosos, com configurações mais uniformes, boas e parelhas?

É um risco,  e um que poucos decidem correr. O Android tem volume, e essa a grande força da plataforma. Por englobar todo tipo de usuário, ser o mais usado não é garantia de lucratividade. O iOS, mesmo com uma base bem menor, concentra o grosso do que os desenvolvedores lucram. Para compensar esse desnivelamento e não deixar uma parte enorme dos usuários inexplorada, a saída é atirar para todos os lados — ou para todos os dispositivos.

A história recente mostra, ainda, que focar em smartphones Android high-end pode não ser uma boa. O Facebook Home saiu compatível com meia dúzia de modelos. Talvez por ser ruim, talvez por esse alcance restrito, definhou e poucas semanas depois de lançado já não se ouvia falar muito dele.

Otimização para telas pequenas no novo Instagram.
Imagem: The Verge.

Aprendida a lição, na última atualização do Instagram para Android o Facebook focou no mercado global (leia-se fora dos EUA), que responde por 60% dos usuários do serviço, muitos deles usando aparelhos bem simples. O tamanho do app encolheu pela metade, ele carrega perfis com o dobro da velocidade e seu design foi otimizado para telas pequenas — como a do Galaxy Y, citando nominalmente por Philip McAllister, gerente de engenharia do Instagram, à reportagem do The Verge.

O apelo do Instagram é tão grande que deixá-lo de fora de aparelhos mais simples é ruim para todos — Facebook, fabricante e os proprietários. As limitações atrapalham muito, mas mesmo sem contorná-las diversas empresas se arriscam com versões capadas, ou que não funcionam direito. Também no Galaxy Y, o Snapchat funciona, mas não lida muito bem (ou de modo algum) com vídeo.

Um outro exemplo de atenção à parte de baixo da tabela é o WhatsApp. Dos 450 milhões de usuários, muitos estão em países subdesenvolvidos carregando celulares baratos no bolso. Os fundadores do serviço fazem questão de, eles próprios, andarem por aí com aparelhos da Nokia rodando Symbian. Abraçar várias plataformas, mesmo as que não são usadas nos EUA e que equipam celulares simples, é apontado como um dos fatores que levaram o app ao sucesso e, consequentemente, à venda de US$ 19 bilhões ao Facebook.

O que se nota em comum em todos esses casos é a importância que a base da pirâmide teve na consolidação dos serviços. Instagram e WhatsApp, mesmo vindo de direções opostas (o primeiro, exclusivo para iPhone; o segundo, rodando até em S40, um dos sistemas mais simples da Nokia), se esforçam para não fazerem distinção entre seus usuários e para garantir que a experiência seja satisfatória estejam eles usando um iPhone 5s ou um Galaxy Y.

Não é uma abordagem simples ou barata, mas é uma digna de reconhecimento enquanto não chegamos a um patamar mínimo de qualidade e especificações em smartphones.

[Review] G Pad 8.3, o bom retorno da LG aos tablets

Por um bom tempo tablets Android viveram à sombra do iPad. Diferentemente do que acontece nos smartphones, onde o sistema do Google evoluiu melhor e hoje rivaliza em qualidade com o iOS, nos tablets a competição sempre foi mais complicada. Tanto que após algumas tentativas, fabricantes como a LG pararam a fabricação de tablets por um tempo.

O G Pad 8.3 marcou o retorno da sul coreana ao segmento de tablets pouco mais de um ano após ela anunciar que “daria um tempo” no segmento. Com tamanho intermediário, boas especificações e as profundas modificações que a LG costuma empregar no Android, o que esperar dele? Trata-se, afinal, de um retorno triunfal, ou apenas um tímido, quase dispensável? É o que descobriremos agora. Continue lendo “[Review] G Pad 8.3, o bom retorno da LG aos tablets”

Qual a graça do Snapchat?

Quando o assunto “Snapchat” surge, é comum as pessoas me perguntarem qual a graça daquilo. A ideia de fotos que somem alguns segundos depois de abertas desafia a noção de eternidade que redes sociais e a Internet, de modo geral, apregoa desde o seu surgimento e coloca em xeque o trabalho gasto para algo tão efêmero. Qual o sentido disso?

