[Review] Asha 501: smartphone barato? Sim, mas com dignidade

Um dos maiores mitos da tecnologia de consumo é o produto de entrada para os “não iniciados”. Um smartphone barato não é apenas um smartphone barato, é também um destinado a quem está vindo de um celular simples, que nunca teve contato com sistemas modernos e seus milhares de apps. É o que dizem, pelo menos, parte da imprensa e parte das fabricantes.

Para mim, isso é bobagem. Se duvida, faça um teste: dê um Galaxy S 4 e um Galaxy Y para alguém que se encaixa nesse perfil e veja com qual dos dois ele se sai melhor. Os entraves que um equipamento de baixo custo impõe ao usuário são contornáveis por quem tem familiaridade com o assunto. Para o leigo, não passam de empecilhos, camadas extras de dificuldade para se fazer o que tem que ser feito com o gadget. Para qualquer um, todos nós, limitações irritantes.

Androids baratos sofrem muito desse problema. A linha Asha, da Nokia, tem por objetivo ocupar essa faixa de preço apostando em características diferentes das dos modelos com Android de mesmo preço. Em vez da infinidade de apps combinada com hardware medíocre, ela mantém essa última parte da equação mas coloca um software adequado ao hardware em que será executado.

Dá certo? É cada vez mais raro justificar a compra de um featurephone. Smartphones low-end estão melhorando e já não é mais impossível achar modelos decentes na faixa dos R$ 500. Para quem não pode pagar isso e não quer um Nokia lanterninha, a única opção é se jogar nesse espaço nem sempre agradável que separa as duas categorias — e torcer para não se arrepender.

A última investida da Nokia na sua linha básica, o Asha 501, chegou ao Brasil no final de julho de 2013. Esse aparelho é, no geral, uma evolução notável do que vinha sendo feito até então — testei um Asha 311 no começo do ano e… não era de se jogar fora, mas mesmo com hardware teoricamente superior, ele fica atrás do novo modelo. Ainda assim, o Asha 501 é suficiente para agradar quem está curto de grana? Você confere a resposta no primeiro review (sério!) do Manual do Usuário.

Vídeo

Óun, que celular bonitinho esse Asha 501!

A repaginada no Asha 501 se nota logo de cara graças ao design emprestado dos modelos mais caros da Nokia, os da linha Lumia. A parte de trás, feita de plástico e com cinco opções de cores, dá um ar jovial e alinhado à identidade visual da empresa. Pena que, no Brasil, apenas as sóbrias opções preto e branco chegaram.

A qualidade de construção é surpreendentemente boa para um produto dessa categoria. A tampa de trás é firme e, ao mesmo tempo, suave ao toque. Ela fica presa com firmeza ao aparelho (muito, até; é um pouco difícil desencaixá-la) e meio que “abraça” o Asha 501. Na frente, bordas grossas ao redor da tela e a presença de apenas um botão físico, o de voltar.

Todas as entradas e saídas do Asha 501 ficam na borda superior.
Foto: Rodrigo Ghedin.

O Asha 501 é econômico em botões e entradas/saídas. Além do botão frontal, ele tem outros três na lateral esquerda — dois para volume, um para ligar/desligar. No topo ficam a saída de áudio, a porta micro USB e uma entrada de energia proprietária da Nokia — desnecessária, já que o aparelho recarrega a bateria pela interface USB também. Embaixo e à esquerda, nada.

Pesando apenas 98,2 g, o Asha 501 não incomoda na mão. Suas dimensões são bem pequenas, exceto na espessura 12,1 mm. Esse tamanho diminuto esbarra, pois, na grossura do aparelho — quase chega a ser mais incômodo no bolso da calça do que smartphones Android e Windows Phone com telas bem maiores.

Asha 501 é um celular dual SIM -- aceita dois chips de operadoras.
Foto: Rodrigo Ghedin.

O modelo analisado possui suporte a dois SIM cards simultâneos. A configuração deles, atrás, é a seguinte: o principal fica embaixo da bateria, logo é preciso removê-la para acoplar o SIM card ali. O outro, bem como o slot para cartão SD (um de 4 GB vem na caixa), fica na lateral do aparelho. Ainda exigem a remoção da tampa, mas não a da bateria — e o mais legal é que além do SD card, o segundo slot para SIM card funciona em modo hot swap, ou seja, não é preciso desligar o celular para que o sistema reconheça um novo inserido ali. Clientes de três operadoras que vivem alternando dois SIM cards devem aproveitar bastante essa facilidade.

Mas essa tela aí…

Quando se liga o Asha 501, a tela joga na cara do usuário o preço pago por ele. Com 3 polegadas e uma resolução baixíssima, de apenas 320×240, não é, nem de (muito) longe, uma tela Retina. Os pixels são bem visíveis e qualquer texto menor tem sua legibilidade comprometida. Que pese a favor, a Nokia foi generosa na interface usando ícones e tipografia grandes para compensar esse problema de resolução.

Brilho e cores (256 mil) são aceitáveis, não incomodam. Não espere fidelidade absoluta, mas perto de aparelhos bem superiores que abusam da saturação, é de se questionar até que ponto a naturalidade da paleta de cores é um ponto positivo ou negativo. Ah, e trata-se de uma tela capacitiva. A sensibilidade aos toques (multitouch de dois toques) não chega perto da de um smartphone high-end, mas perto das resistivas, usada em vários Ashas no passado, é um progresso e tanto.

Tela ruim do Asha 501.
Foto: Rodrigo Ghedin

Não sou do tipo que reclama de ângulos de visão estreitos em celulares, afinal é um tipo de gadget que, salvo raras exceções, se utiliza olhando de frente. A tela do Asha 501, porém, tem um estranho comportamento quando vista da direita: as cores praticamente se invertem, ao passo que em todas as demais direções ela segura a onda, mantendo-as inalteradas. Talvez seja um defeito da minha unidade de testes — na verdade, torço para que seja o caso.

Áudio bacana, câmera horrível, e nada de 3G

Se no vídeo o Asha 501 deixa muito a desejar, no áudio ele mostra um bom serviço. A saída de áudio é mono, fica atrelada ao botão que desengata (dada a dificuldade, parece o termo mais adequado) a tampa de trás do aparelho. O volume é alto, bem alto, e mesmo no máximo praticamente não se notam distorções. O alto-falante para ligações também é excelente.

A câmera simples do Asha 501 não impressiona.
Foto: Rodrigo Ghedin.

A satisfação volta a cair a níveis difíceis de engolir quando passamos à câmera. Com 3,15 mega pixels, não espere muita coisa dela. As fotos saem com um ruído forte, o equilíbrio de branco é pífio e o foco, fixo, inviabiliza a captura ideal de muitas situações. E é bom ficarmos longe do vídeo; a menos que seja um momento muito desgraçado que você queira registrar, a resolução (QVGA, os mesmos 320×240 da tela) e a velocidade (15 qps) são capazes de destruir qualquer registro feliz captado por essa lente.

Confira uma galeria:

A pedrada final é a ausência de 3G. Longe de um ponto de acesso Wi-Fi, o Asha 501 só se conecta à rede da operadora via EDGE, padrão que chega a, em média, 400 Kb/s. E leeeento, mas não chega a ser um gargalo para usuários dos planos pré-pagos nacionais — até dia desses a TIM limitava a velocidade desses clientes a 300 Kb/s –, e… bem, é difícil imaginar alguém capaz de bancar uma conta pós-paga comprando um Asha 501. De qualquer modo, apps de terceiros que usam dados, como Facebook e Twitter, ficam absurdamente lentos quando dependem da rede da operadora.

Software básico, mas competente

O Asha Software Platform 1.0 equipa o Asha 501.
Foto: Rodrigo Ghedin.

O Asha 501 serve de palco de estreia para o Nokia Asha Platform 1.0, primeira versão do sistema que, daqui em diante, será a base desses modelos básicos. Ele é uma evolução bem-vinda do datado S40 que equipava modelos antigos da linha, e apesar de bem diferente, por baixo do capô dá para verificar algumas convenções do passado que ainda resistem, como a ausência de multitarefa — compensada, é verdade, por notificações push para alguns apps principais.

É de se suspeitar que tenha havido algum trabalho de otimização por baixo dos panos. Entrando rapidamente no tecniquês, o Asha 501 tem só 64 MB de RAM e processador desconhecido — a Nokia não revela, mas é bem provável que seja algo bem mais lento, por exemplo, que o de 1 GHz que move o Asha 311. Ainda assim, a fluidez do sistema agrada bastante. As transições são suaves, os dois painéis principais se alternam sem engasgos e apps nativos, com uma ou outra exceção, abrem com velocidade satisfatória e funcionam a contento.

A reorganização da interface foi bem feliz. A Nokia exumou o cadáver do MeeGo e trouxe para o Asha 501 diversos gestos, bem explicados no primeiro uso do aparelho, para navegar pelo sistema, além de umas sacadas elegantes, como notificações na tela de bloqueio e o toque duplo na tela para desbloqueá-la (que nem sempre funciona).

Fastlane e Home, as telas principais do Asha.
Foto: Rodrigo Ghedin.

A interface principal divide-se em dois painéis, o Home, que consiste no grid de ícones/apps tradicionais a la Android e iOS, e o Fastlane, uma central de notificações bombada. Essa última contempla ligações, apps recém-abertos e instalados, mensagens recebidas, fotos tiradas, notas, aniversários e compromissos da agenda em uma linha do tempo em ordem cronológica inversa — os mais recentes, no topo. De muito bom gosto, e bastante funcional. Para alternar entre os painéis, basta deslizar o dedo sobre a tela lateralmente a partir de uma das bordas.

Curiosamente, ainda existe uma tela de notificações na cortina do topo. Ela traz menos notificações (coisas do Facebook, por exemplo), dá informações mais detalhadas dos SIM cards em uso e traz utilíssimos botões para Wi-Fi, Bluetooth, conexão de dados da operadora e modo silencioso. O gesto aqui é como nos outros sistemas (Android e iOS): arrastar o dedo de cima para baixo

O último gesto que sobra, de baixo para cima, funciona em alguns apps e serve para revelar opções estendidas ou o menu principal.

Notificações e botões rápidos na cortina.
Foto: Rodrigo Ghedin.

É fácil acostumar-se com essa dinâmica. São poucos comandos para memorizar e a interface como um todo emana simplicidade. No começo dá para se perder, mas a curva de aprendizado é bem curta. Com algumas horas de uso dá para dominar o manejo do Asha 501.

A oferta de apps é singela. O básico vem coberto de fábrica, com apps para calendário, agenda de contatos, alarmes, música, vídeo, email, navegador (Nokia Xpress), calculadora e gravador, e até uns mais elaborados, como Contadores (para monitorar o tráfego de dados na rede da operadora), uma central de contas em redes sociais, app de notas e um gerenciador de arquivos simples.

Simplicidade é o que norteia e, acho eu, garante o bom funcionamento de todos esses apps. Eles não fazem nada que faça o usuário suspirar e bater palmas emocionado com o progresso tecnológico da humanidade, mas essa auto-limitação tem como aspecto positivo uma experiência confiável. Uma grata surpresa dessa leva de apps nativos é o bom gosto: alguns, como os apps de música, alarmes e calendário, são muito bonitos.

O belo app de música do Asha 501.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Quando apps de terceiros entram na jogada, aí a coisa fica feia. O Asha 501 traz alguns pré-instalados, como Facebook, Twitter, The Weather Channel e joguinhos. Eles são lentos e não têm lá muita preocupação com visual — o do Facebook é o caso mais grave; parece a primeira versão do app lançada para iPhone, lá em 2008. A loja de apps é carente de qualquer coisa relevante hoje, com exceção de Foursquare, WeChat, HERE Maps (sem GPS, apenas com Wi-Fi e triangulação de torres) e, em breve, WhatsApp — uma ausência sentida, especialmente pelo histórico do app em featurephones da Nokia.

Por falar em apps de bate-papo, outra coisa que agrada em cheio é o teclado virtual. Mesmo no aperto das 3 polegadas, ele é confortável de se usar, traz correção automática e a vírgula está disponível de cara, sem precisar segurar uma tecla ou alternar o teclado para outro modo — deveria ser assim no Android, Google.

O grande trunfo: bateria

Mesmo com apenas 1200 mAh, a bateria do Asha 501 dura.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Nokia ainda é, na cabeça de muita gente, sinônimo de durabilidade e autonomia. Não fiz testes de resistência com o Asha 501, do tipo derrubá-lo no chão ou passar com um carro sobre ele (acontece…), mas no quesito bateria ele faz jus à fama da fabricante finlandesa: dura, e dura muito.

A Nokia promete 26 dias em stand by, e até 17 horas de conversação. Com Wi-Fi e rede de dados ligados e se alternando, tirando algumas fotos, usando redes sociais, poucas ligações, email, essa coisa toda que se faz em celulares atualmente, a bateria do Asha 501 chegou ao segundo dia de uso com mais da metade da carga. Não existe smartphone no mercado capaz de fazer frente. E veja que impressionante: tudo isso com uma bateria de apenas 1200 mAh — a média dos smartphones, hoje, gira em torno de 1800~2000 mAh.

Bateria é um dos pontos que levariam alguém a comprar um Asha 501. Para quem precisa passar longos períodos longe da tomada, é uma característica matadora.

Barato sim, mas com dignidade

O pequeno e belo Asha 501.
Foto: Rodrigo Ghedin.

O Asha 501 é simpático. Ele é pequeno, leve e bonito. E barato também: com preço sugerido de R$ 329, já é fácil encontrá-lo bem abaixo disso — na data de publicação deste review algumas lojas ofereciam o aparelho por até R$ 219.

Os pontos fortes desse aparelho são bem claros: autonomia assombrosa, visual moderno e um sistema que se comporta bem, ainda que seja severamente limitado. É um passo além dos celulares de lanterninha, mas uma experiência bem mais simples que a oferecida por um smartphone de verdade.

Eu gostei do Asha 501, mas não me vejo usando um a não ser por necessidade. Para quem é menos exigente, que só quer um celular competente, que passe muito tempo longe da tomada e vez ou outra gosta de dar uma conferida no email, Facebook e Twitter, ele é uma boa pedida — começando pela faixa em que se insere; é difícil encontrar nela concorrentes de marcas conhecidas equiparáveis em recursos e qualidade.

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Project Ara e Phonebloks: o futuro dos smartphones é modular?

O gadget que mais se vende e mais se usa, hoje, é o smartphone. Ele está quase sempre por perto, é rápido e fácil de manusear e nos últimos anos tomou para si o papel de protagonista da tecnologia de consumo. Redes sociais e apps em geral usa o smartphone como palco e nós, consumidores, o abraçamos sem muita cerimônia.

A evolução do smartphone é notável. Processadores ficam mais rápidos, telas ganham maior resolução, os aparelhos afinam e emagrecem a cada geração. O único contra, aparentemente, é ter que trocar de aparelho vez ou outra. Pela dinâmica do mercado de telefonia móvel norte-americano, em média a cada dois anos; idealmente para as fabricantes, todo ano ou até antes.