Talvez o único caso de uso do Snapchat que todos compreendem (e no qual, quase sempre, limitam o app) é a troca de fotos íntimas. E é fácil adequá-lo à situação: casos de fotos e vídeos vazados recentemente, alguns com consequências drásticas justificam a existência de imagens que evaporam em poucos segundos.

Esse extremo evidencia o grande barato do Snapchat, mas nem de longe é a sua única utilidade. Ao tirar o peso do legado, ele e seus pares calcados na efemeridade e/ou no semi-anonimato eliminam as amarras sociais, dão muita margem à criatividade e criam um ambiente que nem Facebook, nem Twitter são capazes de replicar.

Longe dos parentes, com mais liberdade

O Twitter talvez seja uma espécie de meio termo entre Facebook (exposição máxima) e o Snapchat (privacidade e controle). Uma rede social marginal, ele consegue atrair mentes criativas e personalidades que gostam de se expôr, mas não tem apelo entre gente mais… “tradicional”. Nessa definição inclua aquela tia que faz comentários constrangedores nas suas fotos do Facebook, ou aquele amigo que nem liga muito para tudo isso, mas que entrou por pressão dos outros e acabou gostando de ver fotos e atualizações dos amigos naquela página/app azul e branco.

Para esses, o Twitter é questionável na mesma medida em que o Snapchat o é para um grupo maior. Qual a graça de ficar mandando mensagens de 140 caracteres para gente que você nem conhece direito e que, na maioria dos casos, não responde?

Mascote do Snapchat.
Desenho: Snapchat/Reprodução.

No Snapchat você cria uma lista de amigos e escolhe, na hora de mandar uma foto, quem a receberá. O tempo de exibição da foto é controlável também, vai de um a dez segundos. Caso alguém faça um print screen da foto durante o tempo de exibição, o app denuncia.

É uma lógica simples, mas bem arquitetada e instigante. Em um dos meus grupos de amigos o Snapchat é muito usado. Piadas internas (algumas maldosas!), amenidades do dia a dia, eventos sociais, coisas que gerariam desconforto com pessoas distintas em locais mais tradicionais, ganham espaço ali. É algo mais íntimo que o Facebook e que não deixa rastros, não fica impregnado na sua persona digital para todo o sempre. O que à primeira vista não faz sentido (“por que tirar fotos que somem segundos depois?”) é, na realidade, o trunfo da experiência.

Snapchat contra o legado

Eu de modelo para a Toia no Snapchat.
Desenhos: Toia/Cavalo de Toia.

Junto a vestir-se bem e preparar um currículo enxuto, os especialistas em recursos humanos incorporaram há alguns anos uma nova dica que aparece em todas as listas delas para quem está em busca de um emprego: cuidado com o que você publica nas redes sociais.

Histórias de gente que perdeu uma vaga por causa das fotos da festa que não ficaram tão ótimas assim não são raras, e é bem possível que nesse carnaval você tenha se deparado com algum amigo fazendo aquela brincadeira de virar um copo de cerveja e passar o “desafio” para outros amigos.

É uma brincadeira bem boba, mas que no calor do momento, com um pouco de álcool afetando o discernimento pode parecer divertida. Só que passada a ressaca você abre o Facebook, vê os comentários, as curtidas… aquele pensamento “o que foi que eu fiz?” pode bater mais forte que os 500 ml de álcool ingeridos de uma vez.

Nesse momento “eureka” você se dá conta da existência da sua sombra eletrônica, sempre ali, sempre ignorada. Como explica Sherry Turkle em Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other:

Peter Pan, que não podia ver sua sombra, era o menino que nunca cresceu. Muitos de nós somos como ele. Com o tempo (e digo isso com ansiedade), viver com uma sombra eletrônica se torna tão natural que ela parece desaparecer — isso, até um momento de crise: um processo judicial, um escândalo, uma investigação. Então, quando somos pegos, caímos na real e nos damos conta de que fomos instrumentos da nossa própria vigilância.