Como combater esse ritmo assustador de atualização que alguns acusam de obsolescência programada, outros de obsolescência percebida, e que muitos são incapazes de ou não querer seguir? Ainda é difícil responder a essa pergunta, e talvez seja o caso de investir no barateamento dos aparelhos para viabilizar essa passada frenética — se não pode com eles, junte-se a eles. Mas os smartphones modulares querem ser, pelo menos, uma alternativa.

Phonebloks, Project Ara e Modu

Project Ara: smartphone modular.
Foto: Motorola Mobility/Reprodução.

A Motorola Mobility, desde 2011 uma empresa Google, revelou o Project Ara, iniciativa que visa possibilitar a existência de smartphones modulares, ou seja, que usam blocos, ou módulos, para ditar suas especificações. Assim, um smartphone do tipo poderia ter o processador atualizado substituindo um bloco, ou ganhar um teclado com a inclusão de um desses, ou ainda ter sua autonomia estendida com um módulo de bateria mais robusto. É como se fosse um Lego de smartphones. As possibilidades são, nas palavras da Motorola, infinitas.

No anúncio feito no blog institucional da empresa, a ideia é melhor explicada por Paul Eremenko:

“O Project Ara está desenvolvendo uma plataforma de hardware gratuita e aberta para criar smartphones altamente modulares. Queremos fazer para o hardware o que a plataforma Android fez para o software: criar um ecossistema vibrante para desenvolvedores terceiros, diminuir as barreiras para aderir, aumentar o ritmo da inovação e diminuir substancialmente os prazos de desenvolvimento.

Nosso objetivo é estabelecer uma relação mais aberta, expressiva e contemplativa entre usuários, desenvolvedores e seus celulares. Dar a você o poder de decidir o que seu smartphone faz, o visual que ele tem, onde e do que ele foi feito, quanto custa e o tempo que você o manterá.”

Para tanto, a Motorola se aproximou de Dave Hakkens, idealizador do projeto Phonebloks. Apresentado recentemente, ele parte da mesma premissa: um smartphone composto por blocos que se encaixam e podem ser trocados/atualizados.

O Phonebloks chamou muito a atenção quando apareceu, mesmo sendo apenas uma ideia. Hakkens pede, no site da iniciativa, que os interessados assinem uma espécie de projeto de crowdfunding que, em vez de dinheiro, espalha a palavra. Conseguiu até o momento quase um milhão de interessados, atenção da mídia e, o mais importante, da Motorola — desde o início a ideia era fazer barulho para conseguir se aproximar de alguma fabricante grande.

Essa opção pode ter mais significado do que parece. Sendo uma empresa Google, testar maluquices, de email com 1 GB de espaço quando o concorrente mais generoso oferecia apenas 25 MB, a projetos megalomaníacos como carros autônomos, Internet em balões e balsas misteriosas que surgem no meio de um rio, é uma prática da casa. Experimentar possibilidades, especialmente as menos plausíveis, é algo que demanda dinheiro, coisa que o Google tem de sobra. Mesmo que a ideia de smartphones modulares não cole… por que não?

Há outra peça nesse quebra-cabeça que vale mencionar. Em 2007 a Modu, uma empresa israelense, já comercializada celulares modulares em seu país. Inundada em dívidas, ela fechou as portas em 2011 e nessa o Google arrematou o portfólio de patentes por US$ 4,9 milhões. No post da Motorola, Eremenko diz que o a empresa vinha trabalhando com essa ideia há mais de um ano antes de torná-la pública. Tudo acaba convergindo para o Project Ara.

Qual a viabilidade do Project Ara?

O Modu provou, lá atrás, que celulares modulares são possíveis. Era outro contexto, uma era pré-histórica à dos smartphones modernos. Hoje, isso funcionaria?

Quando o Phonebloks foi anunciado, a empolgação com a ideia dividiu espaço com o ceticismo. Não é difícil, mesmo para leigos, enxergar as dificuldades de uma empreitada do gênero. Smartphones são peças minúsculas, com uma engenharia de alto nível e baixo índice de reparabilidade. Modular esse cenário é um desafio e tanto.

John Brownlee desconstruiu as promessas do Phoneblok ponto a ponto, inclusive a de um futuro mais verde para os smartphones. No Reddit, uma legião de interessados também escrutinou a iniciativa. Há desafios de várias ordens, alguns envolvendo a compreensão e a colaboração de muita gente (empresas) com objetivos diversos. O Google, por mais poderoso que seja, conseguiria materializar uma meta tão ambiciosa dozinho? Não sei, embora seja exatamente o que eles estejam fazendo com o Glass. No caso do Project Ara, a situação é mais delicada porque a ideia é que fabricantes terceiros ofereçam módulos especializados. Como convencê-los a fazer isso?

Este é o possível visual dos smartphones do Project Ara.
Foto: Motorola Mobility/Reprodução.

Calma que a coisa complica. O (teoricamente) maior problema de smartphones modulares é que eles nadam na direção contrária à da evolução desse tipo de aparelho. Ao longo dos últimos anos os smartphones encolheram, ficaram mais finos, mais leves, com projetos de engenharia bem particulares e mais difíceis de serem reparados. Não é apenas para trocarmos de aparelho todo ano que essas medidas foram adotadas pela indústria, mas também para viabilizar smartphones fantásticos que pesem menos de 130 g e tenham a espessura de um lápis. Tudo está intimamente ligado e cada espaço dentro da carcaça é bem pensado e usado da melhor forma possível. Um dos preços pagos por um eventual smartphone modular seria abrir mão desses avanços, pelo menos inicialmente.

E tem outro fator: o desperdício. O Phoneblok usa a bandeira verde, do e-waste, ou lixo eletrônico, a seu favor. Mas imagine o tanto de módulos que serão descartados caso essa ideia pegue? Seja pela mera atualização, seja por módulos falhos que acabem descartados, o volume de lixo derivado dos módulos não dá sinais, pensando de uma forma lógica, de que esse problema será amenizado. E esse tira-e-põe constante não deve ser positivo do ponto de vista da durabilidade — quanto mais partes móveis, mais suscetível um gadget é a quebras.

Brownlee, da matéria da Fast.Co citada acima, condensa seu pessimismo acerca do Phoneblok em um parágrafo:

“De maneira simples, os Phonebloks são o oposto do que aparentam ser. Os Phonebloks fazem um apelo ao nosso amor por organização e simplicidade, mas na verdade são notoriamente mais complexos. Os Phonebloks nos dizem que smartphones podem custar menos, mas fazem cada componente dentro deles custar mais. Os Phonebloks dizem que podemos atualizar nossos smartphones sem desperdícios, mas fazem ser significativamente mais provável ter que jogar nossos smartphones fora porque eles quebraram. E assim por diante.”

Um monte de módulos para montar seu próprio smartphone!
Imagem: Phonebloks/Reprodução.

Não vou cravar aqui que o Project Ara ficará só na teoria. Pode ser que, mesmo contra todas as adversidades, e essas não são poucas, o projeto dê certo, ora. Mas uma mudança tão profunda demandaria mexer em bastante coisa já estabelecida nesse segmento, de contratos com operadoras à forma com as fabricantes lucram com hardware. E em um momento em que software está virando brinde, diminuir as margens de lucro do hardware parece arriscado — mas um passo que o Google, que lucra tão e somente com serviços e publicidade, pode se dar ao luxo de dar.

Falar em software, aliás, traz à tona outro problema: otimização e compatibilidade. O Android é “aberto”, qualquer um pode usá-lo, mas cada smartphone exige modificações no sistema para que ele o execute bem. É por isso que quando uma nova versão do Android sai, não dá para pegá-la e instalar imediatamente em qualquer smartphone. A fabricante (ou hobbistas) precisa adaptar o sistema para cada modelo específico. Imagine um que possa ter infinitas configurações. Quem dará suporte a essa multiplicidade de cenários?

Há espaço, ainda que pequeno

Mulher segurando smartphone Project Ara.
Foto: Motorola Mobility/Reprodução.

Mesmo que esses entraves permaneçam quando (e se) o Project Ara se materializar, ainda há espaço para um smartphone modular. Não o imagino nos bolsos de muita gente, muito menos vendendo o que um Galaxy S ou iPhone vendem hoje, mas para públicos bem específicos algo assim seria bem interessante.

Entusiastas que querem ter o SoC mais rápido, a melhor câmera e a bateria mais duradoura, por exemplo. Desenvolvedores que poderiam usar a modularidade para testarem seus apps em uma gama de configurações mais ampla a um custo menor. Nada capaz de estancar a sangria de dinheiro da Motorola, mas áreas válidas.

A Motorola promete um kit de desenvolvimento modular (MDK) para o fim do ano e garantiu descontos e smartphones modulares gratuitos para os colaboradores mais ativos do projeto — se você se interessou, pode fazer um pré-cadastro aqui. Os primeiros modelos, em alpha, são esperados para daqui a alguns meses. Meta ambiciosa, prazo ainda mais.

Nos EUA, o Moto X pode ser personalizado durante a compra. Antes de ser anunciado, muita gente sonhava com um sistema de configuração pleno, que permitisse escolher SoC, memória, câmera, características internas e vitais de um smartphone. Não foi o caso. O Moto Maker, sistema que permite a personalização do Moto X, fica restrito ao visual do aparelho, com várias cores e mimos que podem ser escolhidos; suas especificações técnicas são inalteráveis. O Project Ara parece o passo adiante, o que aquele pessoal mais progressista esperava já estar disponível com o Moto X.

Um smartphone modular seria uma ruptura com o padrão atual da indústria. Os smartphones tradicionais estão cada vez mais fechados; se antes dava para trocar a bateria e inserir um cartão SD para ter mais espaço, hoje esses itens são exceção no segmento high-end. Até mesmo outras categorias de gadgets tradicionalmente reparáveis, como notebooks, estão se fechando. Um Ultrabook que se preze tem a carcaça selada, impedindo a troca da bateria, do disco de armazenamento e da RAM.

O Project Ara foi anunciado nessa semana, ainda é cedo para dizer se estamos vendo o nascer do futuro ou apenas um devaneio do Google. No que você aposta?

O Facebook está pedindo seu RG? Como lidar com essa situação

Atualização (4/9/2014): Se você chegou aqui por causa do “desafio do RG” que está rolando no Facebook, um aviso: o post abaixo não trata disso. E um pedido: tudo bem mostrar a foto 3×4, mas não divulgue outros dados do seu documento, nem por brincadeira. Isso pode acabar em problemas.


Imagine estar usando o Facebook quando, de repente, o site trava a sua conta e, para liberá-la, exige um documento oficial. Complô com a NSA? Parceria com o IBGE para fazer o próximo Censo? Nada disso: é apenas a verificação de identidade em ação.

Não sei a dimensão dessa onda de verificações, mas pelo menos nos meus círculos de amizades, ela atingiu bastante gente. Horas depois, porém, o Facebook informou por meio de um porta-voz que um erro motivou a disparada de verificações desnecessárias para uma pequena parte da base de usuários. Nesses casos, bastava esperar que a conta era reativada sem que fosse preciso fazer nada.

Ainda assim, o pedido de documento oficial é real e pode acontecer uma hora ou outra. Quando esse obstáculo surge, ele se apresenta da seguinte forma:

Facebook, para que você quer meu RG?

O Facebook pede um documento de identificação que “deve incluir seu nome, data de nascimento e foto”, sugerindo em seguida alguns aceitos, como RG, passaporte e CNH.

Por que isso? Devo me render ao sistema ou resistir e ir para o Google+? Calma, a situação é menos alarmante do que parece à primeira vista.

Por que o Facebook quer saber meu RG?

A primeira reação é de indignação, e é compreensível. A exigência de um documento oficial é exagerada, especialmente para quem não faz negócios no Facebook e está ali só pelo aspecto de rede social do serviço, pelo entretenimento. É seguro mandar essa cópia de documento para lá? Não sei, mas não é bem isso que é pedido.

Como se sabe, o Facebook exige o uso de nomes reais. A política nesse sentido é bem rígida por motivos claros — a veracidade das informações, ali dentro, é um ponto de venda da rede para anunciantes e um fator importante para os seus objetivos. Há indicações de sobra ressaltando esse cuidado, os termos de uso dizem explicitamente que é preciso ser honesto pelo menos nessas três informações:

“Os usuários do Facebook fornecem seus nomes e informações reais, e precisamos da sua ajuda para que isso continue assim.”

Na página inicial/de cadastro, uma caixa suspensa explica por que a exigência se estende à data de nascimento:

Fornecer sua data de nascimento ajuda a assegurar que você receba a experiência certa para sua faixa etária. Você pode optar por ocultar essa informação de sua linha do tempo mais tarde se desejar.

Embora essa abordagem focada em nomes, data de nascimento e documentos oficiais não seja muito antiga (o mais longe que cheguei foi a este post de 2010), desde o principio existia a preocupação de lidar com gente real, de carne, osso e número de identificação. Antes, porém, o mecanismo usado para esse controle era o email universitário.

Como dizer ao Facebook que você é você mesmo

Existe uma página de ajuda no Facebook para elucidar exclusivamente essa dúvida. Ali, o site diz que a forma mais simples de ter sua conta verificada é atrelando-a a um número de celular. Isso explica, talvez, por que não recebi esse pedido de documentação.

A minha conta está atrelada ao meu número e, pela autenticação em duas etapas que isso permite, recomendo que você faça o mesmo — basta ir nas configurações de mobilidade e ativar o recurso. A verificação é um efeito colateral que o poupará dessa dor de cabeça envolvendo RG e outros documentos. E não se preocupe, ocultar o número de todos os estranhos e até mesmo seus contatos é fácil.

Mas ok, você não fez a tempo e agora estão te pedindo um documento. O que fazer? Envie-o, mas tome precauções antes. Mesmo com a promessa de que as fotos são destruídas após a verificação ser concluída, nunca se sabe. E é um mandamento básico não compartilhar seus dados pessoais com qualquer um, certo? Muito menos o Facebook.

A própria rede social pede para que toda informação que não as três exigidas (nome completo, data de nascimento e foto) seja ocultada. Use o Photoshop, o Paint, qualquer editor simples para ocultar informações mais sensíveis. Há até um modelo na já referida página de ajuda:

É assim que você deve mandar seu RG para o Facebook.
Imagem: Facebook/Reprodução.

Esta página traz algumas diretrizes sobre formato, tamanho e outros detalhes da foto.

Isso demora?

Pode demorar. Há relatos de gente que teve que esperar até nove dias para ter a conta restabelecida. Ouvi, ainda, pessoas falando em três dias, mas também outras dizendo que tiveram que esperar algumas horas apenas. Imagino que hoje a espera não tome tanto tempo, mas mesmo que seja o caso, aguarde.

Não faça outro perfil/conta, isso não adiantará muito. Ela também exigirá verificação e, além de se deparar novamente com esse problema cedo ou tarde, haverá ainda a agravante da duplicidade — o item 4.2 dos termos de uso diz que “você não deve criar mais de uma conta pessoal”.

É chato esperar? Imagino que sim. Mas é o preço que se paga, além dos anúncios na cara o dia todo, para usar o Facebook.

[Review] Aspirador de pó portátil em formato de joaninha

Sites de compras como DealExtreme e FocalPrice abriram as portas do varejo chinês para o ocidente. Em vez de apelar para lojas de R$ 1,99 ou Ciudad del Este, através dessas lojas virtuais é possível comprar direto da fonte por preços (ainda mais) irrisórios e frete grátis para qualquer parte do mundo.

Quando descobri esses sites, passei a fazer compras regulares lá, quase sempre encomendando produtos engraçadinhos dos quais nem precisava. Ainda bem que essa fase passa, né? Hoje só recorro a eles quando preciso mesmo de algo. Alavancas para os joysticks (maldito FIFA!), cabos que perdi, peças de reposição em geral. Na última compra, porém, tive uma recaída e encomendei um aspirador de pó portátil em formato de joaninha.

Brinquei na entrevista com o Mobilon que esse aspirador de pó tinha sido a melhor compra que fiz em 2013. Não chega a tanto, mas é uma mão na roda, acredite.

Apartamento pequeno + pão = sujeira

Vivo em um apartamento pequeno e adoro pão. Depois de comer, inevitavelmente sobram farelos na toalha de mesa e, nessa, livrar-se deles nem sempre era um trabalho limpo e livre de falhas.

Bater a toalha em uma lixeira de pia exige destreza e uma mira muito boa. No meu caso, farelos caíam na pia e no chão e… vamos lá, eu admito: pode ser bobagem, mas achava isso uma chateação enorme. O aspirador de pó em questão era, portanto, a solução para os meus problemas.

Aspirador de pó joaninha faz pose para a foto.
Foto: Rodrigo Ghedin.

*Toca a vinheta das Organizações Tabajara!*

Visão geral do aspirador de pó portátil em formato joaninha

Este aspirador de pó parece um mouse avantajado. O formato, somado às dimensões (10,6 cm x 8,6 cm x 6,9 cm) e peso (163 g), reforçam a semelhança. Minhas mãos não são muito grandes, mas consigo manuseá-lo com conforto. Ele se encaixa bem e desliza sem trepidações pela toalha.

A construção é das mais simples e, considerando um produto que custa menos de US$ 7 no varejo, frágil. A parte central consiste em um motor movido a duas pilhas AA. Ele fica protegido pela tampa superior, feita de um plástico fino. Na lateral esquerda está o botão de liga/desliga.

Construção simples e frágil do aspirador de pó.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Embaixo fica o compartimento de armazenagem do pó/farelo. No meio, o ventilador que suga eles. Há pequenas hastes distribuídas na base que ajudam a direcionar os farelos para o ventilador central. Ele lida com farelos pequenos e até alguns pedaços maiores, e além de aspirar, o ventilador também atua como um pequeno triturador. Coma um pão francês, que costuma soltar cascas e farelos maiores, aspire e depois abra o compartimento e eles terão sido reduzidos a um pó.

A tampa inferior é mais firme que a de cima, mas não é difícil de abrir — existe uma espécie de presilha na parte de trás que, apertada, permite removê-la sem maiores esforços. A base é bastante curta, então tome cuidado se ficar muito tempo sem limpá-lo. Pode acontecer dos farelos se espalharem caso estejam transbordando.

A base do aspirador de pó portátil.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Nas laterais da peça principal existe uma fina camada de papel, provavelmente para impedir que os farelos saiam pelos vãos. Não é totalmente eficiente, já que é comum ver um pouco deles saindo pelas laterais, e dificultam um bocado a limpeza. É meio nojento deixar essas coisas à mostra, ainda mais que o aspirador de pó, com esse design de joaninha, é vendido também como objeto de decoração. De gosto (bem!) duvidoso, mas isso vai de cada um. A dica, portanto, é não deixar acumular muito farelo ali.

Joaninha em ação

O aspirador de pó portátil funciona bem. Na descrição da loja, é dito que ele se destina a ser usado em mesas para aspirar poeira, cinzas de cigarro, cabelo, borra etc. Coloque nesse “etc” farelo de pão: apesar de não ser citado explicitamente, venho usando-o exclusivamente para essa finalidade há mais de um mês com sucesso.

A operação é muito simples. Existe apenas um botão de liga/desliga, e basta passá-lo sobre os farelos, mais de uma vez, para que ele faça seu trabalho. É um gadget barulhento, como você pode conferir no vídeo abaixo, mas pelo menos aqui, com uma mesa pequena, esse problema é amenizado porque o trabalho sempre é muito rápido.

Custo-benefício: nota 10

Como a maioria das bugigangas que se compra na DealExtreme, não espero que esse aspirador dure muito. A engenharia dele é rudimentar, ao abrir a tampa superior dá para ver como o motor e as pilhas foram colocados de maneira meio desleixada, o plástico é frágil e aquelas cortinas de papel… bem, são de papel.

Mas por US$ 6,20 com frete grátis, por que não? Comparando com meu método antigo de bater a toalha na lixeira, o aspirador de pó portátil em formato de joaninha é mais rápido, mais eficiente e não faz bagunça. Por essa pechincha, é algo que me vejo comprando novamente quando esse quebrar.

Aspirador de pó portátil: ótimo custo-benefício.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Todos os links do aspirador neste post têm código de referência. Isso significa que se você comprá-lo ou qualquer outra coisa na DealExtreme a partir desses links, eu ganho uma pequena comissão. O preço não muda com ou sem código, mas com ele eu faço uns trocado — e você continua sem ver propaganda por aqui :-)

Leituras da semana #2

Smartphone, tablet e ereader: todos prontos para a leitura.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Na seção Leituras da semana, a ideia é trazer até cinco posts de outros sites publicados no decorrer da semana que merecem ser lidos. São artigos primariamente sobre tecnologia, mas que, seguindo a linha editorial do Manual, podem também flertar com comunicação, psicologia e outras áreas desde que tenham uma abordagem relacionada a gadgets ou bits.

Na sequência, você tem os links e breves descrições de cada artigo. No final do post há um link para o Readlists.com. Por lá é possível baixar um ebook contendo os artigos listados na íntegra ou exportá-lo para seu Kindle, outro ereader ou tablet e ler na piscina, no sofá, onde quiser durante o fim de semana. Espero que gostem.

Sobre o Android ser aberto

Qualquer um pode pegar o Android e usá-lo em um smartphone, tablet ou como sistema embarcado. Mas até que ponto o Android que conhecemos, recheado de serviços do Google, é aberto? Ron Amadeo explica os artifícios que o Google usa para controlar o sistema e impedir que forks, como o Android da Amazon, tenham relevância. É um jogo de xadrez maliciosamente bem pensado.

Ars Technica: A mão de ferro do Google sobre o Android: controlando o código aberto da maneira que for necessária

Sobre comentários em blogs

Na New Yorker, Maria Konnikova recorre a pesquisas científicas para entender o complexo e imprevisível comportamento das pessoas em espaços abertos a comentários na Internet. É um área cheia de resultados controversos. Bônus: Sakamoto propõe uma pesquisa com seus leitores para tentar desvendar o que se passa pela cabeça da galera que comenta no seu blog. Dada a natureza dele, que defende pontos de vista bastante humanistas em casos onde a selvageria e a Lei de Talião parecem tomar conta da opinião pública, vai ser interessante acompanhar.

New Yorker: A psicologia dos comentários online

Sobre Kindle

Nadiajda Ferreira, a nova repórter do Gizmodo, dá 15 dicas para usar melhor o Kindle. Algumas manjadas, mas várias muito boas e que passam batidas por muitos donos do e-reader da Amazon. Bônus: saiu um texto meu la´semana passada, sobre como é usar o Kindle básico com a Amazon nacional.

Gizmodo Brasil: 15 truques para você usar (de verdade) seu Kindle

Sobre baterias de notebooks com Windows

Jeff Atwood tenta entender por que notebooks e tablets com Windows têm autonomia tão baixa. O último MacBook Air chega a 12 horas fácil com os novos chips Haswell, da Intel; o Surface Pro 2, por sua vez, se gaba de alcançar 6,6 horas. Por quê?

Coding Horror: Por que o Windows tem uma autonomia tão horrível?


Todos os artigos acima estão listados no Readlists.com, onde você pode enviá-los para o Kindle, por email, para dispositivos iOS ou baixar um ebook.

O iPad 2 vive: por que esse modelo continua à venda?

iPad 2: highlander.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Na hora de mostrar a família de iPads com os novos membros recém-apresentados, na terça, a Apple manteve à venda o iPad 2, um senhor que todos achávamos estava prestes a se aposentar. Com especificações defasadas e sem alteração no preço, a pergunta que todos se fazem é: por quê?

Não é estranho à Apple manter versões antigas de seus dispositivos à venda em paralelo com as novas. Na realidade, é praxe. Normalmente a empresa mantém três iPhones e dois iPads à venda. Um lançamento, seguido de modelos dos anos anteriores com preços mais em conta.

As coisas mudaram em 2013. O iPhone 5c tomou o posto que, na antiga tradição, seria do iPhone 5, situação viabilizada com o lançamento simultâneo de dois iPhones, algo inédito até então. (O iPhone 4S continua à venda, de graça com contrato nos EUA, e por um preço mais camarada, mas ainda salgado, em outros mercados.)

No caso do tablet, até a manhã desta terça havia três modelos à venda: iPad “4”, iPad mini e iPad 2. Esse último, apesar de duas gerações atrasado, era compreensível porque a terceira e quarta gerações são muito próximas, tanto que o intervalo entre os anúncios de ambas foi de alguns poucos meses. Dois iPads grandes, um com tela Retina, outro não. Tudo ok.

O mais natural, então, era que o iPad 2 se aposentasse terça e o iPad “4” ocupasse seu lugar como opção de baixo-custo. Não foi o que rolou. O penúltimo modelo saiu de linha e o idoso iPad 2 segue firme e forte, e sem alteração no preço — continua custando cada vez mais caros US$ 399.

Novamente: por quê?

A família iPad em 2013.
Foto: Apple/Reprodução.

O espanto, e até indignação que a manutenção do iPad 2 causou, se explica olhando para os lados.

Pelos mesmos US$ 399, o consumidor em potencial interessado em um tablet da Apple leva o novíssimo iPad mini com tela Retina, SoC A7 e outras novidades compartilhadas com o iPad Air — a escolha entre os dois é uma questão meramente de gosto e de se ter US$ 100 sobrando na carteira.

Se o custo for o norte para a compra do equipamento, o iPad mini de primeira geração é imbatível por US$ 299. Embora a tela tenha a mesma resolução e o SoC seja o mesmo do iPad 2, um Apple A5, ele é mais avançado com conector Lightning, câmera melhor, suporte a 4G e Siri.

Tentaremos entender o que leva a Apple a continuar oferecendo o iPad 2, mas a menos que você precise especificamente desse modelo, é difícil argumentar favoravelmente à sua compra. As alternativas são melhores.

Tentando justificar o iPad 2 em 2013

Um dos exercícios mais populares desde terça é tentar justificar a manutenção do iPad 2 no varejo. São diversas teorias, nenhuma comprovada, já que a Apple não fala e os números que divulga tampouco ajudam a entender a situação — quando divulga a quantidade de iPads e iPhones vendidos, ela não quebra esses números por modelo, dá apenas valores agregados.

iPad 2 sendo desembalado.
Foto: Cesar Dominguez/Flickr.

Dito isso, parto da premissa mais simples: o iPad 2 continua à venda porque… vende. Com linhas de produtos tão enxutas, a Apple não teria por que manter um produto tão datado se ele não estivesse ajudando a elevar faturamento e lucro. Um antigo como o iPad 2, especialmente por US$ 399, hoje deve ter margens saborosas. Para quem domina a linha de montagem e relação de fornecedores tão bem quanto a Apple, atender essa demanda deve ser algo que é feito de muito bom grado. E estimativas recentes, como as da Consumer Intelligence Research Partners, apontam que o iPad 2 ainda respondia, pelo menos até setembro, a quase 30% das vendas de iPads. Não é pouca coisa.

Outro aspecto muito citado e que faz bastante sentido é a compatibilidade. O iPad 2 é o único modelo ainda à venda com o conector de 30 pinos e o que à primeira vista é desvantagem (e é mesmo, pelo tamanho e problemas que pode dar), acaba sendo interessante para quem investiu muito em homologação, infraestrutura e acessórios baseados nessa interface.

Nos textos lá de fora são comuns relatos de escolas e empresas como potenciais compradores de iPad 2. Adaptar ambientes com centenas, milhares de usuários a um dado equipamento não é uma coisa simples, ou barata, logo US$ 399 em cada tablet para substituir um ou outro problemático ou quebrado sai, no geral, mais barato do que trocar toda a infraestrutura e a base para o novo conector Lightning. Mesmo nas compras em lote esses US$ 100 de diferença para o Air pesam no final.

Cedo ou tarde a migração para uma versão mais atual acontecerá, mas com os orçamentos limitados das escolas e a mentalidade econômica de empresas de pequeno e médio porte, adquirir tecnologia conhecida, ainda que obsoleta, acaba sendo a melhor saída.

O comparativo entre iPads que a própria Apple oferece também dá algumas pistas de padrões observados. Os dois novos iPads têm telas Retina, os dois antigos mantidos, não. Os dois novos, SoC A7, os dois antigos, A5 — também usado no iPhone 4S e Apple TV (versão single core), ambos ainda vendidos.

Embora frágil, existe uma simetria entre os modelos de ponta e os antigos, e o tamanho físico do iPad 2 pode ter apelo junto a alguns consumidores, gente para quem Giga hertz e telas Retina não diz muito. Como explicou Patrick Moorhead, analista da Moor Insights & Strategy, ao The Verge:

“É o tamanho que importa. Um monte de gente entra em uma loja com suas mentes já decididas por um tablet de 10 polegadas ou um de 7 ou 8, e eles partem disso. Para muitos deles, aquela uma polegada extra de espaço diagonal é de uma importância tremenda.”

Outra linha, essa menos comum, diz que o iPad 2 é um agente infiltrado cujo único propósito é impulsionar as vendas dos demais modelos, estratégia baseada no Efeito Decoy, ou triangulação. Nesse caso, o iPad 2 se apresenta não para ser vendido, mas para tornar mais atraentes os preços do novo iPad mini e iPad Air. Um exemplo prático e mais palpável: o Xbox One brasileiro por R$ 2.200 é caro, mas quando a Sony anunciou que o PlayStation 4 custará R$ 4.000 por aqui, ele imediatamente pareceu um negócio melhor do que era antes. Viu?

(Duvido que a Apple manteria uma linha de produção inteira apenas para mexer com o psicológico dos compradores forçando-os a comprar modelos melhores, mas com tanta teoria maluca passeando por aí, fica o registro de mais essa.)