Ela ainda diz que, embora os adolescentes sejam os que mais sofram, todos, eles e adultos, vivemos a fantasia da privacidade online. Trocamos informações confidenciais via WhatsApp e e-mail, mesmo sabendo que ambos estão longe de serem canais seguros para tal. Em outro ponto, Turkle comenta:

Alguns dizem que esse problema não é um problema; eles apontam que privacidade é uma ideia historicamente nova. É verdade. Mas embora historicamente nova, a privacidade tem servido bem às noções modernas de intimidade e democracia. Sem privacidade, as fronteiras da intimidade se perdem. E, claro, quando toda informação é coletada, todos podem se transformar em informantes.

Ainda se vê muitas publicações inconsequentes por aí, mas muitos de nós já tomamos mais cuidado com o que publicar. Antes de mandar um comentário raivoso, uma foto constrangedora ou um link polêmico, pesamos as consequências. Quem provavelmente curtirá isso, quais comentários contrários virão, quem talvez se sinta magoado, ultrajado ou apenas incomodado. Às vezes desistimos, e esse comportamento se tornou tão frequente que o Facebook já o analisa para entendê-lo e combatê-lo, a fim de que nos sintamos mais confortáveis em expôr ideias e opiniões, todas elas, por mais controversas ou perigosas que sejam.

A mecânica do Snapchat reduz muito essa análise prévia do que será publicado. A foto some em poucos segundos, tenho o controle rigoroso de quem a verá, os riscos de magoar alguém ou ver aquele conteúdo se voltar contra si mesmo são menores. É essa premissa que levou o Facebook a lançar o Instagram Direct e a comprar o WhatsApp, o Twitter a dar atenção às mensagens diretas após anos de negligência e ao surgimento de apps calcados no anonimato, como Wut, Secret e Whisper. Nós gostamos de privacidade, por mais que tentem lhe fazer pensar o contrário.

Mas e o print screen?

O Snapchat avisa quando alguém tira um print da tela.
Alerta de screenshot.

E se alguém faz um print screen da foto enviada via Snapchat? O app avisa, claro. Mas espere: e aqueles apps e hacks que permitem salvar imagens sem que o remetente fique sabendo? É um problema, vide os vários Tumblrs com fotos de mulheres nuas ao alcance de uma busca no Google.

Acidental ou não, encaro o aviso de print screen como um toque genial de alerta dentro do Snapchat. Apesar de toda a liberdade que as circunstâncias promovem, a possibilidade de eternizar aquela foto funciona como um lembrete, quase inconsciente, de que nem tudo se permite ali. Ou que, ao se permitir tudo, existem consequências como parar em locais indesejados, permanentes na Internet.

Não é o print screen em si que exerce essa função de alerta, mas a sua mera existência. Saber que alguém pode salvar uma foto mais íntima, ou mais pesada, dá a medida de precaução e cria reservas na hora do compartilhamento. Afinal, tem coisa que você não comenta com ninguém, nem com seu melhor amigo.

A reputação digital pesa menos no Snapchat

Patrícia Pinheiro, no Brasil Post, fez um breve comentário sobre reputação digital. Segundo ela, o que é publicado na Internet nunca some, é sempre lembrado e associado ao autor, e esse é o preço que se paga para fazer parte disso:

Para Manuel Castells, aquele que decide se conectar aceita, mesmo que tacitamente, o resultado da ‘socialização dos seus dados’, ou melhor, a perda do controle das suas próprias informações.

Portanto, há um preço a pagar para se sentir inserido no mundo digital, para participar de mídias sociais, para ter o direito de usar uma imensidão de aplicativos viciantes que são oferecidos gratuitamente em um esquema muito bem elaborado que troca superficialidades e banalidades por dados da intimidade, vida e rotina das pessoas que aceitam participar.

Depois de escolher entrar pela porta dessa internet colaborativa que promete mais transparência, será que tem volta? Ou melhor, será que temos escolha? Hoje a maior parte dos termos de uso destes serviços deixa muito claro que por mais que a pessoa deixe ser usuário, o que ela compartilhou por ali fica lá e na galáxia da internet para sempre.

Sherry Turkle também comenta algo nesse sentido:

(…) [Na Internet] as palavras “deletar” e “apagar” são metafóricas: arquivos, fotos, e-mails e históricos de pesquisas são removidos apenas do nosso campo de visão. A Internet nunca esquece.