O mais engraçado nessa pequena polêmica foi a reação agressiva de parte da imprensa internacional. “É uma trapaça”. “Se você tiver qualquer impulso em comprar um iPad 2 de 16 GB por US$ 399, você provavelmente deveria ir a um hospital e fazer um exame da cabeça“. “Eu o tacharei de idiota se você comprar um iPad 2 por US$ 399″. É bom saber que existe tanta gente preocupada com o bolso e a sanidade alheia :-)

Como é o iPad 2 em 2013?

iPad 2 atualizado e com reflexo do Sol.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Mas digamos que por qualquer motivo você resolva que quer o iPad 2. Sei lá, a tela não-Retina é vintage, bacana, você tem aversão a velocidade ou quer uma tela de 9,7 polegadas em um tablet novo, lacrado, mas aqueles US$ 100 extras do iPad Air estão em falta. Enfim, não importa o motivo: você tem um iPad 2 novo em mãos. Como ele se sai?

Eu posso responder essa pergunta, mas porque comprei um iPad 2 lá atrás, quando ele ainda era o melhor que a Apple podia oferecer. Ainda hoje, aliás, do ponto de vista estético, ele impõe certo respeito: com exceção do iPad Air, é o modelo grande mais leve (601 g) e fino (8,8 mm) de todos. A título comparativo, o iPad 3/4 pesa 652 g e tem 9,4 mm de espessura. (Todos os valores para as versões com apenas Wi-Fi.)

Quarta-feira fiz a primeira restauração do meu iPad 2 nesses dois anos. Ele estava com o iOS 6-ponto-alguma-coisa e, entre joguinhos que minha afilhada curte e apps que instalei só de curiosidade, faltava espaço para viabilizar a atualização para o iOS 7. A trabalheira que daria apagar apps e espremer espaço livre não compensava; de quebra, com uma restauração pude ver como é o desempenho de um iPad 2 (teoricamente) novo hoje.

Não é dos piores, viu? Mas, sim, está longe de ser tão ágil quanto um tablet moderno. Veja bem: são dois anos e meio, três gerações que o separa do iPad Air. Até apps pouco intensivos, como os clientes oficias do Twitter e Facebook, pedem alguns segundos após abertos para ficarem funcionais. A multitarefa, agora com miniaturas das janelas, só consegue manter as imagens das três ou quatro primeiras. Há uns glitches mínimos em algumas animações, mas o belo efeito de paralaxe funciona em toda sua glória. É bonitão esse efeito, né?

A lentidão não é um empecilho grande, não chega a irritar. A restauração fez bem à saúde do iPad 2 e esses pequenos engasgos iniciais estão mais curtos agora. Vídeos e navegação web funcionam bem, sem qualquer dificuldade. Sou um usuário bem conservador, de poucos e bem definidos hábitos, e que não joga, então não exijo muito do equipamento. Talvez eu seja exceção, mas para mim o iPad 2 ainda está ok.

A tela é o ponto fraco do iPad 2.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Fora o desempenho, outra característica que entrega a idade do iPad 2 é a tela. Não é retina, e por não sê-lo, a tipografia mais delicada do iOS 7 fica estranha nos 1024×768 pixels do painel. Em alguns apps, como no oficial do Twitter, o serrilhado da (pequena) fonte fica bem aparente, a ponto de dificultar a leitura mais de perto. Aquela máxima de que dá para se virar bem sem telas de alta densidade desde que você nunca veja uma continua válido. Mais do que o desempenho, é a baixa resolução da tela a minha maior queixa.

Não, não compensa pagar US$ 399 em um iPad 2 hoje. Ele ainda segura as pontas, mas já mostra sinais claros de cansaço e… poxa, acho que é bem seguro dizer que de 2014 a aposentadoria não passa. Além disso, por valores menores (nos EUA) se consegue modelos usados de iPad 4, melhor em praticamente tudo.

Há situações bem peculiares em que a compra de um se justifica e se você quiser, também, quem sou eu para julgar? Muita gente ainda usa o primeiro iPad, seriamente limitado pelos seus 256 MB de RAM, e está contente. Talvez até mais do que os chatos linkados acima que reclamam com tanta raiva do que os outros compram.

Os novos iPad Air e iPad mini estão na mesma categoria, só que com telas de tamanhos diferentes

Quando as carcaças de iPhone vazadas por Sonny Dickson apareceram no palco do penúltimo evento da Apple, mês passado, elas meio que validaram as dos futuros novos iPads, também divulgadas antes da hora pelo jovem australiano, como verdadeiras. Não havia convite para evento, não havia anúncio oficial, nada vindo da Apple, mas quem duvidaria de uma fonte que acabara de se provar confiável?

Dickson, esse fenômeno da esteira de rumores, é o ápice de uma indústria paralela à da tecnologia de consumo que, ao mesmo tempo em que sacia a ânsia por informações antes da hora e em primeira mão e conjecturas baseadas no “ouvi dizer”, acaba com o fator surpresa que todos sempre cobram e, cada vez menos, recebem de eventos como o de ontem. O que não chega a ser exatamente ruim. Apesar das previsões apocalípticas dos comentaristas de blogs (não os do Manual! :-)  e da reação negativa dos investidores ao final de cada anúncio, dificilmente algum dispositivo recém-lançado da Apple empaca nas prateleiras.

Ontem foram apresentados a nova linha de tablets, composta pelo iPad Air e o novo iPad mini, MacBooks Pro com tela Retina atualizados, data e preço do Mac Pro e a versão final do Mavericks, nova versão do OS X. Abaixo, o que me chamou a atenção.

iPad Air ou iPad mini?

Foto de divulgação do iPad mini com tela Retina.
Foto: Apple/Reprodução.

O iPad mini que deveria ter sido lançado em 2012 foi apresentado ontem. Ele muda pouco, mas o que importa é que ele muda onde mais precisava: na tela. Sai a de baixa resolução do modelo de estreia (1024×768), entra uma Retina com resolução de 2048×1536.

A lacuna fechada pela Apple no seu tablet pequeno veio acompanhada de melhorias internas inesperadas. Poucos achavam que o SoC A7, que também equipa iPhone 5s e iPad Air, estaria nesse tablet — a versão anterior era equipada com o A5, de dois anos atrás. O módulo Wi-Fi com suporte a MIMO, o microfone extra para melhorar a qualidade do áudio e o co-processador M7 fecham o pacote de melhorias do novo iPad mini.

Algo ruim? Duas coisas que aumentaram: preço e peso. O iPad mini ficou 23 g mais pesado (29 g na versão com suporte a 3G/4G), chegando a 331 g e 341 g, respectivamente, e seu preço inicial, para o modelo de 16 GB com apenas Wi-Fi, subiu US$ 70 — começa, agora, em US$ 399. O iPad mini original segue à venda e teve um corte, passando a custar US$ 299.

Esse valor do novo mini se aproxima bastante dos US$ 499 que, desde a primeira geração, a Apple cobra pelo modelo inicial do iPad grande, com tela de 9,7 polegadas. Ontem ele chegou à quinta iteração e ganhou novo nome para combinar com sua leveza: chame-o iPad Air.

iPad Air: apenas 450 g.
Foto: Apple/Reprodução.

A dieta pela qual ele passou impressiona. De 652 g, o peso do tablet caiu para 469 g (no modelo com apenas Wi-Fi). O iPad Air também encolheu, tem apenas 7,5 cm de espessura, contra 9,4 mm do modelo anterior. As bordas verticais ficaram mais estreitas, o desenho agora segue o padrão do iPad mini. É a mudança mais radical no iPad desde a segunda versão — que continua à venda, por sinal, ao custo de US$ 399, e deve ser um modelo ainda bastante procurado; só isso justifica a sua manutenção — e um assombro da engenharia de Cupertino. Mesmo menor e mais leve, ele é mais rápido que a geração anterior e mantém a mesma duração estimada de bateria.

Não que seja um detalhe muito relevante, mas esse “Air” no nome soa meio estranho. É um artifício de marketing válido, reforça as boas características físicas (é o tablet de ~10 polegadas mais leve do mundo e o segundo mais fino; nesse quesito fica atrás do Tablet Z, da Sony) e dá um frescor que deverá fazer bem às vendas. Mas ele não inaugura uma nova categoria, como fez o MacBook Air em 2008; embora muito melhor, ele continua sendo o mesmo produto de três anos atrás. O “Air” também rompe com uma convenção recente, a de abdicar de indicadores que denunciam a “idade” do iPad, prática que durou apenas duas gerações (os dois iPads lançados em 2012). Enfim, detalhes.

De resto, o iPad Air vem com as mesmas melhorias vistas e listadas acima do mini. A tela tem a mesma resolução, inclusive, o que lhe confere uma densidade de pixels menor — 264 DPI contra 326 do modelo com tela de 7,9 polegadas. Porém, pesa a seu favor a área real de tela para uso, e por mais que a portabilidade do iPad mini seja tentadora, a 1,8 polegada extra do Air tem seu apelo.

Com uma diferença tão curta, de apenas US$ 100, e configurações tão próximas, inclusive o peso, escolher entre iPad Air e iPad mini é uma questão mais de gosto do que de fatores técnicos, mais coração do que razão. Ainda restam dúvidas sobre a quantidade de RAM de cada um (não faria muito sentido diferenciá-los nisso), ou se a frequência do processador será mais alta no Air (provável), mas fora isso, quem está em busca de um novo tablet se vê num dilema dos bons.

Acredito que o padrão de uso deva ser o fator decisivo no caso. A maioria que comprou e gosta do iPad mini original destaca a portabilidade dele: menor e mais leve, dá para carregá-lo para todo canto numa boa. O abismo que o separa do Air em peso diminuiu, mas o tamanho permanece inalterado, de modo que o parâmetro que, pessoalmente, tomo aqui é o seguinte: se você usa tablet em casa, deitadão no sofá, o Air é mais negócio. Se ele te acompanha nas aventuras urbanas longe do aconchego do lar, aí o mini parece mais adequado.

Ambos parecem, no papel e pelos hands-on publicados ontem, tablets espetaculares. Não quero desmerecer o trabalho de engenharia dispendido na dupla, mas deve ser mais fácil surpreender dessa maneira quando se parte de um produto tão bom quanto o iPad sempre foi. De qualquer maneira, kudos para a Apple.

Mavericks, iLife e iWork gratuitos

Craig Federighi anunciando o preço do Mavericks.
Foto: Christina Bonnington/WIRED.

A versão final do Mavericks, ou OS X 10.9 se você prefere números, foi lançada ontem mesmo. E, o mais importante, de graça.

O preço das atualizações do OS X vinha caindo sistematicamente, de US$ 129 para US$ 29 e, agora, para zero. A oferta alcança versões anteriores à penúltima (Mountain Lion), é compatível com basicamente todo Mac lançado a partir de 2007. É diferente do que rola no Windows 8.1, da Microsoft, gratuito apenas para quem estiver rodando o Windows 8.

John Paczkowski nos lembra que essa estratégia de software gratuito é, na realidade, um retorno às origens. Até o System 7, a Apple não cobrava pelo software. Na Wired, publicação acostumada a sentenciar a morte de coisas, Ryan Tate disse que a era dos sistemas operacionais pagos chegou ao fim. E é bem provável que seja isso mesmo.

Qual a mágica? John Siracusa, que já publicou seu detalhado review do Mavericks, explica à Wired:

“O preço de US$ 0 está ligado à tendência de integração vertical. Uma empresa que faz tanto o hardware quanto o software de um dispositivo pode escolher onde colocar suas margens de lucro. Dado o poder mágico que [a palavra] ‘grátis’ tem nas mentes dos consumidores, é melhor colocar todo o lucro em uma só cesta. Hardware gratuito é difícil de conceber, então a missão fica com o software: compre nosso hardware, obtenha nosso software de graça.”

Mavericks distribuído gratuitamente.
Foto: Apple/Reprodução.

E não bastasse o Mavericks gratuito para todo mundo, as suítes iLife e iWork também passaram a não custar nada, mas só para quem comprar novos dispositivos (vale para iOS e OS X) desde 1º de setembro deste ano. Serenity Caldwel explica os detalhes das ofertas na Macworld.

O alvo, ou grande prejudicado com esse desprendimento pelo software, aliás, parece ser a Microsoft. Na Época, Guilherme Felitti explica como essa inversão de valores entre hardware e software pode machucar a empresa de Steve Ballmer. E é de se pensar, mesmo, o que a Microsoft fará agora sendo a única das três grandes a cobrar pelos seus sistemas — Android e Chrome OS, do Google, também não custam nada a fabricantes e usuários.

Alguns analistas já sinalizavam que tornar Windows e Windows Phone gratuitos pudesse ser uma saída. A Apple pode ter dado um empurrãozinho, ou aumentado a pressão, para que esse cenário se concretize.

Tudo novo e melhor, e poucos estão satisfeitos

Desta vez acompanhei o evento com certo distanciamento, um pouco longe do calor do momento — e definitivamente longe dos comentários de blogs e portais. Até recorri às contas em redes sociais do Manual para tentar, com uma amostragem obviamente viciada e muito restrita, entender se aquela insatisfação generalizada comum a todo evento da Apple pós-apresentação do iPad original se repetiu. Pelo menos entre os que interagiram por lá, parece que a recepção foi menos hostil. Parece, não posso dizer com certeza.

O iPad Air é um feito de engenharia, o iPad mini foi além do que se esperava, os MacBooks Pro à venda, agora, são apenas modelos com tela Retina e ficaram mais poderosos, com chips Haswell, e mais finos, o poderoso Mac Pro cilíndrico chega em dezembro. Mavericks, iWork e iLife de graça. São novidades bem legais.

Dizem que em time que está ganhando não se mexe, mas quase sempre há, sim, espaço para aperfeiçoamentos. Bom para quem vê a beleza disso tudo — sem deslumbramentos, mas tampouco com desdém.

5 observações sobre os anúncios da Nokia World 2013

Stephen Elop, CEO da Nokia, abrindo a Nokia World 2013.
Foto: Nokia/Reprodução.

Hoje cedo, às 5h da manhã no horário de verão, a Nokia abriu seu evento anual, a Nokia World, onde anunciou um tablet, cinco novos celulares e alguns apps há muito esperados.

A essa altura você já deve estar ciente disso tudo. O que se segue, pois, é um apanhado de observações e comentários sobre o evento.

5. A vitória da esteira de rumores

Rumor é uma “nãotícia” que evito ao máximo abordar no Manual do Usuário. Nessa uma semana de vida do blog só citei um, brevemente, para contextualizar o Windows Phone 8 Update 3. E sabe da maior? Bateu certinho.

Há tempos já era sabido que a Nokia anunciaria um phablet de seis polegadas hoje, novos celulares da linha Asha e um tablet. Ontem à noite, o perfil @evleaks no Twitter, especializado em vazar fotos e informações de gadgets, entregou o Lumia 1320, o phablet de baixo custo da fabricante finlandesa e última surpresa de hoje.

Recentemente tem sido assim: surgem rumores, a maioria deles se confirma. Mais uma vez a esteira dos rumores saiu vitoriosa.

4. Novos Ashas

Novo Asha 503, o primeiro com 3G.
Asha 503. Foto: Nokia/Reprodução.

Na corrida pelo próximo bilhão de usuários de celular, a Nokia tem na linha Asha um grande trunfo. O Asha 501 (review em breve) ganhará novos companheiros, os modelos 500, 502 e 503, todos em versões com um ou dois SIM cards.

Todos seguem a identidade visual da marca, parecendo versões encolhidas dos Lumias. A nova safra conta com um acabamento em plástico transparente, o que deixa os aparelhos ainda mais grossos — e o Asha 501, acredite, já é bem grosso.

Destaques para preço, que chega a incríveis US$ 69 no Asha 500, e o oferecimento de conectividade 3G no 503 — os demais só operam em EDGE.

3. O que o Lumia 2520 tem de diferente?

O Lumia 2520 é o primeiro (e possivelmente único) tablet da Nokia. Rodando Windows RT 8.1, com tela de 10,1 polegadas, SoC Snapdragon 800 e acabamento em policarbonato colorido, quem mexeu neles diz que o equipamento parece um Lumia 720 esticado e amassado. Aliás, é bem fino, com 8,9 mm de espessura.

Essas especificações se assemelham um bocado às do Surface 2, lançado hoje pela Microsoft nos EUA. O que fazer para se diferenciar? Além do visual, a Nokia buscou outras saídas.

Lumia 2520, o primeiro tablet da Nokia.
Foto: Nokia/Reprodução.

O Lumia 2520 tem uma câmera de 6,7 mega pixels com lente Carls Zeiss. Existe todo um debate em torno da prática de fazer fotos com tablets, mas deixo-o de lado no momento. Para quem gosta, porém, parece ser um prato cheio.

Outra característica bacana é a autonomia. A Nokia promete 11h de uso contínuo e, com o uso da capa-teclado vendida separadamente, o Nokia Power Keyboard (US$ 149, na imagem acima), outras 5h adicionais — além disso, o usuário ainda ganha mais duas portas USB e uma capa que, dobrada, fica parecendo um livro.

A Nokia também colocou uns apps exclusivos ali, como o HERE Maps, um editor de vídeos e o Storyteller, que também chegará aos smartphones da casa.

Por fim, há suporte a 4G LTE. O Surface 2 também terá, mas só no ano que vem.

(Repare que o comercial do Lumia 2520 bate muito na tecla do “em qualquer lugar”, que seria motivado pela conexão 4G e a tela que, diz a Nokia, funciona bem em ambientes abertos. No mais, só eu achei estranho o cara que leva um tablet para pescar de barco?)

O Lumia 2520 será lançado ainda no quarto trimestre, nas cores vermelho, preto, branco e azul, inicialmente nos EUA e Reino Unido. O preço inicial será de US$ 499.

2. Os novos phablets e a quem eles se destinam

Os novos smartphones Lumias, modelos 1520 e 1320, são phablets, ambos com tela de seis polegadas. O primeiro tem especificações agressivas, como SoC Snapdragon 800 e resolução Full HD, e será vendido por US$ 750. O segundo é um phablet de baixo custo, tem tela de alta definição (720p) e é movido por um Snapdragon S4 (dual core). Preço sugerido? US$ 340.

Para se ter uma ideia do tamanho do Lumia 1520.
O Lumia 1020 fica minúsculo perto do 1520. Foto: Henrique Martin/ZTOP.

A Nokia segue a tendência lançada pela Samsung e seguida por outras, como HTC, ao se aventurar no mundo dos phablets, smartphones tão grandes que quase se confundem com tablets. Mas… quem quer esse tipo de aparelho enorme?

Resposta: o oriente.

De acordo com o IDC, a distribuição de phablets no oriente (excluído o Japão) no segundo trimestre de 2013 foi maior que a de notebooks e tablets. Em países como China e Índia, o instituto atribui esse sucesso ao tamanho intermediário do equipamento, que faz as vezes de smartphone e tablet ao custo de um só.

Outro levantamento, da Flurry, apontou que no mundo os phablets respondem por apenas 7% do mercado. Mas quando a análise fecha na Coreia do Sul, essa porcentagem salta para 41%. A Nokia não deve entrar no mercado sul coreano, que é bastante patriota (85% dos dispositivos em uso lá são de fabricantes locais, como Samsung e LG, também segundo a Flurry), mas esses dados dão uma boa medida dessa peculiaridade que se estende a outros mercados da região, especialmente a China e sua gigantesca base de usuários em potencial.

É por tudo isso que, não à toa, alguns países asiáticos como China, Hong Kong e Cingapura estão no rol de locais onde o Lumia 1520 chega primeiro, ainda este ano. E o Lumia 1320, veja só, sai primeiro e exclusivamente na China e no Vietnã, no começo de 2014.

O ouro está do outro lado do mundo.

(O hands-on acima, do blog oficial da Nokia, mostra o tamanho enorme do Lumia 1520, seu design que lembra muito o do Lumia 925 só que sem o acabamento em metal, a bizarra capa que parece a Smart Cover do iPad e os apps da câmera e Storyteller.)

1. Apps, apps por todos os lados

O Instagram finalmente chegará ao Windows Phone.
Screenshot: Microsoft/Reprodução.

O inferno congelou — de novo. Durante a abertura da Nokia World, a empresa anunciou que o Instagram fará sua estreia no Windows Phone. Até que enfim!

A falta de apps é crítica para a Microsoft, tanto no Windows Phone quanto no Windows 8/RT. Medidas desesperadas, como empacotar sites como se fossem apps, estão sendo tomadas, mas o que vimos na Nokia World foi um sopro de esperança.

O Instagram é desde sempre apontado como uma espécie de exemplo-mor da carência de apps do Windows Phone. Tê-lo oficialmente na plataforma era um desejo antigo da Microsoft e da Nokia, e depois de campanhas, abaixo-assinados e até uma leva de apps genéricos (e uns bem decentes, como o 6tag), o Instagram chegou. Ou melhor, chegará, nas próximas semanas.

Além do Instagram, outros apps de peso foram anunciados na Nokia World. Destaques para Plex, Vine (já prometido desde a Build), Xbox Video (esse existia, sumiu, agora voltará), Asphalt 8 e Temple Run 2. A lista completa está no site da Microsoft.

Todos esses, apesar de serem em parte resultados dos esforços da Nokia, serão compatíveis com qualquer Windows Phone. Os exclusivos para Lumias, porém, continuam existindo. E esses novos reforços apresentados são bem bacanas.

O Storyteller é um tipo de visualizador de fotos que organiza as imagens de acordo com vários contextos. O Nokia Camera convergirá dois apps hoje distintos, Pro Camera e Smart Camera, em um só. O Nokia Refocus trará aos Lumias com câmera PureView aquela bruxaria de alterar o foco após tirar a foto, mais ou menos como a câmera Lytro — veja um exemplo. As mesmas câmeras também ganharão suporte a fotos RAW.

Apps de desenho feitos para phablets também estão na lista, como InNote e Papyruz. A falta de apps que exploram o uso de stylus e a tela grande dos novos Lumias foi apontada por alguns sites como uma falha — o Galaxy Note, da Samsung, se destaca em muito pela suíte de apps adaptados para uso de stylus e de sua tela enorme.

Fora da linha Lumia/Windows Phone, o destaque ficou por conta do WhatsApp para os Ashas. Já não era sem tempo.

BBM para Android e iPhone: um intruso que chegou tarde demais

Antes da briga ferrenha que se desenrola hoje nos bolsos de praticamente todo mundo que tem um smartphone pela supremacia na troca de mensagens rápidas, havia um app que conseguiu fazer um nome, criar uma reputação: o BBM.

Restrito aos domínios do BlackBerry, ainda assim ele conseguiu se destacar pela confiabilidade com que recebia e entregava mensagens, e trazer recursos que só mais tarde os outros apps do gênero como WhatsApp, Facebook Messenger e WeChat, apresentariam e popularizariam nas plataformas concorrentes.

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A odisseia da autopublicação: como lançar um ebook no Brasil

Nota do editor: O Marcellus, amigo de longa data, está se lançando como escritor e após passar pela odisseia da autopublicação resolveu compartilhar suas experiências por aqui. O livro que serviu de “laboratório” para este artigo, Viagem a Pindorama, está sendo publicado em partes, gratuitamente, no seu blog.


Faz um tempo que ando afastado das redações digitais, desse corre-corre de notícias e rumores, levando uma vida mais calma e analógica. Mas eis que de repente o Ghedin me convida a escrever um artigo para o seu novo Manual do Usuário. Como velhos hábitos nunca morrem, aqui vamos nós!

Durante o meu “recesso”, acabei concluindo a trilogia árvore-filho-livro. Depois de mais de um ano de trabalho intenso, com a obra (literária) finalizada, veio o calvário de procurar e decidir onde publicá-la. Foi a partir desta experiência que nasceu este artigo.

O Processo Tradicional

Até pouco tempo, havia duas formas de se publicar um livro: convencendo uma editora de que a obra teria público (e, portanto, geraria lucro) ou investindo dinheiro do próprio bolso para uma “tiragem do autor”.

Dessas possibilidades é fácil perceber o poder dos editores: eles eram os donos das chaves douradas que abriam os portões do mercado editorial. Mas a dificuldade de ser visto e, principalmente, lido por algum deles era uma outra verdade conhecida desde os tempos de Gutemberg. (Ou vocês acham que o primeiro livro a ser impresso foi a Bíblia à toa? O autor tinha forte apelo popular…) Jack London, por exemplo, foi rejeitado 600 vezes. SEISCENTAS!

Impacientes e frustrados, a saída para os autores iniciantes era fazer uma tiragem do autor, também conhecida por “publicação independente” ou “autopublicação”. Como toda forma de burlar o sistema, essa também não era bem vista pelos intelectuais, o que continua até hoje. Convenientemente, esquecem que Proust, Thoreau, Shaw e até Anaïs Nin (fortemente recomendada) começaram com publicações independentes.

O grande problema da publicação independente era (e ainda é) o alto custo: nem todo mundo tem uma herança ou pode sacar o FGTS para investir no seu sonho. Mas como a tecnologia existe para resolver os problemas cotidianos, hoje temos…

Admirável Mundo Novo

…plataformas de publicação digital!

Com o avanço da informática, qualquer um pode escrever e publicar sua obra sem precisar empenhar um rim. E, de fato, há inúmeros exemplos de sucesso.

Amanda Hocking e leitoras, numa sessão de autógrafos em Londres.
Amanda Hocking (centro). Foto: Vivienne/Serendipity Reviews.

Vejamos a estadunidense Amanda Hocking. Antes mesmo de ter um domínio com seu nome, a moça já havia faturado US$ 2 milhões. Disso até fechar contrato com uma editora, foi um pulo.

Outro exemplo bem bacana é o do escritor Joseph Konrath, que era defensor ferrenho da publicação tradicional mas agora prega aos quatro ventos o evangelho da independência. E já foram mais de quinhentos mil livros digitais vendidos!

Aqui na terrinha, Bruna Brito foi descoberta pela Random House ao disponibilizar gratuitamente suas histórias, em inglês, no site Wattpad.

A internet abriu um mundo de possibilidades para os autores independentes e centenas de exemplos pipocam por aí semanalmente. Mas como, exatamente, um aspirante ao Nobel de Literatura poderia começar? Como estamos focados em livros digitais, ou ebooks, então o primeiro nome que vem à mente é a Amazon.

Amazon

Que tal ter seu livro vendido na Amazon?
Foto: Rodrigo Ghedin.

A plataforma de publicação independente da empresa, chamada Kindle Direct Publishing, requer apenas um cadastro e o upload do arquivo de texto e da capa (que você pode criar na hora, usando uma ferramenta fornecida pela loja).

Na Amazon você poderá escolher receber 35% ou 70% referentes aos direitos autorais. Parece bem óbvio escolher a última opção, certo? Só que há duas pegadinhas: seu livro não poderá estar disponível em nenhuma outra livraria digital pelos 90 dias seguintes, sendo que o contrato precisa ser renovado ao final desse período. Além disso, o valor mínimo do livro é de R$ 2,99 (na opção de 35%, o mínimo é de R$ 0,99).

Terminada essa parte burocrática, em 48 horas sua obra estará disponível para compra em Kindles do mundo inteiro. E por “Kindles” entenda não apenas os fantásticos leitores físicos, mas também o software que está instalado em milhões de celulares, tablets e computadores.

Se você é das antigas ou quer dar ao seu leitor a opção de ler em papel, a Amazon tem a CreateSpace, que disponibiliza sua obra via impressão por demanda, ou seja, o livro só será impresso quando o leitor fizer a compra. A obra é impressa nos EUA e terá que ser enviado ao Brasil, mas curiosamente o custo para o leitor não é assustadoramente maior que as opções de impressão por demanda nacionais — incluindo o frete!

Como se não bastasse, a empresa ainda lançou o programa Kindle Matchbook, em que seu livro digital sai mais barato se o leitor comprar a versão impressa. Quase no estilo “dois pelo preço de um”.

A Amazon é um universo à parte quando se fala em publicação e você pode ter uma ideia melhor dando uma olhada na página de ajuda deles. Há opção para quase tudo: desde como atualizar seu livro de forma transparente (e gratuita) para os leitores, até como publicar seu blog diretamente em dispositivos Kindle (infelizmente, apenas em inglês).

Pela minha empolgação, vocês já devem imaginar que esta seja minha opção favorita, certo?

Mas há outras, muitas outras. Por exemplo a iBookstore da Apple.

iBookstore (Apple)

A primeira vez em que experimentei um “livro” no iPad, foi uma experiência transformadora. Enquanto a Amazon encara o livro digital como… um livro, só que digital, a Apple quer transformá-lo num produto interativo. E se o designer (porque não basta ser autor) for bom, pode acabar criando obras-primas como esta abaixo:

A Apple fornece até uma ferramenta gratuita para que o autor possa se aventurar na produção desses ebooks anabolizados, o iBooks Author. Apenas um adendo: por “gratuita” leia-se “embutida no preço de um Mac”.

Obviamente, também é possível ter livros convencionais à venda pela loja da Apple. Aliás, um ponto importante: as vendas são feitas através do aplicativo iTunes e não diretamente como acontece no Kindle. E é preciso pagar uma taxa inicial de US$ 99,00. Ah, e seu livro precisa ser lido, analisado e aprovado na triagem que é feita com todo o conteúdo digital que é posto à venda pela Apple.

Google Play

O Google, aproveitando a imensa penetração dos dispositivos Android, não poderia ficar de fora e há algum tempo também vende livros na Play Store, permitindo a publicação independente. Lá o problema é a complicação: para se ter uma ideia, não consegui sequer fazer um teste…

E no Brasil?

Mais perto de nós, a Livraria Cultura tem parceria com a Kobo, fabricante dos leitores digitais mais bacanas e estilosos que seu rico dinheirinho pode comprar. E a Kobo tem a Kobo Writing Life, onde você pode publicar seus livros sem custos, mais ou menos como na Amazon.

Um diferencial interessante para quem está começando e não quer se preocupar com a parte técnica da coisa, é a formatação automática em ePub: você envia seu documento Word ou OpenOffice e eles cuidam da formatação. Em até 72 horas seu livro estará disponível.