O Snapchat caminha na direção oposta à dessa ideia. No Facebook, saber todos os detalhes da vida do usuário é essencial para o modelo de negócios e para o seu funcionamento. É nas associações e no conhecimento de quem usa o serviço que o Grafo Social se constrói e as facilidades e oportunidades da rede decorrem. O efeito colateral, como já debatido, é um punhado de cicatrizes digitais, registros permanentes da sua vida — para o bem e para o mal. Mesmo sem modelo de negócios, a efemeridade é o que destaca o Snapchat e é algo que, é seguro dizer, não deve sumir, diferentemente das fotos veiculadas por lá.

Se chegar a compartilhar aquele vídeo virando um copo de cerveja no Snapchat, será apenas com amigos mais próximos. E você ainda poderá excluir os não tão próximos; a lista de amigos nunca está preenchida, é preciso escolher quem receberá cada foto enviada para o serviço. Talvez um dos destinatários se torne um grande líder e, lá na frente, possa estar na posição de avaliá-lo para uma vaga de emprego, mas a proximidade entre vocês talvez anule esse e outros deslizes. Se você manda essas fotos para ele, é bem provável que esse hipotético futuro chefe também tenha mandado alguma bobagem. O que acontece no Spapchat, em geral fica no Snapchat.

A internet, ainda em sua juventude, está sendo moldada. Até pouco tempo atrás, ela era encarada como terra de ninguém, um lugar sem lei onde vale tudo. Não mais. Outra noção tão forte quanto, a de que tudo o que acontece aqui fica registrado para a eternidade, que a palavra convertida em bits e lançada na rede jamais se apaga, começa a ruir. O Snapchat é a marreta que derruba essa noção e importa por isso. Você pode até achá-lo uma bobagem depois de todo esse discurso, ou seus criadores malucos por terem dado de ombros a US$ 3 bilhões, mas não duvide de que ele impactará, direta ou indiretamente, muita coisa, inclusive a nossa concepção de presença na Internet.

Foto do topo: Agnes Owusu/Flickr.

Capa do livro Alone Together.

Compre o livro Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other

Comprando pelo link acima o preço não muda e o Manual do Usuário ganha uma pequena comissão sobre a venda para continuar funcionando. Obrigado!

Não um puro remake, o novo RoboCop é moderno e humano

O novo RoboCop.
Foto: Sony Pictures/Reprodução.

Daquelas memórias da infância que permanecem vívidas não importa quantos anos se passem, uma das minhas é a do dia em que o vídeo cassete chegou em casa. Ou melhor, do dia em que fomos buscá-lo na loja. Na volta, eu e meu pai passamos em uma locadora para pegar o primeiro filme a ser visto sob demanda, na hora em que quiséssemos, sem intervalos comerciais.

A minha escolha foi RoboCop 2. Em meados da década de 1990 eu estava longe dos 18 anos mínimos de existência recomendados para ver o filme, mas quem se importava, certo? Esse descaso com a classificação etária até combinava, de uma maneira meio torta, com o universo fictício do filme, uma terra de ninguém um tanto ingênua.

Dos filmes em si, restou pouca coisa na minha cabeça. Apenas uns flashes e cenas mais marcantes não se foram com o tempo, como a remoção da máscara de Murphy e o ED-209 do primeiro, a droga que assolava Detroit na sequência e o traje de voo na conclusão da trilogia. As circunstâncias, que incluem o aluguel da fita e o fascínio que tinha pelo policial robótico, essas sim nunca desapareceram. Tinha RoboCop comigo, até pouco tempo atrás, como um filme muito legal.

Quando anunciaram o remake da franquia sob a direção de José Padilha, o interesse pela história de Alex Murphy voltou. Faltando uma semana para a estreia no Brasil do novo RoboCop, voltei no tempo e revi, com seguramente mais de uma década de intervalo desde a última sessão, os dois primeiros filmes da trilogia clássica, de 1987 e 1990. Para que você se situe sobre o que esperar dessa crítica, antecipo: não gosto do RoboCop de Paul Verhoeven e menos ainda de RoboCop 2.

Em 1987, Verhoeven fez um filme com as suas assinaturas: programas de TV sensacionalistas apresentavam o estado caótico de Detroit, propagandas fictícias tiravam sarro do consumismo exacerbado da sociedade americana e a censura de 18 anos dava margem para mutilações e cenas gore que beiravam o caricato. A tecnologia, real e cinematográfica, dataram o filme de maneira ostensiva, ainda que haja muito de técnica ali merecedora de reconhecimento até hoje, como o stop motion, usado nas cenas do ED-209, compensando a falta de computação gráfica. Apesar de pouco ambicioso, pelo que li e ouvi o primeiro RoboCop foi um filme marcante por apresentar um futuro distópico fantasioso e excitante.

Em 2014, RoboCop deixa de ser um sci-fi puro. Como alguém já disse, o emprego da robótica passou, em menos de 30 anos, de um descompromissado “e se…” para algo inevitável a médio ou mesmo curto prazo. Drones já patrulham os céus, câmeras de vigilância registram a vida nas grandes cidades. Neste remake, Padilha atualizou a história, mudou o tom e conseguiu fazer, se não um filmaço, pelo menos um bem diferente (e melhor!) que aquele que o inspirou.

Um mocinho, vários vilões

Robocop | trailer 1 legendado | Em exibição nos cinemas

É fácil falar de um remake contrapondo-o seguidamente ao filme que lhe deu origem. Note que fiz isso um bocado, mas até por respeito ao novo diminuirei as comparações daqui em diante. Não é preciso recorrer a esse subterfúgio para comentá-lo.

O grande acerto do novo filme, aliás, é não se comparar com o clássico de 1987, não tentar replicar o tom escrachado, muito menos manter vivas algumas convenções talvez tidas como sagradas por fãs mais comprometidos. É um filme realmente novo, que apenas se aproveita das linhas gerais daquela história de um policial destruído que renasce como um ciborgue — e de algumas leves e bem encaixadas referências .

A gênese desse RoboCop é fruto de uma mistura de lobby político, pressão da mídia (personificada por um Samuel L. Jackson que mais uma vez interpreta a si mesmo) e capitalismo em estado puro. Um plot mais complexo, bastante atual. Como tudo que é “bastante atual”, um que corre o risco de ficar datado, mas que por ora cumpre bem a função de justificar o retrocesso que é colocar um ser humano, ou o que restou dele, dentro de um robô. Talvez isso salve o filme de ficar preso a 2014.

No futuro de RoboCop, robôs que garantem a paz em locais conturbados são realidade. Eles estão no mundo inteiro e logo de cara são apresentados ao espectador em uma transmissão ao vivo direto de Teerã. Lá, os robôs grandalhões ED-209, os humanóides EM-208 e drones XT-908 fazem uma varredura nas ruas em busca de suspeitos. Eles funcionam bem, são casos de sucesso no exterior. (Para vê-los em detalhes, faça uma visita ao site bacana da OmniCorp.) Por que estão em todo lugar, menos nos EUA? É o que questiona o personagem de Jackson.

Os EUA não permitem a presença de robôs nas ruas e esse impedimento é como entulho entupindo um cano de onde pode jorrar muito dinheiro do governo americano para a OmniCorp, a multinacional que os fabricam. A saída encontrada para forçar sua entrada nesse mercado, reverter a opinião pública e mudar a legislação é dar a um robô a coisa mais humana que existe: uma consciência.

Murphy descobre que virou o RoboCop.
Foto: Sony Pictures/Reprodução.

Alex Murphy (Joel Kinnaman) mais uma vez está no lugar errado e na hora errada. Com o aval da esposa, Clara (Abbie Cornish), após quase morrer em um atentado ele se destaca na busca da OmniCorp pelo candidato perfeito para ser o RoboCop. Não o mais forte, nem o mais esperto, mas o mais equilibrado. Num ritmo tranquilo e compassado, a sua robotização, bem como os entraves que a consciência humana impõem a uma máquina de guerra e a difícil adaptação a essa nova vida dentro de uma armadura se desenvolvem bem.