A parte não tão boa é que o pagamento é feito duas vezes ao ano, apenas. Mas, por outro lado, o autor fica com 70% das vendas, para livros que custem entre US$ 1,99 e US$12,99.

A Livraria Saraiva foi um pouco além e criou sua própria plataforma de publicação independente: a Publique-se! Nela o autor fica com até 35% das vendas, pagos 90 dias depois do mês apurado. Mas nada foi dito sobre como será a promoção da obra pelo site, nem sobre como sair do contrato, mas ela não exige exclusividade.

Se você deseja apenas compartilhar o que escreveu sem maiores preocupações quanto a vendas e lucros, talvez uma alternativa interessante seja o BookSérie, uma espécie de Wattpad nacional. No site você pode enviar sua história para apreciação de editores e, caso seja aprovada, ela será “serializada” e publicada semanalmente, recebendo as críticas e comentários dos leitores.

A ideia é promissora, mas há um senão: ao contrário do Wattpad, apenas o pessoal do BookSérie pode retirar uma obra do ar. Portanto, se você for descoberto por uma Random House da vida, seu texto vai continuar lá no site, sem choro nem vela — a menos que o pessoal seja camarada e concorde em apagá-lo.

Há ainda vários sites de publicação independente que mesclam a produção digital com a “analógica”, ou seja, você pode vender tanto o livro digital quanto o impresso. O que é muito legal para impressionar a família, diga-se de passagem, mas também atinge um mercado que, por um motivo ou por outro, ainda prefere o cheiro de papel e tinta.
Entre esses, há três de destaque no mercado nacional: o Clube de Autores, o PerSe e o Bookess.

Os três, basicamente, oferecem o serviço de impressão sob demanda, em que o livro é efetivamente impresso apenas quando o leitor faz a compra. Isso não significa que também não convertam (e vendam) o livro em formato digital.

Neles, o autor tem o preço básico do livro, que varia de acordo com o tipo de capa, papel, encadernação etc, e sobre esse valor coloca o quanto quer receber a título de direitos autorais. Lembrando que, nesse caso, seria importante imprimir ao menos um livro para verificar a qualidade da impressão, do papel, da capa…

Até agora tudo são flores, certo? Você já deve estar louco para tirar aquele manuscrito da gaveta e faturar horrores na Amazon ou na lojinha da Apple. Parece um sonho prestes a se concretizar!

RÁ! Pegadinha do Mallandro!

Caindo na real

Moça lê um Kindle enquanto espera o trem do metrô.
Foto: Annie Mole/Flickr.

Eu sou do tipo pessimista, que sempre vê o copo 100% cheio, mas com apenas 50% do que realmente importa. Sob essa óptica, o Brasil é um país onde se fatura mais com livros que a Índia, por exemplo. Se levarmos em consideração a desproporção populacional, dá até para se animar. Por outro lado, aqui se vende menos livros que na Espanha, uma gleba menor que estado de Minas Gerais, com pouco mais de 47 milhões de habitantes.

Geralmente, o clima de “oba-oba” quando se fala em publicação independente vem dos Estados Unidos. O volume do mercado lá é absurdamente maior que o nosso: R$ 81,6 bilhões contra R$ 6,7 bi aqui (dados de 2011).

Para piorar, o volume de vendas de livros digitais, apesar de ter aumentado mais de 100% no último ano, ainda representa pífios 0,29% (contra 22% do mercado estadunidense). A própria Bruna Brito revelou que escreveu em inglês “para ser lida”. Portanto, não se engane: fazer dinheiro com literatura, especialmente no Brasil, é como faturar milhões sendo jogador de futebol. Há um Ronaldinho para cada dez mil Zé da Pelada.

Numa rápida conversa por email com Wagner Ribeiro, roteirista de Onda Zero e autor da ficção científica Código 7 Infinidade, confirmei o que já era muito comentado nos círculos de editores e escritores: o retorno financeiro de livros de ficção é baixo. Wagner, que também faz toda a edição, diagramação e as capas das obras, quando perguntado sobre a publicação “normal”, via editoras, me respondeu o seguinte:

“Não tentei buscar editoras e publicar direto em papel por entender que seria um caminho extremamente difícil para um iniciante, ainda mais no gênero no qual eu gosto de escrever. Também invisto no ebook por acreditar no formato, e na autopublicação.”.

Outro com quem falei, o engenheiro Landulfo Almeida, autor de As Duas Faces do Destino (que tem versão impressa e digital) contou como foi a procura por uma editora:

“Primeiro tentei achar um agente literário. Naquele momento esses profissionais eram poucos e difíceis de fazer contato. A maioria não me respondeu e quem o fez não estava aberto ao meu tipo de livro ou mesmo a novos autores.

Passei então a pesquisar as editoras e tentar descobrir quais publicavam livros cuja temática era semelhante à de minha obra, quais recebiam originais e de que forma. Consegui mandar o original, devidamente registrado na Biblioteca Nacional, para cinco editoras. Quase todas me retornaram após alguns meses indicando que não tinham interesse.

No ínterim, através das pesquisas na internet, fechei contrato com uma pequena editora que aceitava publicar os livros em parceria, dividindo os custos. Foi meu grande erro. Perdi tempo e dinheiro e não consegui publicar. Felizmente, nesse processo entendi melhor como o mercado funciona. Conheci alguns autores nacionais através da rede mundial e recebi uma dica sobre a Editora Novo Século e o selo Novos Talentos da Literatura Brasileira. O contato foi fácil e o retorno rápido. Fechamos o contrato pelo selo Novos Talentos. Sugiro que os autores iniciantes conheçam o programa, é muito interessante (o autor participa com parte dos custos de publicação). Estou extremamente feliz em fazer parte do conjunto de autores da Novo Século.”

A autopublicação vale a pena?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares.

Pois bem, vamos a um exemplo pessoal, mais uma da série “aconteceu comigo”: uma editora se aproximou depois que enviei o original para apreciação. Apesar do tempo médio ser de meses, consegui uma aprovação em apenas dez dias! E quando a esmola é demais…

A proposta era a seguinte: a editora faria uma primeira edição com mil exemplares. Eles seriam vendidos, nas bancas, a R$ 36,00. Eu, o autor, teria que comprar 250 exemplares, ao custo de R$ 28,00 e receberia 10% do valor de venda dos outros 750 (ou seja, um lucro de R$ 3,60 por exemplar).

Fazendo as contas, eu teria que desembolsar R$ 7.000,00 e, caso toda a edição fosse vendida, teria um lucro de R$ 2.700,00 (mais R$ 2.000,00 caso vendesse meus 250 exemplares).

Vale ressaltar que a editora arcaria com os custos da capa, edição e diagramação. Mas, ainda assim, é um valor alto para quem está começando, por mais que acredite no potencial.

Partindo para a publicação independente, na Amazon, por exemplo, o investimento é mínimo, praticamente zero. No entanto, uma capa atraente é o melhor chamariz possível e um trabalho profissional gira em torno dos R$ 700,00. E ainda tem a diagramação e a edição.

Para tiragens sob demanda, no Clube de Autores, por exemplo, o valor final do livro (sempre considerando o mesmo exemplo, mas com papel um pouco melhor, 90g) fica em R$ 39,90 com um lucro de R$ 6,00 por exemplar. Claro, sem a editora você também fica sem os serviços profissionais, que terá que contratar por conta própria, e a distribuição.

A autopublicação, como tudo na vida, é uma faca de dois gumes. Mas é um caminho que eu, particularmente, estou propenso a escolher.

Dicas para quem quiser partir para a autopublicação

Para o aspirante a autor que chegou até aqui, uma dica: em algumas livrarias online, como a Amazon e o Clube de Autores, não é obrigatório que seu livro tenha um ISBN. Esse é o tipo de coisa, porém, que você deveria procurar — até porque se aparecer a chance de vender em livrarias físicas, elas vão exigir o ISBN.

O registro é simples: aponte seu navegador para o site da Agência Brasileira do ISBN e siga o passo-a-passo. O processo não é tão burocrático quanto você espera, as atendentes sabem o que estão falando e não te passam para outra pessoa inúmeras vezes, mas demora até 90 dias para o registro da obra e o tal número.

Outra coisa importante para se pensar é que publicar independentemente é mais ou menos como publicar um blog: muita gente ainda tem certo preconceito, afinal, blog não é jornal…

Se você gosta de escrever ficção científica, fantasia, romances-melosos-de-vampiros-que-brilham, sem problemas. Mas se a sua ideia é concorrer ao Prêmio Jabuti, esqueça: bater na porta de uma editora tradicional ainda é o melhor caminho.

Uma dúvida recorrente entre quem embarca nessa jornada solitária é quanto cobrar pela obra. Não há uma regra fixa e o que vale aqui não vale, por exemplo, para o mercado estadunidense. Mas a Saraiva tem uma dica preciosa:

Quanto cobrar por ebooks de acordo com a quantidade de páginas, segundo a Saraiva.

Eles têm vasta experiência no varejo, devem saber o que falam, não?

E para fechar com chave de ouro: exatamente como nos blogs, quem publica tem que ter a coragem de dar a cara a tapa. Se você acha que o nível de comentários nos maiores portais da internet brasileira é baixo, dê uma olhada nos comentários de livros na Play Store. Há gente que reclama de ter que colocar o cartão de crédito… e não é pouca. Inclusive, essa é uma das maiores dificuldades de se vender por aqui, mesmo estando no século XXI.

Ainda está motivado? Ótimo! Pergunte a cinco pessoas do seu meio profissional “o que é um Kindle?” Já vi muitos estudantes de Engenharia Elétrica e da Computação que não sabiam responder. Engenheiros e Analistas formados também. Isso é um fator limitante da penetração dos livros digitais, principalmente da Amazon, no Brasil. Está melhorando, mas o ambiente ainda é desolador.

Descontando os alunos da rede pública que entram nas pesquisas sobre “quem lê no Brasil”, temos aí um universo de mais ou menos vinte milhões de leitores que compram livros. E eles estão dispersos em assuntos que variam de ficção científica a esoterismo. Aliás, é consenso entre os editores que autor brasileiro só vende bem se for autoajuda ou gospel. Aventura e ficção, só importados. Pense nisso.

Nas palavras de Landulfo Almeida:

“Pesquise. Participe dos eventos literários, seja de forma presencial ou virtual. Acompanhe os blogs literários e as páginas das editoras. Consulte os autores já publicados, famosos e desconhecidos. Pergunte! Tem muita gente disposta a passar os conhecimentos e experiências adquiridas. Eu mesmo já respondi a várias pessoas que me contataram e muitas já me ajudaram. Se você ama escrever, não desista diante das dificuldades. É difícil publicar e ser lido, mas os prazeres superam em muito os obstáculos.”

Chegou até aqui? Puxa, então você deve mesmo estar interessado em publicar. Envie-nos o link da obra para que possamos dar uma olhadinha! E lembre-se: Moby Dick vendeu apenas 3715 cópias até a morte do autor, Herman Melville.

Imagem da capa: Press/Autor desconhecido.

Nas páginas abaixo você confere as entrevistas completas com Landulfo Almeida e Wagner Ribeiro, autores consultados durante a elaboração desta matéria.

Leituras da semana #1

Smartphone, tablet e ereader: todos prontos para a leitura.
Foto: Rodrigo Ghedin.

Na seção Leituras da semana, a ideia é trazer até cinco posts de outros sites publicados no decorrer da semana que merecem ser lidos. São artigos primariamente sobre tecnologia, mas que, seguindo a linha editorial do Manual, podem também flertar com comunicação, psicologia e outras áreas desde que tenham uma abordagem relacionada a gadgets ou bits.

Na sequência, você tem os links e breves descrições de cada artigo. No final do post há um link para o Readlists.com. Por lá é possível baixar um ebook contendo os artigos listados na íntegra ou exportá-lo para seu Kindle, outro ereader ou tablet e ler na piscina, no sofá, onde quiser durante o fim de semana. Espero que gostem.

Sobre o mundo moderno

Franzen é um escritor norte-americano talentosíssimo e, pelos seus ensaios e entrevistas, desiludido com a tecnologia de consumo. Neste aqui, ele faz um ataque feroz ao Twitter, à Apple e às empresas que exploram essa fome por tecnologia e a nossa incrível capacidade de se alienar a partir delas, usando como parâmetro ensaios do austríaco Karl Kraus, “O Grande Odiador”.

The Guardian: Jonathan Franzen: o que há de errado com o mundo moderno

Sobre a Xiaomi

Bom perfil da Xiaomi, fabricante chinesa de smartphones que fisgou Hugo Barra, executivo do alto escalão do Google, mês passado e que pelo tanto de smartphone (com boas configurações a um custo menor) que vende na pátria mãe, já é avaliada em US$ 10 bilhões. Uma das missões de Barra lá é expandir a empresa para fora da China. Em sua primeira declaração pública como funcionário de lá, ele mostrou-se bastante impressionado com o ritmo das operações.

Time: Xiaomi: China’s Threat to Apple and Samsung

Sobre fotos de crianças na Internet

O título é autoexplicativo, a questão que levanta, bem mais complexa. Por mais seguro que seja a distribuição de fotos e fatos de crianças que sequer sabem falar na rede, ainda assim pode haver impactos negativos no futuro para essa geração que está nascendo. O legado que fica, as buscas no Google que retornam resultados antigos, podem se tornar fontes de ansiedade, insegurança e bullying no futuro.

Gizmodo: Por que eu apaguei fotos e vídeos dos meus filhos da internet

Sobre Windows e Mac

Por pouco (R$ 800, mais precisamente) eu poderia ter escrito este texto ano passado :-) Acabei optando por um Ultrabook e permaneci no universo Windows. O Paulo, que está sempre comentando notícias de tecnologia no nosso podcast, fez a transição e conta, neste artigo, quais as dificuldades, surpresas e alegrias que vem tendo com o OS X depois de dez anos a bordo do Windows.

Tecnoblog: Troquei meu Windows por um Mac


Todos os artigos acima estão listados no Readlists.com, onde você pode enviá-los para o Kindle, por email, para dispositivos iOS ou baixar um ebook.

Gravidade: sozinho no espaço, somente a superação pode salvá-lo

Sandra Bullock em um traje espacial, no filme Gravidade.
Foto: Warner Bros/Reprodução.

Com um plano sequência inicial de quase 20 minutos digno de figurar entre os mais sensacionais da história do cinema, Gravidade diz logo de cara que não é um filme convencional. Dirigido por Alfonso Cuarón, com Sandra Bullock e George Clooney no (enxuto) elenco, ele usa o vácuo do espaço para filosofar sobre assuntos bem mundanos, sobre superação e renascimento.

O filme conta a luta pela sobrevivência da Dra. Ryan Stone e do comandante Matt Kowalsky, que ficam à deriva no espaço após o ônibus espacial onde estavam ser atingido por uma tempestade de detritos vinda de um satélite russo destruído ali perto.

Na solidão do espaço, sem contato com a Terra e com recursos finitos, Gravidade insere angústia e tensão em cenários que, em outro contexto, em outra situação, seriam talvez alguns dos lugares mais contemplativos que o ser humano conheceu. Em uma das falas iniciais, a Dra. Stone diz que o que mais gosta do espaço é o silêncio. “Eu poderia me acostumar a isso”.

Gravidade - Trailer Teaser Oficial (leg) [HD] | 11 de outubro nos cinemas

Mas quando tudo vai pelos ares, como mostra o trailer, e a inexperiente médica rodopia sem rumo, afastando-se da Terra, sem retorno na comunicação, com a respiração ofegante, Gravidade se revela. É um filme sobre o fascinante espaço, também, mas é muito mais uma história sobre o medo da morte, sobre enfrentamentos e, por fim, renascimento.

Tecnicamente, Gravidade é um feito e tanto. As cenas espaciais são de tirar o fôlego, a tensão nos momentos-chave em que a vida fica em risco, e eles não são poucos, prendem o espectador de um jeito único. Eventos naturais, como o nascer e o pôr do Sol, a aurora boreal, a imensidão do espaço, são retratações que, embora não possa classificar como perfeitas por motivos óbvios, conseguem entregar o que eu e acho todos nós imaginamos deva ser o espaço: um infinito absorto na quietude, uma beleza que fascina e amedronta.

Levou um bocado de tempo para que a tecnologia para filmar Gravidade madurasse o suficiente, e essa espera valeu a pena: ele leva o nível dos efeitos especiais no cinema a um novo patamar. Saber que as cenas “externas”, das caminhadas espaciais, são inteiramente digitais com exceção dos rostos dos atores, dá uma boa ideia do quão espetacular é esse trabalho. Os planos, que variam de uns bem abertos, pondo em perspectiva a insignificância de um ser humano lá em cima, até trechos em primeira pessoa, dentro do capacete da Dra. Stone, formam um balé suave na tela. A trilha sonora alterna o silêncio do espaço com músicas crescentes, tudo na hora certa, na medida exata. É um trabalho irretocável.

A imensidão do espaço em Gravidade.
Foto: Warner Bros/Reprodução.

Fosse apenas 90 minutos de lindas cenas do espaço polvilhadas com um pouco de ação aqui e ali, Gravidade já se justificaria. Mas há uma história por trás. Não uma profunda; ela é bem simples, na real. O roteiro, inclusive, se limita ao mínimo para se fazer entender (com uma exceção que peca pelo excesso de didática cinematográfica), e não faz uso de recursos como flashbacks para contextualizar o dilema central a quem assiste, uma saída que, nas circunstâncias em que a história se apresenta, seria fácil imaginar sendo posta em prática. Aqui, não. São 90 minutos ininterruptos no agora, coisa rara de se ver e uma delícia de se presenciar.

Cuarón diz que Gravidade é sobre “renascer ante as adversidades”, tanto que coloca no centro da história uma protagonista inexperiente, que não é daquele universo, que sai da sua zona de conforto e se vê obrigada a lidar com situações extremas em uma sucessão rápida. Essa metáfora, do renascimento, se faz presente em vários pontos ao longo do filme. É emblemática ao vermos a Dra. Stone, após quase morrer por falta de oxigênio em seu traje espacial, adentrar a Estação Espacial Internacional e, cheia de vida novamente, contorcer-se até ficar em posição fetal, com o Sol ao fundo, uma cena particularmente bela. Daria para discorrer mais aqui, não sem dar (mais) spoilers.

A 600 quilômetros da superfície da Terra, no espaço, a vida não pode existir. Mas pode renascer. Gravidade é um filme lindo. Assista.

Matt tenta acalmar a Dra. Stone.
Foto: Warner Bros/Reprodução.

Alguns links legais para se aprofundar no filmaço de Cuarón:

  • Bate-bola esperto entre Noel Murray e Tasha Robinson no The Dissolve. Ela, aliás, bate muito na tecla de que ver Gravidade em 3D é uma experiência melhor — Alexandre Inagaki também viu assim e reforça a recomendação. Eu vi em 2D e fiquei me perguntando se a dimensão extra é capaz de tornar o que já é espetacular ainda melhor.
  • Entrevista bacana com Sandra Bullock, no Omelete. Se você tem algum tipo de preconceito com ela, e não dá para negar que há motivos, esqueça-os em Gravidade: sua atuação é brilhante.
  • No io9, Alfonso Cuarón discute o final de Gravidade. É bem significativo. Só leia isso, claro, depois de ver o filme. Em outra entrevista no mesmo site, ele fala de várias coisas muito legais sobre o filme, incluindo a linguagem mais elaborada que não se esforça para dar tudo mastigado ao espectador e o difícil trabalho de conciliar ficção/entretenimento com fidelidade científica.
  • E falando em fidelidade científica, se você é do coro dos que reclamam que um filme (um filme, veja bem; não é um documentário) não é fiel à realidade, Neil DeGrasse Tyson e Marcos Pontes deram seus pitacos técnicos sobre Gravidade. Ambos, porém, disseram que curtiram muito o filme.

Com o Windows 8.1, a Microsoft tenta novamente levar seu sistema à Era Pós-PC

Como adaptar um sistema com mais de 20 anos para um novo segmento de hardware que tem menos de três? Essa era a missão da Microsoft com o Windows 8: levar seu icônico sistema operacional para o novo mundo de telas sensíveis a toques. O caminho escolhido foi conciliar passado e presente, juntar tudo e oferecer aos usuários um pacote “sem concessões”.

Um ano depois, a aposta não parece ter sido tão bem sucedida. Com o Windows 8.1, lançado oficialmente no mundo inteiro “hoje” (na realidade, amanhã, mas como o parâmetro é a meia noite na Nova Zelândia você já pode baixá-lo), a Microsoft tem à sua frente mais uma chance. Esse hiato foi suficiente para corrigir os problemas da versão anterior?

É difícil avaliar um sistema assim, “2-em-1”, porque é preciso considerar dois cenários bem distintos entre si ou, como espera a Microsoft, um utópico em que eles sejam unificados e trabalhem em harmonia. É sob essa última ótica que a análise abaixo se pauta.

Ignorando a porção moderna, o Windows 8.1 funciona como qualquer outra versão recente do sistema. Não traz nada exatamente novo ou revolucionário, mas funciona — e encare isso como um elogio. Os novos apps em tela cheia, a parte feita para tablets, porém, ainda precisa melhorar. Muito. Mas vamos devagar…

Com o Windows 8.1, você ganha muitas arestas aparadas, mais atenção a detalhes, apps nativos melhorados e mais respeito a quem, por necessidade ou comodidade, prefere ficar na parte “velha” do sistema, na área de trabalho clássica. E o melhor de tudo, sem colocar a mão no bolso.

Atualização gratuita

Quem já roda o Windows 8 pode fazer a atualização gratuitamente via download através da Loja. É só baixar (3,63 GB para a versão Pro) e mandar instalar, como se faz com qualquer sistema da Era Pós-PC.

A atualização aparece na Loja do Windows 8.

Usuários que estão em versões antigas terão que pagar, e pagar bem: o Windows 8.1 custa R$ 410, e a versão Pro, R$ 699. Tanto a versão via download, quanto a física, em “caixinha”/DVD, estarão disponíveis, e elas são completas — ano passado a Microsoft só comercializou, a princípio, versões de atualização do Windows 8.

O processo de atualização varia dependendo da versão pré-instalada:

  • A partir do Windows 7, rola a atualização e todos os arquivos permanecem intactos. O usuário perde apenas os aplicativos instalados.
  • A partir dos Windows Vista ou XP, não tem jeito: o processo de atualização é, na realidade, uma instalação limpa. Faça um bom backup dos seus arquivos antes de começar.

Onde o Windows 8 pecou

A maior parte das críticas ao Windows 8 tinha como alvo a confusa interface moderna. Em configurações dependentes de teclado e mouse, é preciso utilizar os cantos da tela para revelar comandos vitais ao seu funcionamento. Com uma tela sensível a toques, gestos a partir das bordas cumprem esse papel.

Sem indicadores claros, ainda hoje é comum se deparar com usuários de longa data de versões anteriores do sistema que, no comando da penúltima, não conseguem alternar entre aplicativos, ou voltar à Tela Inicial.

Em usabilidade, isso decorre da falta do que se chama “discoverability”, ou seja, a capacidade de uma interface se fazer entender, de ser intuitiva. É uma das premissas de dispositivos baseados em toques: embora criticado e abandonado recentemente pela Apple, o esqueumorfismo do iOS original tinha muitos nuances que reforçavam sua natureza touchscreen, elementos da interface que diziam, sem falar muito, “toque-me, eu faço alguma coisa”. Coisa da qual o Windows 8, em grande parte, carece.

Como o Windows 8.1 tenta corrigir os erros do passado

Que pese a verdade, o Windows 8.1 não resolve por completo esse problema, ele apenas se mostra mais preocupado com o usuário incauto. A nova versão pega na mão de quem o usa pela primeira vez e o conduz em um tour, aparentemente completo, pelas suas estranhas convenções. Itens familiares que retornam e muitos indicadores e tutoriais cumprem esse papel introdutório.

O botão Iniciar, por exemplo, antes oculto por padrão no canto inferior esquerdo e ativável com o passar do mouse, volta a ser fixo. Quem não retorna é o menu Iniciar; a função do botão continua sendo levar o usuário à Tela Inicial, cheia de blocos dinâmicos com informações atualizadas em tempo real.

Bem-vindo de volta, botão Iniciar.

Outra providência tomada pela Microsoft foi a produção de tutoriais em vídeo e flechas destacadas indicando os cantos quentes da interface nos primeiros momentos de uso. Alguém pode encarar isso como uma falha grotesca de design, seguindo a lógica de que indicadores tão explícitos para ações tidas como básicas sinalizam uma interface quebrada para início de conversa. Como seria bem difícil a Microsoft voltar atrás em certas decisões, a mim a mais acertada parece ser mesmo tentar consertar o estrago já feito.

Setas indicam ao usuário os cantos de ação.A impressão, no geral, é de que com o Windows 8 havia uma confiança exacerbada por parte da Microsoft. Confiança de que o sistema venderia feito água como as últimas versões (incluindo até o desastroso Vista que, até o lançamento do Windows 7, já tinha vendido 400 milhões de cópias) e de que as pessoas aprenderiam a usar uma interface bem diferente da qual estavam acostumadas, baseada em gestos e ações incomuns com o mouse. Em seu review, David Pogue revela que um executivo da Microsoft disse algo nessa linha na época do lançamento do Windows 8:

“Se o Windows 8 não for fácil o bastante para ser entendido sem a leitura de telas de ajuda, então nós falhamos.”

Dicas e informações de uso do Windows 8.1.

Pelas mudanças vistas no Windows 8.1, a versão anterior falhou e falhou feio. Nenhum sistema baseado em gestos caiu no gosto popular ainda, e não foi o Windows que conseguiu quebrar essa tradição.

Mais amor ao clássico e à personalização

Deixando de lado a atenção com esse atrasado porém válido adendo à experiência básica do sistema, o Windows 8.1 aposta em refinamentos. Como comentei no hands-on da versão Preview quando ela estava fresquinha, em junho, a porção moderna está mais rica em recursos e parece mais madura.

A primeira leva desses novos apps era vergonhosamente limitada. A nova ainda não parece fazer frente aos apps clássicos em utilidade e desenvoltura, mas é definitivamente mais robusta, a ponto de a Microsoft classificar o app de email nativo, um dos mais criticados (e com razão), como “a melhor experiência de email em um tablet”. O de fotos agora permite edições simples, e há novos e bem-vindos apps, dos básicos (calculadora, alarme, gravador de áudio) a uns bem peculiares (lista de leitura, um de receitas, outro controverso de saúde). O sistema como um todo está mais atraente e flexível, o que, para um negócio tão largamente usado e com tantos perfis diferentes no comando, é algo bem-vindo.

Temos os tutoriais, o botão Iniciar de volta, apps nativos mais robustos. Vale destacar, também, os novos itens de personalização. Em um ano de Windows 8, raras foram as vezes em que me aventurei pela porção moderna do sistema — e esse cenário, pelo menos com usuários com quem converso vez ou outra, gente mais próxima, está longe de ser exceção.

A área de trabalho clássica, no Windows 8, parece uma coisa desleixada, uma parte renegada que a Microsoft teve que engolir para não afetar tanto clientes corporativos. No mundo real, ela deve ter visto via telemetria e em pesquisas de opinião que, não, ainda não é a hora de abdicar dela. Sendo assim, é bom ver mais amor ao clássico no Windows 8.1.

Novas opções amigáveis para a área de trabalho clássica no Windows 8.1.

De pronto, duas mudanças tornam a integração clássico-moderno mais suave. O papel de parede da área de trabalho pode, agora, ser replicado no fundo da Tela Inicial. É um detalhe quase bobo, mas que une sutilmente duas partes do sistema tão distintas em todos os demais. Outro bacana é a possibilidade de entrar direto na área de trabalho após o logon. Isso pode relegar a Tela Inicial a um ostracismo ainda maior àqueles que só clicam no bloco da área de trabalho após ligar o equipamento, mas de qualquer forma é bom ver a vontade do usuário prevalecer.

A Tela Inicial também recebeu melhorias. Novas animações para o fundo, flexibilização do padrão de cores para a interface, dois novos tamanhos para os blocos. A exibição de apps em lista pode ser definida como padrão, um formato mais funcional para mouse e teclado. Nada muito drástico, mas pequenas mudanças que agregam.

Novos tamanhos para os blocos dinâmicos no Windows 8.1.

Apps modernos podem ser colocados lado a lado nas proporções que o usuário quiser, e mais de dois dividem a tela numa boa — dependendo da resolução que você usar. As amarras foram afrouxadas, e os supostos problemas que levaram a Microsoft a engessar tanto o Windows 8 não se verificam na prática. Tudo bem, tudo bem: às vezes o redimensionamento de um app fica estranho (Twitter, por exemplo), mas isso é Windows. Você pode fazer o que quiser, só que sem a garantia de que tudo vá funcionar como o desejado. Melhor que seja assim.

As peças mais importantes: SkyDrive e Bing

Sempre achei o SkyDrive um negócio muito legal e pouco aproveitado pela Microsoft. De um ano para cá, a empresa vem dando mais atenção ao serviço. E não é por menos: se ser uma empresa de serviços e produtos é o novo foco da Microsoft, ter uma solução “tudo-em-um” na nuvem é essencial.

No Windows 8.1, o SkyDrive vira o local padrão para salvar arquivos. O app moderno é o Windows Explorer moderno. Ele vem pré-instalado, melhor integrado na porção clássica do sistema (nada de dois apps para a mesma coisa) e usa um mecanismo pra lá de genial chamado Smart Files que borra as linhas que separam o armazenamento local do na nuvem.