Os dilemas morais da relação homem-máquina são explorados no relacionamento entre Murphy e sua família e no controle que a OmniCorp exerce sobre a (mais da) metade máquina do policial. Quando o fator humanidade atrapalha o desempenho das suas funções, Dr. Norton (Gary Oldman) e sua equipe fazem uns tweaks no cérebro dele para otimizar esse aspecto. Em último caso, o RoboCop pode ser desligado.

O filme é, antes de tudo, uma queda de braço entre a máquina e o homem, entre Murphy e a OmniCorp, e leva esse duelo ora sutil, ora escancarado até o ápice da história. Em segundo plano, questiona a terceirização da ordem para máquinas, o que poderia ser uma prequência de Matrix ou a base para discussões maiores. Essa subtrama, embora passe como um detalhe nesse filme, tem muito potencial. Sequências no horizonte? Espero que sim.

Um RoboCop moderno

RoboCop ainda com o traje prata.
Foto: Sony Pictures/Reprodução.

O RoboCop de 2014 é ágil: ele corre, pula, é bem flexível. Ele também carrega armas não letais, e embora isso pareça uma saída fácil para manter a classificação etária baixa (no Brasil, 14 anos), é uma abordagem que casa melhor com a ideia moderna de policiamento, de reagir na medida da ameaça apresentada. Não é nada próximo do sádico RoboCop de Verhoeven que atirava nos testículos alheios.

A inteligência artificial embarcada em Murphy atua paralelamente à sua consciência. Ela mapeia ambientes e elabora estratégias tão rápido quanto as executa. Murphy sempre sabe no que está se metendo e é interessante notar que em alguns momentos o seu lado humano se sobrepõe ao perigo e ele se lança em batalhas que reconhece perigosas, até mortais.

A conectividade está em alta, como estaria em uma versão real do RoboCop. Além do controle rigoroso que a OmniCorp exerce sobre a sua propriedade, Murphy tem na cabeça todos os bancos de dados gigantescos da polícia, acessa câmeras de vigilância em tempo real, é capaz de fazer associações e cruzar dados para solucionar crimes e localizar suspeitos.

Diferentemente do engessado RoboCop interpretado por Peter Weller no final da década de 1980, o novo é crível. O que se vê na tela, especialmente na desconfortável cena em que Murphy pós-Robocop é mostrado sem o maquinário que lhe transforma no policial do futuro, pode até ser questionado, mas dentro das premissas lançadas pelo roteiro, que se passa em 2028, as coisas se encaixam de maneira convincente. Sua inserção na sociedade também é mais viva. Se em 1987 ele parece uma entidade meio desconectada da polícia e da OCP, e ignorada pelo público, em 2014 ele é explorado pela propaganda do governo e da OmniCorp e é adorado pelos civis.

Esse RoboCop não é invencível. Logo no começo, Mattox (Jackie Earle Haley) deixa claro que sua carcaça não é páreo para munição calibre .50. Ainda assim, vemos um policial com capacidades sobre humanas, que ninguém consegue parar, munido com um senso de justiça que coloca em xeque o status quo e não faz distinção entre quem anda fora da linha. Ele é incorruptível, admirável. É fácil vibrar com um cara tão legal.

O crime tem um novo inimigo; o cinema, um ótimo filme

Murphy e Clara.
Foto: Sony Pictures/Reprodução.

O elenco de RoboCop é recheado de caras conhecidas e de atuações bacanas, especialmente Michael Keaton como Sellars, uma espécie de Steve Jobs em um universo alternativo, no comando da OmniCorp. A produção é bacana e se o futuro de 2028 tiver aquelas interfaces e dispositivos maneiros, será um ano interessante para se viver. Eles são um show à parte.

O novo RoboCop não compartilha muito com a trilogia original. Até a música-tema, indefectível, é tocada uma ou duas vezes, e se destaca quando o título do longa surge na tela — ou seja, mais como uma homenagem/referência. Não foi preciso recorrer ao passado para se fazer um filme legal.

Com cenas de ação muito bem feitas, e sem deixar de lado questões mais urgentes (e complexas), eu pagaria bem mais que um dólar pelo RoboCop de 2014.