Com os arquivos inteligentes, o SkyDrive torna indexável todo o conteúdo existente em sua conta, na nuvem, sem que eles estejam armazenados localmente. Arquivos na nuvem são sincronizados parcialmente, apenas com pré-visualizações (imagens) e meta dados, habilitando pesquisas e outras atividades gerenciais. Quer usar um? Abra-o e o sistema fará o download instantaneamente, liberando o acesso offline. Vai ficar longe da Internet e precisará de um arquivo específico? Clique com o botão direito e marque-o para estar disponível nessa situação.

Em desktops, com HDs que extrapolam a casa do tera byte, não é algo de muito impacto, mas em tablets com até 16 GB, isso pode vir a calhar. Conceitualmente é um mecanismo similar ao do Google Play Music, app/serviço do Google para Android que faz um cache dinâmico das suas músicas armazenadas na nuvem.

Pesquisas completas e contextualizadas com o Bing.

O Bing Smart Search é o equivalente ao Spotlight, da Apple, no universo Windows. Ele pesquisa conteúdo local, na nuvem, na web, contextualiza e faz umas tabelinhas espertas com apps como o Xbox Music, SkyDrive e o da Wikipedia. A exemplo de todo mecanismo de busca em sistemas modernos, ele deixou de ser um app dedicado para ser embutido no sistema. Quer usá-lo? Abra a Charm bar e comece a digitar. Como deveria ter sido desde o começo.

Está bom, mas pode ser melhor

Não tem sido raro ver produtos chegando ao consumidor precocemente, sem a lapidação que se espera de um lançamento comercial. A Microsoft teve três anos para construir o Windows 8 a partir do 7, mas ainda assim parece ter faltado tempo. Um ano a mais, esse ano gasto para a realização do Windows 8.1, poderia ter sido útil para uma recepção menos azeda. Recepção essa que pode sair cara para a Microsoft: dá para recuperar a confiança perdida? Ou a primeira impressão é a que fica?

Tela Inicial do Windows 8.1.
Foto: Rodrigo Ghedin.

As reclamações dos usuários devem ter tido um papel importante no processo de atualização para o Windows 8.1, logo é provável que nem com todo o tempo do mundo a Microsoft acertaria de primeira. Agora, com atualizações aceleradas, lançadas anualmente, ainda há muito trabalho a ser feito. Mesmo melhor com o lançamento de hoje, frente a iOS e Android o Windows ainda fica devendo.

Agradar a usuários de notebooks e computadores e, ao mesmo tempo, de tablets, é difícil. São cenários diferentes e, um ano depois, sejamos francos: essa história de sistema sem concessões é simplesmente ruim. Existem concessões, várias delas, e os passos que o Windows 8.1 dá para trás a fim de agradar usuários insatisfeitos confirmam essa teoria. É um diferencial de mercado, e um bem curioso, mas como discutia dia desses no Twitter, não é por ser um diferencial que uma decisão de design se torna necessariamente boa para quem importa, ou seja, para mim e para você.

Talvez estejamos em uma era primitiva, em uma equivalente ao que o Android era até 2011, ou à que o próprio Windows foi antes do XP. De repente, com SoCs poderosos em equipamentos leves e confiáveis, daqui a dois, três anos o que o Windows 8 se transformar será a melhor solução para o consumidor médio. Hoje, ele se apresenta como um sistema confuso, tentando conciliar dois universos muito distintos entre si, trazendo mais dor de cabeça do que vantagens para consumidores, de desktops/notebooks e de tablets/telas sensíveis a toques.

Se você tiver grana para um bom ultrabook e um tablet, os dois separados, vá com esse combo. É uma solução bem mais acertada e confortável de usar do que um híbrido desengonçado com Windows. E se nem o Surface, carro-chefe da plataforma feito por quem faz o software, impressiona, o que esperar dos demais?

O Windows 8.1 dá passos firmes na direção certa, resolve várias complicações da versão anterior, mas ainda sofre de decisões de projeto impossíveis de serem mudadas agora. O ritmo anual de atualizações e essas com a promessa da gratuidade formam uma base sólida para que as mudanças necessárias sejam implementadas, mas talvez o problema seja mais profundo, talvez seja irremediável. O futuro pode ser promissor, mas o presente, embora melhor, ainda não convence.

Sony A7 e A7R: os sensores full frame chegaram às câmeras mirrorless

O grande sensor full frame da Sony A7.
Foto: Sony/Reprodução.

A Sony, não por acaso, vem se destacando bastante na fotografia digital. Sua linha NEX de câmeras mirrorless entrega um ótimo custo-benefício, e a linha RX combina corpos de compacta de lentas fixas com sensores enormes — uma conta que até pouco tempo atrás não fechava. A última investida? As novas Sony A7 e A7R, as primeiras mirrorless com lentes intercambiáveis a virem com sensor full frame.

As duas foram anunciadas ontem e, apesar do nome, parecem mais evoluções da linha NEX. (Esse nome, aliás, se aposenta e a partir de agora todas as futuras mirrorless da casa serão abrigadas sob a marca Alpha.) Antes de entrarmos nos pormenores das novas câmeras, é importante saber o que, afinal, é um sensor full frame.

Sensores: quanto maior, melhor

Se você entende um pouco de fotografia, pule esse e próximo tópicos. Se não, acompanhe-me.

Fotografia é, na própria definição da palavra, “desenhar com luz”. O trabalho que uma câmera digital tem é captar a luz através da lente permitindo que ela alcance o sensor que, por sua vez, “traduz” o que vê em bits que são processados internamente, gerando a imagem que, por fim, é gravada na memória (interna ou, o que é mais comum, em um cartão SD ou similar).

O sensor é para a fotografia digital o equivalente ao filme para a analógica, tanto que o termo full frame é referência ao tamanho completo de uma “pose” de filme analógico (35 mm). Na prática, quanto maior o sensor, maior a qualidade das imagens, já que ele captura mais informação, pixels maiores, do que um com fator de corte. Outra vantagem desse sensor é lidar melhor com lentes grande angulares — a área real fotografada é maior do que em câmeras com sensores pequenos, ambas utilizando lentes com a mesma distância focal.

É o tamanho reduzido do sensor, por exemplo, que torna fotos de celulares e câmeras compactas tão ruins em situações de baixa luminosidade. Há uma limitação física ali, e não há pós-processamento no mundo que substitua os benefícios de um sensor grande.

Abaixo, um comparativo entre os tamanhos de sensores do iPhone 5, Lumia 1020, um APS-C (Sony NEX-5R) e um full frame (Nikon D800):

Tamanhos de diferentes sensores de imagens.
Sensores de imagens: iPhone 5, Lumia 1020, NEX-5R e D800. Gráfico: Sensor Size.

Na prática não é difícil perceber as diferenças nos resultados que sensores de tamanhos diversos entregam. Uma foto gerada por um sensor pequeno traz mais ruído e menor definição, especialmente se houver pouca luz na hora do clique. Essas diferenças ficam bem destacadas em tamanho natural, mas que até passam quando as fotos são redimensionadas ou exibidas em tamanhos menores, como é comum na web. Apesar disso, para quem imprime, precisa de qualidade absoluta ou apenas se interessa em resultados mais satisfatórios, não abre mão de um grande sensor.

Para entender melhor esse assunto, recomendo este texto do DPS e a entrada sobre SLRs full frame na Wikipedia.

O que é uma câmera mirrorless?

Uma câmera mirrorless é, como o termo entrega, uma que dispensa espelhos. Câmeras analógicas e todas as DSLR usam um jogo de espelhos para levar ao viewfinder o que está à frente da lente. Quando o fotógrafo aperta o disparador, o espelho se move para deixar a imagem atingir o sensor — é por isso que nessas câmeras o viewfinder fica “preto” quando a foto é batida; nesse momento, o espelho se mexe e o reflexo que leva a imagem ao olho do fotógrafo se perde.

As mirrorless abdicam dos espelhos em prol de tamanhos mais compactos e corpos mais resistentes (leia-se: com menos partes móveis). A perda do viewfinder ótico (OVF) é compensada por uma tela na parte de trás (mais comum/barato) ou um nos moldes do OVF, mas eletrônico (EVF) — caros e, segundo fotógrafos mais experientes, lentos. São desvantagens que, para um fotógrafo amador ou entusiasta, não fazem lá muita diferença na prática. A falta do viewfinder, ótico ou eletrônico, pode atrapalhar na hora de fazer fotos ao ar livre, já que as telas não têm visualização muito boa sob o Sol.

As Sony A7 e A7R trazem o sensor full frame para o segmento das mirrorless com lentes intercambiáveis. Há quem diga que esse é o prenúncio do fim das DSLRs, mas talvez seja cedo para afirmar algo tão drástico. De qualquer forma, parecem duas câmeras bem sensacionais e certamente farão barulho quando forem lançadas.

Sony A7 e A7R: as primeiras mirrorless com sensor full frame

Visão lateral da Sony A7R.
Sony A7R. Foto: Sony/Reprodução.

Por fora, a A7 e a A7R são bem parecidas. Ambas são relativamente pequenas, pretas e com um visual meio retrô. Quem já colocou as mãos nelas (The Verge, Engadget, por exemplo) no evento que a Sony organizou mais cedo em Londres, disse que as duas são bem sólidas, que a disposição dos botões e dials é acertada e a quantidade deles, generosa.

Pelas especificações e características, parece que a A7 é mais voltada para entusiastas, enquanto a A7R foca em profissionais. As diferenças entre as duas são as seguintes:

  • O sensor da A7 é um tipo CMOS com 24,3 mega pixels de resolução, enquanto o da A7R conta com 36,4 mega pixels.
  • A A7 conta com um sistema de foco automático híbrido: além do foco via detecção de contraste (25 pontos), conta também com um sistema de detecção de fases no chip (totalizando 117 pontos), o que permite tirar até cinco fotos por segundo com foco contínuo. A A7R tem apenas o primeiro tipo porque, de acordo com a Sony, ela não tem um filtro ótico low pass, uma espécie de anti-aliasing, um artifício usado para suavizar fotos em situações complicadas. A ausência dele garante maior definição à A7R.
  • A construção é ligeiramente diferente. Na A7, o uso de liga de magnésio se restringe à área frontal e superior. Na A7R, ele se estende aos dials superiores e ao grip (aquele “calombo” frontal de apoio para a mão direita do fotógrafo).

De resto, são câmeras idênticas. Ambas possuem o novo processador de imagens BIONZ X, inegavelmente mais poderoso que seus antecessores para dar conta das enormes fotos geradas pelas câmeras. Ele traz algumas novidades listadas pela Sony com termos vagos, como “Tecnologia de Reprodução de Detalhes”, que parece ser um sistema de definição mais sutil, “Redução de Difração”, que promete eliminar o excesso de suavização em fotos tiradas com aberturas grandes, e melhorias no sistema inteligente de redução de ruídos.

A tela na parte de trás tem 3″ e 1,23 milhões de pontos móvel (84º para cima, 45º para baixo), e o EVF, chamado Tru-Finder, resolução XGA com 2,4 milhões de pontos e tecnologia OLED. Alguns têm criticado o formato que lembra viewfinders óticos, desnecessário em uma mirrorless, mas além do visual mais familiar, aparentemente ele ajudar a inibir a entrada de luz externa.

As duas gravam vídeos em Full HD a 60 ou 24 quadros por segundo com a opção de saída HDMI sem compressão, e vêm cheias de conexões específicas para gravação, como entrada para microfone, saída para fones de ouvido e uma sapata dinâmica que aceita vários acessórios.

Parte de trás da Sony A7. Oferta de botões e dials.
Foto: Sony/Reprodução.

Por fim, Wi-Fi e NFC para transferência de fotos sem fio, disparador remoto e outros recursos a serem usados em conjunto com o app PlayMemories Mobile, disponível para iPhone e Android. O NFC, além de transferir fotos, permite duplicar a configuração do ponto de acesso Wi-Fi de um celular para a câmera simplesmente encostando os dois dispositivos.

Lentes

Lente 28-70 mm F3.5-5.6 OSS.
Lente 28-70 mm F3.5-5.6 OSS que acompanha a A7. Foto: Sony/Reprodução.

De cara, as novas A7 e A7R contam com cinco lentes da Sony e Carl Zeiss, todas elas, a exemplo das câmeras, seladas contra poeira e umidade. Apenas duas, porém, estarão disponíveis no lançamento: a 28-70 mm F3.5-5.6 OSS, que acompanha a A7 e não será vendida separadamente, e a 35 mm F2.8 Carl Zeiss, que até fevereiro de 2014, quando a terceira será lançada, deve ser a única opção para os donos da A7R.

“Única”, já que o encaixa é o padrão E-mount, o mesmo usado na linha NEX. O problema é que usar uma lente antiga nas novas A7 e A7R implicará em um fator de corte, afinal elas foram concebidas para câmeras com sensor APS-C, menor que um full frame. O DPReview tem um bom comparativo da área que se perde usando uma antiga lente E-mount nas novas câmeras full frame. Com o uso de adaptadores, lentes no padrão A-mount também poderão ser usadas.

O estigma de que lentes no padrão E-mount são caras continua. A mais barata dessa primeira leva, a 35 mm F2.8 Carl Zeiss, tem preço sugerido de US$ 800!

Até 2015 a Sony planeja ter 15 lentes E-mount para câmeras full frame em seu portfólio.

Preços e disponibilidade

Sony A7 Series Full-Frame Mirrorless Cameras are here!

(O vídeo acima, da Sony, faz um tour pelas novas câmeras. Bacana para conhecer a interface, e ela parece mesmo bem arranjada, e ver o tamanho delas em situações reais, como quando segurada por uma pessoa. Várias dúvidas e características também são comentadas. Vídeo em inglês e sem legendas.)

As duas câmeras serão lançadas em dezembro, nos EUA. A Sony A7 será oferecida em dois pacotes, um só com o corpo, por US$ 1.699, outro em kit, com uma lente 28-70 mm F3.5-5.6 OSS, da própria Sony, por US$ 1.999.

A A7R sairá por US$ 2.299, sem kit com lente, apenas o corpo.

São câmeras caras, sim, mas a par e até mais baratas que as DSLRs com quem pretende disputar espaço, como Nikon D800 e Canon 6D. Se o futuro da fotografia profissional são câmeras compactas com sensores enormes, a Sony dá, com a A7 e principalmente a A7R, um passo firme na direção certa.


Para um hands-on que não chega a ser review, mas traz boas sacadas e impressões sobre as duas novas câmeras, leia o hands-on do DPReview (em inglês). No mesmo site, este post traz o press release e uma tabela com as especificações.

As redes sociais estão nos deixando mais solitários. Como resolver esse problema?

É bem provável que você já tenha se pego rolando páginas sem fim de redes sociais no computador ou celular em uma noite de sexta-feira. E o pior é que, por um bom momento, aquilo bastou. Mas cedo ou tarde a insatisfação ou o cansaço, o que veio primeiro, bateu forte e você foi para a cama dormir. Deprimido, provavelmente.

Gasta-se muito latim para tentar entender por que a tecnologia tem nos deixado mais tristes e solitários. Um dos trabalhos mais amplos no assunto é o livro Alone Together: Why We Expect More From Technology and Less from Each Other, da socióloga norte-americana Sherry Turkle.

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